O fenômeno do "showrooming", prática em que o consumidor visita lojas mas compara os preços no celular para barganhar ou mesmo comprar on-line, incomoda os varejistas físicos. Em vez de renegarem a tecnologia móvel, eles têm dado a resposta na mesma moeda, através de apps que atraem consumidores para seus corredores e interagem com eles. Uma das opções no Brasil é o Belezuca, da Dot Legend, a mesma criadora do BoaLista, e que conta com um dos fundadores da nTime, Fábio Freitas, entre seus sócios. Lançado em maio do ano passado, o Belezuca conquistou 40 mil usuários sem qualquer gasto com marketing e tem como meta chegar a 1 milhão em 2015, quando seu faturamento anual deve ficar entre R$ 3 e R$ 6 milhões. Para o salto, contará com o aporte de um fundo de investimento, com o qual a negociação está em estágio avançado e deve ser divulgada nas próximas semanas.
O Belezuca se inspirou no modelo do app norte-americano Shopkick, que, por sinal, foi vendido nesta semana por aproximadamente US$ 200 milhões para uma subsidiária da operadora sul-coreana SK Telecom. Na prática, é um aplicativo que estimula o consumidor a entrar nas lojas parceiras e a interagir com os produtos das prateleiras, seja escaneando códigos de barras ou comprando produtos em promoção.
Toda interação gera pontos para o consumidor, ou "belezucas", como é chamada a moeda virtual dentro do app. As belezucas podem ser trocadas por prêmios, como vale-presente na Livraria Cultura e nas lojas Saraiva ou tíquetes de cinema no Kinoplex, créditos no celular e até sorvetes em uma sorveteria carioca, a Amarena. "Não somos um programa de fidelidade. Somos um programa de mídia e guardamos parte da receita para trocar por recompensas", explica Freitas.
Quem banca as belezucas recebidas pelos consumidores são os varejistas. Estes têm acesso a um painel na web onde podem criar livremente as interações que desejam e quantas belezucas querem oferecer. Através desse painel, conseguem acompanhar quem entra em suas lojas com o app ligado e passam a conhecer melhor seus consumidores. "A maior dificuldade do varejo físico é trazer a pessoa pra dentro da loja. Feito isso, a conversão é mais alta que no mundo on-line", explica o empreendedor. Além disso, uma vez atraído o cliente, é possível se relacionar com ele através do app, sugerindo promoções e interações com os produtos. A indústria de bens de consumo também pode adotar o Belezuca, estimulando os consumidores a escanearem ou comprarem seus produtos.
Por enquanto, a adoção está restrita a estabelecimentos no Rio de Janeiro e em São Paulo, mas o plano é expandir para outras cidades no ano que vem. Lojas Americanas, Saraiva, shoppings do grupo Ancar e alguns franqueados do Subway estão entre os primeiros a experimentarem a plataforma do Belezuca. Outras cadeias de lojas ainda não fecharam contrato mas foram incluídas no app, junto com alguns de seus produtos, a partir do banco de dados do BoaLista – neste caso, quem está bancando as belezucas distribuídas nelas é a própria Dot Legend. A meta é ter entre 40 e 60 redes integradas à plataforma até o fim de 2015.
Até pequenos comerciantes estão aderindo, como o bar carioca Pavão Azul. "Com R$ 750 compram-se 15 mil belezucas. Com esse investimento um pequeno comerciante conseguiria no máximo uma foto em um jornal de bairro", explica.
Tecnologia
A entrada do consumidor nas lojas parceiras é controlada por uma solução criativa: uma pequena caixa instalada no local emite um som, inaudível para o ouvido humano, mas que é captado e reconhecido pelo smartphone do consumidor. O princípio é o mesmo adotado pela Shopkick nos EUA. Desta forma, basta o consumidor entrar na loja com o app ligado para receber belezucas. A Dot Legend criou também uma caixa híbrida, que trabalha com som e com Bluetooth Low Energy (BLE), como um beacon, para microlocalização. Este equipamentos será testado primeiro nas Lojas Americanas.