O mercado não reagiu bem ao lançamento dos dois modelos de iPhone na última terça-feira, 10. O motivo: a Apple não só foi previsível em relação aos rumores, como não apresentou nenhum grande elemento aos aparelhos. No caso do iPhone 5C, que é basicamente idêntico em especificações ao finado iPhone 5, o problema foi o preço. Por US$ 550 sem contrato, o aparelho ainda é caro em comparação com Androids populares em mercados em desenvolvimento, como China e Brasil. Já o modelo 5S falhou ao incluir apenas um processador mais poderoso e um leitor de digitais, além da obrigatória melhoria sutil na câmera.
A grande novidade dos dois aparelhos é mesmo o iOS 7, que muda completamente o visual em relação à atual versão e adiciona alguns features úteis, como o atalho para ajustes acionado com o deslizar do dedo de baixo para cima. Mas isso estará disponível gratuitamente para todo os usuários de iPhones (além de iPod touch e iPad) antigos, com a maioria dos recursos, ou pelo menos os mais relevantes. Então, o que teve de tão inovador nos novos hardwares?
A começar, o iPhone 5S agora tem processador A7. Sim, ele é mais poderoso, mas adiciona a arquitetura de 64 bits que a Apple diz ser semelhante à de um desktop. Na prática, os desenvolvedores terão que adaptar aplicativos para rodar nessa arquitetura, o que a gigante de Cupertino jura que é uma tarefa simples. Acontece que ela falou a mesma coisa na época da mudança de proporção da tela de 4 polegadas do iPhone 5, e muitos desenvolvedores estão, até hoje, precisando adaptar seus programas para o formato. O perigo é que, com a arquitetura de 64 bits diferenciando aplicativos na App Store, haja uma segmentação semelhante ao presenciado com o Windows, da Microsoft. Muitos usuários sequer sabem se seu sistema é 32 bits ou não, e instalar programas não otimizados acaba por prejudicar a performance.
Outro problema é o leitor de digitais. O sensor promete uma resolução de 500 ppi, com possibilidade de leitura em qualquer direção. Em um vídeo de hands-on do site Engadget, por algumas vezes o dispositivo não fez a leitura adequada, fazendo com que acionasse o recurso de assistência por voz por engano. No uso diário, pode ser algo irritante se não funcionar bem.
Outra decepção: contrário ao apresentado com a nova linha de Macs, os novos iPhones não são compatíveis com o novo padrão de Wi-Fi 802.11 ac, que permite maior velocidade. Seria de se esperar que a Apple ajudasse a promover o novo padrão wireless, já que renovou sua linha de roteadores.
No frigir dos ovos, o que parece é que a Apple não traz novidades realmente impactantes ao iPhone, tanto em design quanto em recursos, desde o quarto modelo, em 2010. Essencialmente, as versões seguintes foram meras atualizações com pouca diferença em relação ao modelo imediatamente anterior. Sorte da empresa é que há uma base de usuários fiel à marca, mas a migração para aparelhos Android top de linha, com mais recursos e mais opções de telas, parece ser inevitável. E na competição entre modelos mais básicos, o iPhone 5C não possui preço competitivo para mercados como a China, Rússia e o Brasil. Pode ser cedo para afirmar algo, mas, em médio prazo, a Maçã californiana vai acabar sentindo o efeito da falta de inovação. Para a alegria dos sul-coreanos da LG e da Samsung.