As operadoras móveis estão dispostas a recuperar a relação que tinham com seus assinantes nos tempos pré-iPhone. E um dos caminhos é lançando suas lojas próprias de aplicativos e de jogos móveis, pré-embarcadas em seus telefones. Nesse cenário, a agregadora de conteúdo móvel PlayPhone planeja desempenhar um papel de liderança, oferecendo sua plataforma de jogos sociais (PlayPhone Social Gaming Network) para servir de base às lojas das teles. O primeiro contrato foi assinado com a norte-americana Verizon e resultou no lançamento há um mês da Games Portal, uma loja própria de jogos cujo ícone vem embarcado em todos os aparelhos Android da operadora a partir de agora. O catálogo inicial tem 500 títulos e vem crescendo a um ritmo de 50 novos games por mês. Recentemente, firmou contrato de parceria também com a Claro para o lançamento da Ideias Social Games.
Para as teles, é uma oportunidade de voltar a conhecer seus próprios usuários, já que nos jogos da PlayPhone os usuários são estimulados a interagir com seus amigos no ambiente dos games. Isso sem falar na receita gerada diretamente pelos jogos, via download pago ou vendas in-app, tudo com cobrança pela conta telefônica. Para os desenvolvedores que se associam à plataforma, a vantagem está no uso do carrier billing, que costuma gerar mais receita que a venda através de cartão de crédito. Gigantes como EA aderiram. A integração com o billing da operadora permite que o cliente realize compras com um único clique na tela do jogo.
A PlayPhone sonha em se tornar uma plataforma mundial de games para as operadoras. A meta é dentro de dois anos atender de 15 a 20 teles que somem 1 bilhão de assinantes. MOBILE TIME conversou com Ron Czerny, CEO da PlayPhone, sobre os planos da empresa.
MOBILE TIME – A PlayPhone vai montar a loja de games de outras operadoras além da Verizon e da Claro?
Ron Czerny – Estamos negociando com várias teles, mas por contrato não posso revelar nomes. Até o fim do ano estaremos comercialmente operando em cinco teles que correspondem a 600 a 700 milhões de assinantes (incluindo Claro e Verizon).
As teles estão tentando reverter a perda que tiveram para as lojas de aplicativos de terceiros?
As teles tinham domínio de 100% (do mercado de conteúdo móvel) até o iPhone aparecer com um contêiner próprio da Apple. Depois veio o Android com o mesmo modelo de negócios. Agora, as operadoras de países desenvolvidos querem recuperar parte do market share e recuperar as informações sobre o seu usuário. Hoje elas não sabem do que seu assinante gosta ou não gosta, o que torna difícil até decidir em quais modelos de telefone investir. A Verizon é conhecida como a operadora mais avançada em inovação e agora traz esse modelo novo de negócios. A Verizon vai começar por games para ser competitiva com a Google Play. A Claro começou com modelo mais cauteloso, porém, já aprovou a fase 2, que consiste em ter um contêiner próprio. Quando eu digo que é para competir com a Google Play, não é algo ruim. As lojas vão coexistir. Vai ter Google Play para todos os apps e a PlayPhone Social Game Store especificamente para games.
Quantos downloads de games já foram feitos através da plataforma de games da PlayPhone, somando Claro e Verizon?
Não acompanho o número de downloads. Temos 3 milhões de usuários ativos mensais. E é só o começo.
Pelo que vi, a maioria dos jogos em seu catálogo trabalha com o modelo freemium… Há algum gratuito baseado em publicidade?
Só aceitamos jogos premium (em que se paga por download) ou freemium (gratuito, mas com vendas in-app). Não vamos lançar jogos 100% gratuitos.
Uma das razões para a App Store ter feito tanto sucesso foi a adoção de uma divisão de receita mais vantajosa para os desenvolvedores, que passaram a ficar com 70% das vendas. Na era do chamado "walled garden" das operadoras, estas ficavam com no mínimo 50% do faturamento, às vezes 75%. Como é a divisão na loja da PlayPhone?
No modelo de plataforma vertical com contêiner, a Verizon paga direto ao desenvolvedor os mesmos 70% que Google e Apple pagam. E a PlayPhone recebe parte dos 30% da Verizon. Isso é uma grande mudança em conceito. A operadora divide com a gente, sem pegar do desenvolvedor.
Como é o processo de submissão e disponibilização de um jogo em seu catálogo?
Ainda é um processo lento. Leva cerca de uma semana. Hoje lançamos 50 jogos por mês. Mas queremos aumentar para 100 a 150 por mês em um futuro próximo.
Qual é o objetivo da PlayPhone para os próximos anos?
Queremos ser a maior rede mundial de jogos sociais em parceria com as operadoras, a partir do pré-embarque da loja nos devices. Se tivermos 15 ou 20 operadoras que incluam esse produto como canal exclusivo para sua venda de games, teremos em dois anos uma base de 1 bilhão de usuários.
1 bilhão de usuários da loja da PlayPhone?
Não. Esta será a soma de assinantes das operadoras parceiras. Na Verizon, a cada três anos há rotatividade total da base de terminais. Então, em algum momento, 100% da base Android da operadora terá a nossa plataforma instalada.
A PlayPhone investe em marketing para divulgar sua loja ou deixa a cargo das operadoras?
Temos uma verba de marketing para difundir o conceito de social game store, mais voltado às operadoras. A publicidade para usuário final fazemos em parceria com as teles. Na campanha do HTC One da Verizon, houve foco no portal de games.
A Playphone ainda tem jogos na Google Play. A empresa pretende em algum momento retirar seus títulos de lá?
Sim, vamos sair da Google Play. Não faz mais sentido estar lá. Não vai demorar muito, mas não temos uma data definida. Hoje temos apenas 100 jogos na Google Play.
A receita através das lojas das operadoras já superou aquela da Google Play para PlayPhone?
Sim. A receita com carrier billing é muito maior do que a que temos na Google Play. Mais de 80% não vem da Google Play.
De quanto é a receita da PlayPhone com sua loja de games?
A PlayPhone Social Gaming Network foi lançada em agosto de 2012. Tivemos receita bruta de US$ 15 milhões em 2012. E este ano esperamos ter receita bruta de US$ 50 milhões. No ano passado, antes do acordo com a Verizon, tínhamos lançado carrier billing em algumas teles para teste.
Pretendem trabalhar com outros sistemas operacionais além de Android?
Nossa plataforma é 80% focada em Android. Mas fizemos versão em HTML5 para atender a iPhone e a outros sistemas.