O WhatsApp, aplicativo mais popular do Brasil, é inescapável. Os poucos que prefeririam não usá-lo, por qualquer motivo, se veem cada vez mais impossibilitados à medida que o app da Meta se transforma em uma espécie de utilitário, um pré-requisito para interações das mais diversas. Ao mesmo tempo, vem sendo desfigurado para abrigar novas funcionalidades que deixam seu uso mais difícil.

Durante muito tempo, eram poucos (e fracos) os argumentos contra o WhatsApp. A despeito das promessas quebradas e da expectativa de que em algum momento a Meta corromperia o app, ele funcionava bem, com melhorias tímidas e positivas desde a aquisição, a peso de ouro pela Meta, em 2014.

Demorou, mas não é mais o caso. O WhatsApp está se transformando em algo maior, mais pesado e complexo. Em mais uma rede social. Embora a ampliação do escopo traga benefícios, ela compromete valores que fizeram a fama do WhatsApp, em especial agilidade e simplicidade.

Novos recursos que aumentam a complexidade do WhatsApp, como as Comunidades e os Status (stories), são obrigatórios e impossíveis de serem desativados.

Os Status têm a agravante de consumirem dados, o que é complicado em um país que ainda sofre com planos móveis atrelados a franquias de dados limitadas.

Notei, usando a ferramenta de análise do próprio WhatsApp, que 28,6% do total de dados baixados por ele em dois anos foi por conta dos Status — uma funcionalidade que sequer uso. (O WhatsApp mostra essas estatísticas de dados em “Configurações”, “Armazenamento e dados”, “Uso de rede”.)

Daria para ser diferente. O Signal ganhou stories em novembro de 2022. Lá existe uma opção que, com um toque, desativa completamente esse recurso. É como se ele não existisse.

O único opcional do WhatsApp é o de pagamentos, porque precisa ser configurado antes do primeiro uso. E, ainda assim, mesmo inativo, um botão de “R$” ocupa precioso espaço ao lado do campo de digitação das mensagens.

Não há indícios de que a expansão do escopo do WhatsApp vá arrefecer. No início de maio, o app ganhou eventos em comunidades e grupos. Só falta o “cutucar” para o WhatsApp “virar um Facebook verde”, como disse um leitor.

O já citado Signal e outros aplicativos de mensagens, como Telegram e Element (Matrix), poderiam ser alternativas não fosse a hegemonia do WhatsApp e a falta de interoperabilidade entre eles.

Hoje, usa-se o WhatsApp para agendar consultas médicas, acionar profissionais liberais e lidar com serviços de atendimento ao consumidor. A Meta encontrou no B2C uma maneira de fazer dinheiro com seu aplicativo e, tão importante quanto, aumentar o chamado “efeito lock-in”, ou seja, prender as pessoas à plataforma.

Nem o governo resiste às facilidades do WhatsApp.

É tão certo que uma das primeiras coisas que alguém no Brasil faz com um celular novo seja instalar o WhatsApp que o Celular Seguro, serviço de proteção contra furtos e roubos de celulares do Ministério da Justiça e Segurança Pública, implementará o alerta pelo app quando um celular furtado/roubado for habilitado.

A escolha é justificável. No Piauí, referência no combate a esse tipo de crime, iniciativa similar aumentou a recuperação de celulares em 139%.

Entende-se, também, por que a Caixa gastará ~R$ 17 milhões por ano em um contrato com a Meta referente ao WhatsApp Business.