Durante os últimos meses temos lido diversas matérias conjeturando como seria o novo smartphone do Facebook. E tivemos duas fases de adivinhações. A primeira foi sobre o hardware: uma frente dizia que seria um smartphone de entrada, para popularizar o uso, e outra que o Facebook investiria num hardware mais "pesado", vindo a concorrer com iPhones e Galaxys da vida. Na segunda fase das adivinhações, o assunto era sobre o software, onde muitos disseram que o Facebook viria com um novo sistema operacional, baseado no Android, e outros diziam que, inspirado pelo Firefox, traria um novo sistema operacional, todo integrado à rede social.

Eis que na quinta-feira, 4 de abril, todos os que imaginaram as situações acima foram surpreendidos. O Facebook Home é "apenas" um aplicativo que modifica e integra a interface do celular Android à sua conta no Facebook.

Por que o Facebook não criou um aparelho? Um concorrente do iPhone?
Porque não criaram um sistema operacional totalmente integrado pra competir com os grandões?
O que o Facebook fez foi muito mais inteligente que isso: ele arrumou um jeito de colocar anúncios direto no seu bolso sem precisar investir bilhões para criar um sistema operacional ou um smartphone! E de acordo com a própria equipe do Facebook, você poderá ser impactado por anúncios sem nem mesmo precisar fazer o unlock.

Para quê criar um sistema operacional do zero se eu posso pegar carona nos milhões de usuários Android que brotam todos os dias das operadoras? É muito melhor: é muito mais barato, e muito mais inteligente.

É uma jogada excelente para o Facebook. É bom para a HTC, que vai pegar carona. É bom para o Android que por enquanto é exclusivo. Só não é bom para o Google. Explico: com a personalização praticamente completa do Android, os outros aplicativos ficam de certa forma escondidos, não tanto na cara como ficam no Android. Já dá para imaginar a relevância que o Facebook Home dará ao Google+, né? Zero.

O Facebook tem quase 1 bilhão de usuários. Ele sabe o que você come, com quem você sai, do que gosta, o que veste, e por aí vai. Mais da metade dos acessos à rede social já são feitos via aparelhos móveis, e criar o Home permitirá ao Facebook oferecer dados mais completos sobre os usuários e extremamente valiosos para anunciantes quando combinados com informações locais, geolocalizadas.

Um recente estudo da IDC entrevistou mais de 7.400 pessoas, de 18 a 44 anos, e revelou que 79% deles já estão com celular em mãos após 15 minutos de terem acordado. E tem mais: 62% dos entrevistados já acordam com o celular em mãos. Impressionante, né? Se fecharmos ainda mais a faixa etária, analisando as respostas de 18 a 24 anos, vemos que 89% deles já estão com celular em mãos 15 minutos após acordar, e 74% já acordam com ele. Uma grande faixa da população mundial hoje em dia tem um nível de intimidade único e sem precedentes com seu smartphone.

Na visão do marketing é um excelente negócio para o Facebook e para seus anunciantes, pois além de brigar com o Google pela fatia da mídia digital, o grandão azul oferecerá informações quentes e relevantes dos usuários para marcas que queiram levar a conversa pro nível local, com ofertas, cupons, anúncios e tudo mais. Uma pesquisa sobre mobile search feita pelo Google mostrou que 45% das buscas feitas pelo celular são orientadas a algum objetivo, ou seja, ajudam na tomada de decisão imediata, e quando analisamos só as buscas feitas dentro de estabelecimentos, esse percentual sobe para 64%.

Para uma marca, pode entregar conteúdo relevante nesse momento de busca, de tomada de decisão, não tem preço! Pensando na prática é a oportunidade de uma marca de tênis, por exemplo, oferecer uma promoção ou cupom de oferta na mesma hora que seu cliente está conversando com algum amigo no chat sobre qual tênis comprar para correr porque não consegue escolher um na loja que está.

Por isso todos nós podemos esperar muita propaganda do HTC First e principalmente do Facebook Home. Ambas as empresas, a meu ver, não irão medir esforços para que isso seja um sucesso, que acredito que será. Logicamente, se compararmos as funções de localização, de fotos ou de updates de status sozinhos, apontaremos outros melhores que o Home, mas em questão de conectar as pessoas, essa solução do Facebook (contando com suas posteriores atualizações) parece ser imbatível.

E para finalizar, fica uma pergunta: se o Facebook e o Google não se dão bem, e o Facebook usa o Bing para suas buscas dentro da rede, será que vamos ver futuramente o Bing como mecanismo de busca oficial do Home dentro do Android?

 

 

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