Ao longo dos últimos dois anos a Samsung construiu a sua liderança mundial no mercado de telefonia celular. A empresa conseguiu mesclar o primeiro lugar em volume de vendas, tomando a posição que por muitos anos foi da Nokia, e a preferência dos formadores de opinião, que esteve nas mãos da Apple desde a chegada do primeiro iPhone. O ápice dessa boa fase da Samsung foi alcançado na noite da última quinta-feira, com a apresentação do Galaxy S 4 no Radio City Music Hall, em Nova Iorque. Arrisco dizer que foi o lançamento mais caro e sofisticado já feito de um telefone celular no mundo. A produção foi digna de um musical da Broadway, com orquestra ao vivo, cenário em movimento, diversas esquetes com atores para demonstrar as novas funcionalidades do aparelho, um mestre de cerimônias e uma plateia internacional com presidentes e diretores de empresas parceiras, cujas viagens e hospedagens foram oferecidas pela Samsung.Tudo isso transmitido ao vivo pela web para centenas de milhares de espectadores.
Nas semanas que antecederam essa apresentação, o S 4 fez o papel que foi do iPhone nos últimos anos: provocou muita especulação e rumores na imprensa sobre suas funcionalidades, enquanto a Samsung tentava guardar a sete chaves (ou não?) as especificações do aparelho. Algumas delas vazaram antes, como a rolagem com os olhos, adiantada pelo New York Times, o processador de 8 núcleos, divulgado pelo Gizmodo, e a presença de sensores de temperatura e umidade, orgulhosamente noticiada por MOBILE TIME. Ao contrário do iPhone 5, o S 4 atendeu às expectativas tanto do público sedento por novidades em hardware (primeiro octa-core, primeiro com 4G global em FDD e TDD) quanto daqueles que queriam novidades na interface e em software (tradutor instantâneo em nove línguas, comandos touchless, uso simultâneo das duas câmeras).
Agora que está no topo, o maior desafio da Samsung é manter-se lá. Não vai faltar gente tentando puxar o seu tapete. As dificuldades não se resumem aos concorrentes diretos, mas aos próprios parceiros. Fontes de operadoras e distribuidores estão incomodados com tamanha concentração de market share em um único fabricante. No Brasil, a participação da Samsung alcança níveis acima de 40% em alguns casos. Nos bastidores, fala-se em estimular outros competidores, principalmente LG e Sony, para equilibrar o mercado, tirando um pouco do poder dos sul-coreanos.
Mais do que isso, a Samsung precisará continuar sendo criativa e inovadora, evitando os erros cometidos pela Nokia e pela Apple quando estas tiveram a liderança (em volume e em preferência dos formadores de opinião, respectivamente). Afinal, a acomodação é uma tendência natural de quem chega ao topo.
Fora isso, a Samsung deve festejar o seu momento… e torcer para que a Coreia do Norte não faça loucuras. Seriam as ameaças recentes uma represália do líder norte-coreano por não ter sido convidado para a festa em Nova Iorque? Aconselho: no ano que vem, chamem o Kim Jong-un para o lançamento do Galaxy S 5. É com diplomacia que se sela a paz.