Os caixas eletrônicos (ATMs) estão em um processo de mudança no País com os grandes bancos reduzindo suas redes de autoatendimento e focando no atendimento ao cliente por meio de parceiros. De acordo com levantamento feito por Mobile Time, as cinco maiores instituições financeiras estão com redução contínua de sua rede, como pode ser visto nos relatórios financeiros do primeiro trimestre de 2024 das empresas.

  • O Itaú teve queda de 5% em um ano, de 43 mil para 41 mil – somando ATMs próprios e de terceiros;
  • O Bradesco reduziu 7%, de 46 mil para 43 mil máquinas. Se considerar apenas a rede própria, a redução foi de 16%, com 18,5 mil ATMs no primeiro trimestre de 2024 contra 21,5 mil de um ano antes. Os outros 24 mil caixas são da Rede24Horas;
  • O Santander diminuiu de 11 mil para 9 mil os seus caixas próprios, uma queda de 22% na comparação ano a ano. Assim como o Bradesco, o Santander usa os 24 mil caixas da Rede24Horas;
  • No Banco do Brasil caiu 5,5% a base de seus ATMs, de 56 mil para 53 mil na comparação ano a ano. Desses, 28 mil são da rede própria, um recuo de 7% contra 31 mil do primeiro trimestre de 2023. E o restante, 24 mil, é da Rede24Horas;
  • A rede própria da Caixa caiu de 26,5 mil para 26 mil, redução de 2%. A estatal também usa 24 mil caixas da Rede24Horas.

Motivos

Três fatores estão provocando mudanças no mercado de caixas eletrônicos, segundo Elias Rogério da Silva, presidente da Diebold Nixdorf no Brasil:

  1. A consolidação dos ATMs em redes externas aos bancos, como visto na primeira parte desta matéria;
  2. A atualização de caixas eletrônicos mais modernos e conectados com a necessidade dos consumidores;
  3. E o avanço das instalações de máquinas de autoatendimento por cooperativas de crédito e neobanks.

Redes de caixas

Como um dos players de rede externa de ATMs, Paulo César Pinheiro, CEO da Saque e Pague, afirmou que sua empresa antecipou o movimento de mudança dos grandes bancos com redução nos custos na cadeia de serviços e diminuiu a necessidade dos dispensers (os caixas eletrônicos mais tradicionais e analógicos).

“A redução de ATMs é uma tendência natural, e com isso o mercado se desafia e se transforma. Apesar do desafio de custos e de manter os serviços de um canal físico como os ATMs, que é nosso core business, ainda temos muita demanda represada, mesmo com o crescimento exponencial dos canais digitais. Vimos isso recentemente no Rio Grande do Sul durante as enchentes, e podemos validar essa necessidade ao analisar nossa base de transações de saque e depósito via Pix, que em sua maioria são realizadas por usuários de bancos digitais”, afirma Pinheiro.

Além dos concorrentes ocupando o espaço dos incumbentes, Pinheiro acredita que o varejista também se torna “um dos principais beneficiados”, pois os serviços de sangria (como saques) geram “redução de perdas e custos, além de melhorar os controles na gestão de numerário (do papel moeda)”, possibilitando inclusive a digitalização dos processos de frente de caixa.

“Portanto, a redução de ATMs é, na verdade, uma transformação do setor. Entendemos que é um cenário positivo, onde os clientes e os usuários do ecossistema ganham com a evolução desses canais, que hoje em dia oferecem muitos mais serviços”, afirma.

Ocupando espaços

Vinícius Gasparino, superintendente de CSC do Sicoob, afirma que a empresa está movimentando mais dinheiro e trazendo mais usuários para seus ATMs com opções simples como pagamentos de contas de serviços públicos e concessionárias. Mas a cooperativa também vem aumentando sua rede de caixas, seja “para ir ao interior e fazer a inclusão financeira”, mas também por “sermos uma instituição de relacionamento.”

“Nós gostamos e recebemos a pessoa dentro de uma dependência física do Sicoob. Nunca perdemos essa característica. Mas como estamos buscando ser mais conhecidos é importante essa presença física para conhecer a empresa”, diz Gasparino.

De acordo com o executivo, a Sicoob tem aproximadamente 8 mil caixas de autoatendimento. Com uma rede de postos de atendimento eletrônico (no lugar de agência, ATM e frente de caixa, a companhia oferece só o ATM), o superintendente conta que 47% das transações estão nos municípios com até 50 mil habitantes contra 17% das operações em municípios acima de 500 mil habitantes.

“Ou seja, é o interior que o meio circulante ainda é preponderante. Dos 2,4 mil municípios que estamos, 2 mil são de 50 mil habitantes”, explica o executivo da Sicoob, ao dizer que muitos caixas ficam em prefeituras ou sedes das cooperativas. “A principal justificativa para instalar (o ATM) é o local em que estamos e o movimento de papel-moeda e cheque – este ainda é a principal forma de pagamento no campo”, concluiu.

Dinheiro físico x digital

Dados sobre o dinheiro em circulação no país indicam que caixas eletrônicos ainda serão necessários por muito tempo. De acordo com dados do Banco Central, o volume atual de dinheiro em circulação é de R$ 337 bilhões, um aumento de 4,5% na comparação com os R$ 322 bilhões de junho de 2023.

“As pessoas pensam que o dinheiro vai acabar. Mas fazer transações com ou sem dinheiro não é uma questão tecnológica. Tecnologia não é inibidor. É um enabler. A questão cultural fala muito mais forte que a questão tecnológica. China e Índia são Cashless Society (sociedade sem dinheiro em papel, na tradução livre do inglês). Países desenvolvidos, como EUA e Alemanha (e até o Brasil) são Cash Society (sociedade baseada em transações com papel-moeda)”, diz Rogério da Silva. “Mais da metade da nossa população recebe o salário em cash. E a maioria dos consumidores preferem fazer as transações em dinheiro. Nós temos (historicamente) uma economia informal”, completa.

Imagem principal: Arte de Nik Neves para Mobile Time