A computação móvel está causando uma revolução na vida das pessoas, ela cria uma série de oportunidades de negócios para todos os segmentos de mercado. Alguns, inclusive, estão mudando em função dessa revolução tecnológica. Existem
ainda novos mercados surgindo em função deste movimento.

Dentre todos os efeitos relacionados à popularização da computação móvel, o que demanda mais atenção de empresas de todos os mercados é a mudança de hábito que ela pode causar na vida das pessoas. A geração de novas experiências, mais ricas e encantadoras, em atividades que já eram feitas anteriormente sem tanta atratividade, tem colocado em risco negócios sólidos e, até então, longevos.

Poderíamos citar recentes mudanças de hábito proporcionadas pela revolução digital, que mudaram a cara de alguns mercados. No mercado da fotografia, imperadores dessa indústria foram extintos com a digitalização das fotos: eles não reagiram a tempo e hoje este segmento é dominado por empresas de tecnologia.

No ramo da música, a indústria fonográfica reagiu ainda que de maneira tardia, e conseguiu salvar uma parte do negócio, o controle dos direitos autorais, mas o segmento de mídias e distribuição foi tomado e repaginado por empresas de
computação.

Notamos um segundo movimento, no qual está se consolidando a convergência de tecnologias de conectividade, aúdio, foto e vídeo digitais em um mesmo dispositivo. Os MP3 players e as câmeras digitais estão perdendo espaço para os smartphones. O consumidor comprova, por suas ações, que migrar para uma nova tecnologia é basicamente o resultado natural da sua busca por experiências que resultem em um maior significado ou valor para si.

Algumas empresas, que conseguem enxergar os riscos de uma revolução tecnológica, se preparam com antecedência. Notamos o exemplo da Nike, que percebeu a ameaça da computação móvel sobre o seu mercado e contra-atacou. Os últimos investimentos da gigante dos esportes na construção de tecnologias de computação móvel comprovam a tese de que ela está silenciosamente se tornando uma empresa fornecedora de tecnologia, para preservar a sua missão e proposta de valor.

As empresas de tecnologia continuarão a avançar sobre outros mercados. Certamente, a solidez e complexidade da indústria financeira atrasou esse ataque, mas ele está chegando e dá fortes sinais de que empresas de tecnologia tentarão
fazer o papel dos bancos, corretoras, seguradoras, dentre outros segmentos da indústria. Além de casos mais antigos como a PayPal, que se tornou uma potência mundial de pagamentos, temos atualmente os três mais fortes nomes, dentre as maiores empresas de tecnologia do planeta, trabalhando em soluções de serviços financeiros móveis, que chegarão às mãos dos consumidores dentro de alguns meses.

O movimento começou de forma suave com o Google, e a simplicidade simpática da Google Wallet, mas agora notamos sinais bem mais evidentes de que teremos uma grande disputa. Os recentes registros de patentes, aquisições bilionárias e
contratações, que a Apple e o Facebook estão promovendo, apontam para uma futura oferta de serviços financeiros que, em virtude das características inovadoras que essas empresas já imprimiram em outros mercados, tendem a mudar o hábito de consumo de alguns serviços que hoje são oferecidos por bancos.

As mobile wallets estão passando por uma mutação conceitual. Inicialmente concebidas com a função exclusiva de meio de pagamento, agora elas começam a receber funções adicionais, que as tornam cada vez mais parecidas com as carteiras
que carregamos em nosso bolso. O fato é que não carregamos apenas meios de pagamento (dinheiro, cartões e cheques) em nossas carteiras físicas, mas também documentos de identificação pessoal e profissional, cartões de fidelidade, cartões de visita, recibos, dentre outros itens que variam conforme o costume e as necessidades de cada pessoa.

Diante do cenário exposto, um novo segmento está sendo fomentado pelas mobile wallets, e ele tem forte ligação com a proposta de valor apresentada pelos bancos: é o que chamo de "mTrust". O termo é uma proposição que engloba soluções
de validação e autenticação através do uso de dispositivos de computação móvel. Neste mercado, alguns players já começam a surgir, como o caso da empresa irlandesa Trustev. Podemos imaginar que emitir e verificar a autenticidade de
documentos de maneira eletrônica ganhará uma força enorme com a chegada das tecnologias móveis para a validação destes documentos, e que possuir uma marca confiável por trás destes serviços é chave para o sucesso.

Quando falamos de validação e autenticação de documentos, a primeira coisa que lembramos é o uso de certificação digital, e de fato ela não deixa de existir com a chegada de tecnologias de mTrust. A certificação de digital continuará a ser o meio de proteger as informações, garantindo a integridade dos dados da origem até o seu destinatário. Mas a simplicidade da experiência de uso das tecnologias de computação móvel vão catalisar o nascimento e a consolidação de serviços de identificação pessoal e profissional, para as finalidades mais diversas, que vão desde a permissão de acesso a um determinado local ou recurso, até a autorização para a realização de uma transação financeira, por exemplo.

Outro modelo de negócios que precisará ser revisitado com urgência pelos bancos é o que entendíamos até pouco tempo como e-commerce. A mobilidade está promovendo uma variação no comércio eletrônico tradicional, criando um mercado denominado mCommerce, que possui características ímpares e precisa ser tratado considerando suas especificidades.

Para alavancar negócios no segmento de mCommerce, os bancos precisarão criar serviços baseados em padrões abertos e tecnologias de implementação rápida, as chamadas APIs (de Application Programming Interface), para que os desenvolvedores possam integrar os meios de pagamentos oferecidos pelos bancos em serviços criados para dispositivos móveis. Podemos citar como exemplo da necessidade destes serviços, o caso do pagamento de corridas de táxi por meio de aplicativos, que já é uma realidade nas grandes capitais brasileiras.

Para apimentar um pouco mais, quero deixar um ponto de observação, diante do barulho que o Bitcoin tem causado no mercado. Com base no que já foi dito neste artigo, vou sugerir que faça a seguinte analogia para entender o que as criptomoedas, ou moedas virtuais, podem representar para a indústria financeira: coloque o Bitcoin para o dinheiro, como o conhecemos hoje, assim como há 15 anos estava o MP3 para a música, como ela era naquela época. O MP3 era “underground” como o Bitcoin; o MP3 era uma aposta como o Bitcoin; o MP3 dava mais liberdade aos seus usuários como o Bitcoin. Agora vejamos quem apostou pesado no MP3 (vide Apple, com iPod e iTunes) e conclua por si mesmo sobre a relevância que o Bitcoin tem para o mercado financeiro e as oportunidades que podem estar associadas a isto.

A dúvida, que ainda não conseguimos responder com segurança, é se os bancos vão colocar em risco todo legado que possuem, literalmente pagando para ver, ou se vão seguir o exemplo da Nike e contra-atacar. Pois só assumindo um papel efetivo de fornecedor de tecnologia financeira, adotando uma mudança de cultura e promovendo uma quebra de paradigmas, é que os bancos vão garantir que as suas propostas de valor continuem a chegar aos seus consumidores, em um mundo movido por tecnologias computacionais.

 

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