BYOD (Bring your oun device – ou "traga seu próprio dispositivo") e consumerização: são dois assuntos muito discutidos atualmente na área de tecnologia. O significado de ambos denota a preocupação com o movimento que se intensifica nas organizações, em que o funcionário leva os seus dispositivos móveis para o ambiente de trabalho e deles faz uso, para fins profissionais. No entanto, neste artigo irei, sim, falar de tablets e smartphones, mas a minha linha de raciocínio seguirá outro caminho: pretendo descortinar de que forma vamos conseguir agregar valor ao negócio das organizações, a partir desse novo meio de se executar aplicações: os dispositivos móveis.
Embora as empresas estejam em constante transformação, elas assentam o seu funcionamento em uma base flexível chamada "processos". Todo trabalho que se realiza dentro de uma empresa faz parte de algum processo. Muito bem, e o que os dispositivos móveis têm em comum com os processos? Eu diria que nada e tudo! Explico melhor. Se em um primeiro momento os usuários empregam seus dispositivos para se comunicarem com os amigos, tirar fotos, ouvir música, nenhuma dessas atividades está ligada com um processo empresarial. Assim, eles não têm nada em comum com os processos empresariais. Agora, se um gerente usa o seu dispositivo para aprovar um pedido de férias, aí tem tudo a ver.
Os smartphones e os tablets chegaram ao mercado com uma proposta tímida, desprovida de grandes ambições, principalmente dentro do âmbito empresarial, e, no entanto, aos poucos, eles estão crescendo, não somente em quantidade como também em utilidade. As pesquisas do Gartner indicam que em breve a quantidade de dispositivos móveis deve se equiparar ao número de habitantes no planeta: sete bilhões. É um número expressivo que se torna mais contundente ao sabermos que ele cresce quase 20% ao ano, no mundo, segunda a mesma pesquisa. Assim como a internet, criada para facilitar a comunicação dos cientistas à longa distância, de repente se tornou depois de tantos anos, a maior revolução da comunicação da humanidade (feito comparável à invenção da Prensa, no século XV, por Gutenberg), os dispositivos móveis, timidamente no começo, aceleradamente agora, se elevam à categoria de um instrumento eficaz na gestão das empresas.
Por que e como isso ocorre? Aqui recorro novamente ao passado para entender as razões dessa tendência. Observa-se que a evolução das comunicações, juntamente com a internet, possibilitou que as pessoas tivessem acesso a aplicações escritas em qualquer lugar do mundo. Os consumidores compram livros pela Amazon, estudantes fazem pesquisa através do Google, amigos trocam mensagens e imagens pelo Instagram e clientes transferem dinheiro e pagam contas através do internet banking, sem se deslocar até seu banco. Essas transações até bem pouco tempo eram operadas a partir de uma estação de trabalho, um micro, um notebook. De repente os desenvolvedores perguntaram a si mesmos “por que não podemos fazer essas coisas a partir de um dispositivo? Visto que eles são bem mais amigáveis, mais fáceis de usar e estão comigo a todo o momento, em todo lugar”. Pronto, a resposta foi dada: sim, é possível. O poder de processamento de um aparelho móvel cresce e tem crescido, incluindo o seu sistema operacional, seja o Andoid, o iOS, ou mesmo o Windows 8. Desse modo, os fabricantes de soluções estão correndo atrás dessas mudanças. De acordo com uma das orientações que o Gartner fez por ocasião do evento de tecnologia de 2012, se você for desenvolver uma aplicação, mire o projeto para que ela funcione primeiramente em um dispositivo móvel, depois, pense no desktop.
Mas, quais são os desafios para se desenvolver aplicativos para os dispositivos móveis? Inúmeros e complexos. Pode-se classificá-los em pelo menos três vertentes:
1. Gestão das soluções: Quais as atividades a serem criadas para atender os clientes, aquelas que, de fato, vão agregar valor aos processos das empresas?
2. Gestão de Políticas: Como prover a segurança necessária para que pessoas não autorizadas não tenham acesso aos dados da empresa? Como evitar que os funcionários levem informações sigilosas para fora da empresa? E por aí vai.
3. Gestão de Suporte: Se um dispositivo apresentar problema de funcionamento quem vai oferecer suporte?
Dentro dessas vertentes, eu não levo em consideração os problemas relacionados com a nossa legislação trabalhista, mas é uma questão aberta e que será objeto de discussões. Veja só: vamos supor que um funcionário seja pago para exercer suas atividades dentro do seu horário de trabalho, e, no entanto, caso ele as execute fora do expediente, provavelmente deverá receber pelas horas extras. Agora, se for um gerente, alguém que exerça um cargo de confiança, provavelmente isso não será objeto de contestação, ou será? Outra situação: se o funcionário abrir sua caixa de correspondência, ler e enviar mensagens relacionadas à sua função, essa ação denota que ele está trabalhando? Concluo que as mudanças oriundas desse novo modelo de trabalho devem envolver questões de segurança, éticas e jurídicas para as quais ainda não temos respostas.
É possível analisar as funcionalidades ou serviços das aplicações da área de pessoal e classificá-los em dois tipos distintos, a serem oferecidos e disponibilizados para dispositivos móveis:
a. Funcionalidades de uso pessoal.
b. Funcionalidades de uso empresarial.
Se um funcionário consulta seu recibo através do celular, ou caso ele imprima seu comprovante de rendimentos, em qualquer momento, esteja ele onde estiver, esses são serviços de uso pessoal. No entanto, se um funcionário ou gestor, analisa indicadores, toma medidas como deferir um pedido de aumento de quadro, cadastrar informações que são atividades inerentes a um processo qualquer, então ele está lançando mão de funcionalidades de negócio, ou empresariais. Num primeiro momento, os fornecedores de aplicações devem buscar a oferta de serviços pessoais e, em seguida, os serviços de negócio devem ser atacados.
Portanto a questão mais importante que surge para as empresas é a seguinte: quais são os serviços que devo disponibilizar nos dispositivos móveis que agregam valor aos processos? Claro, devem ser aqueles que poderiam vir a ser executados fora da organização, sem que o usuário tenha sua estação de trabalho por perto. O fato é que os administradores devem estar preparados para abandonar hábitos antigos e inventar uma empresa nova, baseada em novas tecnologias que contribuam para a interação entre os seus funcionários, clientes e fornecedores. O certo é que as mudanças que estão surgindo com os dispositivos móveis, imagino, na sua fase embrionária, nos impelem a aperfeiçoar sistematicamente os processos de trabalho, explorando novas maneiras de oferecer novos serviços aos clientes e, principalmente, de inovar.
Provavelmente, as empresas vão conseguir aproveitar melhor essas tecnologias, na medida em que elas se desvincularem dos seus processos atuais, no sentido de como eles são executados, e passarem a rever os mesmos sob uma nova perspectiva. Ou seja, elas podem e devem redesenhar os processos a partir do emprego maciço das novidades que estão aí, para quem quiser delas se aproveitar.