No futuro, a poluição visual nas grandes cidades será coisa da sua cabeça… literalmente. Com o advento de óculos conectados, como o Google Glass, o CEO da Flurry, Simon Khalaf, prevê que os outdoors deixarão de ser reais e se transformarão virtuais: só serão vistos por quem vestir os óculos. E os anúncios, claro, serão personalizados. Em entrevista exclusiva para MOBILE TIME, o executivo discutiu o mercado de apps e de publicidade para wearable devices. E garantiu que a Flurry pretende monitorar esse ecossistema. Atualmente, a empresa analisa mensalmente dados coletados de 400 mil apps diferentes instalados em 1,2 bilhão de smartphones no mundo.

MOBILE TIME – Na sua opinião, os wearable devices abrem um novo mercado para desenvolvedores móveis?

Simon Khalaf – Sim. Mas vale lembrar que o telefone em si é um wearable device, embora não esteja acoplado ao corpo humano. Nossos dados sugerem que o telefone não se distancia muito do corpo humano ao longo do dia, então pode ser considerado um acessório de vestir.

Mas acredita que haverá um ecossistema novo de apps para wearable devices, como relógios e óculos conectados?

Hoje já vemos uma diferença entre apps para tablets e para smartphones. Isso sugere que os wearable devices vão introduzir uma nova dimensão para os desenvolvedores pensarem. Os apps serão diferentes dependendo do device, seja um óculos ou um relógio. Há muitos apps para saúde e bem-estar que serão adaptados para as pulseiras. Apps que monitoram sinais vitais do corpo humano terão espaço nos relógios, enquanto realidade aumentada, navegação e redes sociais vão fazer sucesso nos óculos.

Haverá novas lojas de aplicativos dedicadas a títulos para acessórios específicos?

Sim, tal como já acontece entre tablets e smartphones. Haverá seções separadas para determinados acessórios.

Que tipo de aplicação você imagina se popularizando no Google Glass?

As maiores aplicações para o Google Glass serão aquelas de mapas e navegação. E também apps de shopping. Ele é um acessório com habilidade de reconhecer o ambiente e te guiar de um lado ao outro. Em um shopping, pode escanear o código de barras de produtos e dar sugestões de compra ou simplesmente comparar preços. E não tenho dúvidas que apps de redes sociais vão se tornar populares no Google Glass, que servirá para gerar conteúdo, como fotos e vídeos. Não será ridículo tirar fotos com óculos, mas com um relógio sim. Apps como Instagram, Line, WeChat e Kakao migrarão facilmente para os óculos, enquanto aqueles de previsão do tempo, m-health e bem-estar vão migrar para os relógios. Vejo o mercado de apps para relógios e óculos como uma oportunidade real desde já.

E há também potencial para aplicações de nicho em certas verticais, como uso militar e suporte a consumidores. Penso em aplicações em que você precise ser assistido. Imagine se um atendente de call center puder ver o que você está vendo? Será muito mais fácil, por exemplo, auxiliar a montagem de um móvel da Ikea ou consertar um eletroeletrônico.

Em países emergentes como o Brasil, onde há problemas relacionados à segurança, o medo de assaltos pode retardar a adoção desses aparelhos?

Os óculos vão demandar prescrições médicas, por conta do grau*, então não serão um alvo comum de roubo. Quando penso em segurança para wearable devices, me preocupa mais a questão de invasão de hackers.

*Nota do editor: Os óculos do Google no momento não têm grau, mas a empresa trabalha em uma nova versão com grau.

Teve a chance de testar o Google Glass? O que achou?

Testei, mas gera muita distração. As pessoas reparavam em mim. Eu não sabia se estavam olhando para mim por causa do Google Glass ou porque eu estava me movimentando de forma estranha, pois o seu corpo reage diferente.

Falta muito para esses aparelhos se tornarem produtos de massa?

O primeiro wearable foi o Sony Walkman, que botou música no corpo humano. Demorou 15 anos para sairmos do Walkman e adotarmos o iPod. Depois, sete anos do iPod para o iPhone. E dois anos e meio entre iPhone e tablet. Isso sugere que estamos a 18 meses da adoção em massa dos wearable devices. O grande desafio hoje é o preço. US$ 1 mil é muito caro para os óculos. E nada justifica pagar mais caro por um relógio que para um iPod. Se custar até US$ 100, ok.

Haverá espaço para publicidade dentro desses acessórios?

Claro que sim. Mas será uma publicidade diferente. No relógio talvez seja um anúncio sonoro. Para o Google Glass, realidade aumentada, com outdoors virtuais baseados em localização e com anúncios personalizados dependendo de quem olha para eles. Também há oportunidades de product placement personalizado, dentro de ambientes fechados. Há várias alternativas sem ser invasivo.

Que modelos de negócios farão mais sentido para conteúdo em wearable devices?

Haverá todas as formas de modelos de negócios que já existem hoje. Em saúde será mais assinatura. Em jogos, vendas de itens virtuais e publicidade, por exemplo.

A Flurry pretende monitorar apps de wearable devices no futuro?

Sim. Vamos monitorar e medir apps onde quer que eles estejam.

Simon Khalaf, da Flurry

 

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