Quatro meses atrás, o Google anunciou o lançamento da Android Wear, versão do seu sistema operacional voltada para acessórios inteligentes para vestir, tais como relógios e pulseiras. Aos poucos, os primeiros apps para essa plataforma estão aparecendo na Google Play. Levantamento feito por MOBILE TIME indica a existência de cerca de 400 apps para essa plataforma, entre novos títulos e adaptações de apps tradicionais, como Evernote, Facebook Messenger, PayPal, Pinterest, Runkeeper, Tinder e TuneIn Radio, assim como apps de grandes marcas, como as companhias aéreas American Airlines e Delta.
O app Android Wear, criado pelo Google para realizar a configuração entre o smartphone e o acessório conectado do usuário, registra mais de 100 mil downloads até agora. Isso serve como indicativo da ordem de grandeza das vendas dos dois únicos produtos lançados com a plataforma por enquanto, os relógios LG G Watch e Samsung Gear Live – o Motorola 360, primeiro no formato redondo, deve chegar em breve às prateleiras.
A Google Play ainda não conta com uma seção dedicada a apps para Android Wear, o que dificulta a busca. Ao procurar pelo nome da plataforma na loja, são apresentados cerca de 250 títulos que incluíram o termo em sua descrição ou entre suas palavras-chave. O universo, contudo, é maior que isso. Na tentativa de ajudar os primeiros consumidores que adquiriram relógios Android, um desenvolvedor criou o app "Wear Store for Android Wear", cujo objetivo é listar todos os apps adaptados para a plataforma. Nesta segunda-feira, 11, eram 399 títulos.
O primeiro passo nessa corrida foi dado, obviamente, pelo próprio Google. Alguns de seus apps mais importantes já estão adaptados para visualização em acessórios com Android Wear. É o caso de Google Now, Hangouts e Google Maps. Outros aplicativos de renome correram para figurarem entre os primeiros em suas respectivas categorias. Foi o caso do Duolingo, em educação; da Reuters e do The Guardian, em notícias; do TuneIn Radio, em música; do Tinder, em matchmaking; do Facebook Messenger, em mensagens instantâneas; do PayPal, em pagamentos; do Medisafe, em saúde; do RunKeeper, em esportes; do Glympse, em localização; do Evernote e do Trello, em ferramentas de produtividade; e do TrueCaller e do Contatos+, em discadores e agenda de contatos.
Merece destaque a estratégia do Evernote, que lançou um app à parte do seu principal, com o nome "Evernote for Android Wear", feito especificamente para a nova interface. Ele permite buscar notas por comando de voz ou pela localização do usuário; adicionar novas tarefas em uma lista também por voz; e quando uma nota é visualizada no smartphone, ela é replicada no relógio depois que o celular entra na tela de bloqueio. Difícil prever qual caminho vai prevalecer: apps separados para Android Wear ou atualizações dos apps principais para suporte à nova interface.
Entre os apps de grandes marcas, as pioneiras foram as companhias aéreas, começando pelas norte-americanas American Airlines e Delta. As duas informam dados sobre o embarque diretamente na tela do relógio. A Delta traz também o QR code do cartão de embarque, ou seja: o passageiro pode entrar no avião mostrando seu relógio.
Em um dos primeiros exemplos de mistura entre wearable devices e internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) há o aplicativo Hue Control. Ele serve para controlar lâmpadas conectadas da Phillips e foi também atualizado para ser comandado através dos relógios Android.
Entre redes de restaurantes, a Starbucks costuma estar na vanguarda em mobilidade. Dessa vez, contudo, foram desenvolvedores independentes que resolveram unir a famosa rede de cafeterias com os relógios Android. Dois apps (WearBucks e Coffee Time for Android Wear) embutiram o código de barras dos cartões de fidelidade da Starbucks na tela dos relógios: assim, o usuário pode pagar seus cafés mostrando a tela do relógio, sem tirar a carteira ou smartphone do bolso.
Independentes
O fato de o mercado de apps para Android Wear ser praticamente virgem atrai o interesse de novos desenvolvedores, muitos deles representados por start-ups ou mesmo pessoas físicas. É o caso de vários apps utilitários que replicam nas telinhas dos relógios certas funções básicas que fazem sucesso em smartphones, como calculadora, lanterna e calendário. Não faltam apps de personalização da tela dos relógios, com novos formatos de exibição das horas. Há inclusive um launcher para Android Wear, o Wear Mini Launcher, que reformula toda a interface.
Há também ideias mais criativas, como o Wear Camera Remote e o PixToCam, que transformam o relógio em um controle remoto da câmera do smartphone, que pode ser posicionada longe do dono (mas dentro do alcance do Bluetooth). Outro uso criativo é o do app Wear Aware Phone Finder, que avisa quando o usuário se distancia do seu smartphone e ajuda a encontrá-lo, caso esteja perdido, por meio da emissão de um alerta sonoro.
Por fim, há também jogos criados especialmente para a tela dos relógios Android. A Wear Store lista 20 deles. Há desde uma versão do velho Ping (Paddle Pro) até um inspirado no Flappy Bird (Birdie Wear), passando por puzzles, como o Android Wear 2048.
Modelo de negócios
O desenvolvimento de apps específicos para Android Wear tem um custo e ainda não está claro qual modelo de negócios vai prevalecer para sustentar esse mercado. A exibição de publicidade adotada por uma parcela significativa dos apps para smartphones precisaria ser reformulada, diante da tela diminuta do relógio. Dificilmente seria atraente para um anunciante aparecer em um pedaço da tela desses aparelhos. Por outro lado, para o usuário, tampouco deve ser agradável ter uma propaganda ocupando toda a tela do seu relógio. Mais provável, portanto, será a adaptação de apps já existentes ou a criação de apps específicos que ofereçam um valor agregado que justifique a cobrança do download.
Outra dor de cabeça para os desenvolvedores estará no formato dos relógios. Haverá modelos retangulares e redondos. Embora a Android Wear procure unificar o desenvolvimento do ponto de vista da programação, o ideal seria que os desenvolvedores trabalhassem com um design diferente que aproveitasse melhor cada formato de tela. Mas isso significa mais tempo e mais custo de desenvolvimento.