Há 1 milhão de motoboys no Brasil, metade deles no estado de São Paulo. Recentemente, a atividade foi regularizada na capital paulista e agora as motos usadas para entregas precisam adotar placas de cor vermelha e seus motoristas devem passar por um curso de capacitação no Detran para exercer legalmente a profissão. É nesse contexto que nasceu em outubro, em São Paulo, o Loggi, serviço online de logística urbana. Inicialmente são usados motoboys regularizados, mas o plano é incluir no futuro outros meios de transporte, como bicicletas e vans.
"O Brasil tem um problema de logística em razão da falta de investimento em infraestrutura nos últimos 40 anos. Nossa missão não é ser uma empresa de motoboys online, mas de logística urbana cuja diferença estará na qualidade do serviço, na experiência do consumidor", diz o CEO da Loggi, Fabien Mendez. O executivo ressalta que foi uma escolha proposital não associar o logotipo e nem o nome da empresa a motocicletas – o símbolo é um coelho. No futuro, serão oferecidas entregas com bicicletas, para distâncias menores e sem tanta pressa, e vans, para volumes maiores, especialmente para clientes corporativos de e-commerce.
O serviço por enquanto está limitado à Grande São Paulo, mas chegará a outras cidades no primeiro trimestre de 2014, incluindo o Rio de Janeiro. A contratação hoje é feita pelo site da Loggi e dentro de alguns meses poderá ser acontecer através de um app para Android e iOS. O consumidor informa o local de coleta e os pontos de entrega e o sistema calcula o valor e o tempo previsto para a realização do serviço. É escolhido automaticamente o motoboy disponível mais próximo, dentre os cadastrados na Loggi. Os motoboys usam um aplicativo em seus smartphones para serem localizados e receberem as ordens de serviço. O cliente pode acompanhar pelo site o deslocamento da moto. A cada ponto de entrega, o motoboy marca no app o check in e o check out, cujos horários ficam gravados no site, para verificação pelo cliente. Em algumas empresas tradicionais de entrega, o cliente precisaria ligar para uma central telefônica, cujo atendente, por sua vez, ligaria para o motoboy, que precisaria parar sua moto para atender. "É um processo completamente ineficiente", compara Mendez.
Os motoboys não são funcionários da Loggi, mas profissionais independentes. Para se cadastrar, precisam estar regularizados na prefeitura. Uma vez aprovados, recebem um kit de boas vindas, que inclui um carregador de celular para motos e um suporte para prender o telefone no veículo, além de adesivos de identificação da Loggi. Por cada entrega, recebem entre 75% e 95% do valor pago pelo cliente final. Em outras empresas essa participação é de 40% a 50%, segundo Mendez.
Tecnologia
Toda a tecnologia por trás do serviço, incluindo o algoritmo de precificação, foi desenvolvido internamente pela Loggi. "A tecnologia é nosso principal ativo", argumenta o CEO. Ele explica que o desenvolvimento é 100% nacional e que foi preciso criar um sistema completamente novo, pois não há nada parecido em outros mercados. Ele discorda da comparação com os apps de táxi. "A essência de transportar bens ou documentos não tem nada a ver com transportar pessoas. São negócios e fluxos diferentes. No app de taxi, o papel do app termina depois que o carro chega. No caso de um motoboy, muitas vezes são vários pontos de entrega e é necessário trazer protocolos de volta. O roteiro é mais complexo, o que torna a precificação também mais complexa", explica.
Investimento e expansão
A Loggi tem entre seus investidores iniciais Kees Koolen, COO da Uber e chairman da Booking.com, e Nicolas Gautier, da Bolt Ventures. A empresa levantou R$ 2 milhões em aportes para começar sua operação.
Mendez prefere não divulgar as projeções para o primeiro ano de funcionamento do serviço. A longo prazo, os planos são ambiciosos e não se limitam ao Brasil. Ele acredita que o serviço poderá ser exportado para outros países. "Este é um dos poucos negócios em que há uma vantagem competitiva de se lançar primeiro no Brasil", afirma, levando em consideração o tamanho e os desafios do mercado nacional.