Quando eu tinha onze anos de idade, me sentia um verdadeiro geek por levar no pulso um relógio digital Casio que tinha fantásticas quatro (!) funções: cronômetro, contagem regressiva, alarme e, obviamente, as horas. Eu cronometrava tudo o que podia à minha volta e ligava a contagem regressiva para gerenciar as tarefas mais diversas do dia a dia. Não sei se eu era aficcionado pelo tempo ou pela tecnologia. Ou por ambos. Fato é que, desde então, a pontualidade se tornou uma característica marcante em mim, a um nível quase obsessivo. Não sei se eu já era assim ou se a experiência com o relógio Casio me tornou assim.
Na adolescência parei de usar relógio digital, talvez por medo dos constantes assaltos nos ônibus do Rio de Janeiro, não lembro ao certo. Mais tarde, já com vinte e poucos anos, meu primeiro celular passou a fazer as vezes de relógio e a atender a minha constante necessidade de saber as horas.
Até que agora, quando me encontro com quase quarenta anos de idade, chegaram os relógios conectados. Desde a primeira matéria que escrevi sobre o tema sabia que acabaria adotando essa novidade. Comprei há duas semanas o Moto 360, um dos poucos no formato redondo, o que lhe confere mais elegância e discrição que os rivais retangulares. Parece o relógio do futuro que eu sonharia quando criança, mas que está aqui, no presente, no meu pulso, com muito mais que quatro funções, diga-se de passagem.
A melhor definição que tenho para relógio conectado é a seguinte: trata-se do assistente do assistente. O smartphone virou o assistente pessoal de todo mundo, uma espécie de secretária de bolso, responsável por tomar notas, gerenciar a agenda, controlar gastos, realizar ligações e uma infinidade de outras coisas, muito além, por sinal, do trabalho de uma secretária. E o relógio conectado é um complemento dele, ou seu assistente. As notificações que se empilham no topo do smartphone Android agora são jogadas para a tela do relógio. Eu costumava perder algumas notificações importantes, o que não ocorre mais. Por outro lado, percebi que há um monte de apps enviando notificações inúteis, o que me obrigou a fazer uma limpeza nas configurações de muitos deles.
Vale lembrar que a profundidade de integração com o Android Wear varia muito entre os aplicativos. O WhatsApp está entre os melhores: permite ler toda a conversa a cada nova mensagem e respondê-la com a voz, transformando fala em texto. Gmail e Hangouts também estão integrados, assim como o Google Now, que levou seus cards para a tela do relógio, com informações valiosas ao longo do dia, como o tempo no trânsito para chegar até o trabalho. Outro destaque é o Rdio, que informa no relógio a música em execução e permite pausar, trocar de faixa e ajustar o volume, tudo direto no seu pulso. O Facebook está no meio do caminho: informa apenas quem comentou uma postagem sua ou te marcou, mas não exibe no relógio o que foi dito. A decepção ficou com o app oficial de SMS da Samsung, que simplesmente avisa que chegou uma mensagem, sem abri-la no relógio.
A tela redonda, embora estilosa, tem dois problemas. O primeiro é que uma pequena fração na parte debaixo foi reservada para o sensor de luz e, por isso, é permanentemente escura. Fica sempre uma faixa preta ali, o que pode parecer esquisito especialmente em apps com fundo branco – recomendo usar no Moto 360 faces de relógio com fundo escuro por causa disso. O outro problema é que nem todos os apps foram adaptados para exibir conteúdo em tela redonda, mas apenas em formatos quadrados. Por conta disso, às vezes algumas palavras aparecem cortadas pela curvatura da tela. Nem sempre o problema é resolvido com a rolagem da página.
Mas um problema que precisa ser resolvido urgentemente é o consumio de bateria. Nem tanto a do relógio em si, que comigo tem chegado de noite perto de 50%. Refiro-me à bateria do smartphone mesmo. Notei que depois de adotar o Moto 360, a bateria do meu Galaxy S4, que já estava meio desgastada, teve sua duração cortada pela metade, o que gerou um problema sério. Mas nem passa pela minha cabeça abandonar o relógio. A solução será trocar de smartphone por um modelo com bateria mais duradoura.
Por fim, o Moto 360 impressiona as pessoas em volta. Perdi a conta de quanta gente, conhecida ou não, me perguntou o que era isso no meu pulso nas últimas duas semanas. Até mesmo o segurança do setor de raio-X do aeroporto de São Francisco me abordou maravilhado. O problema será quando começar a chamar a atenção dos bandidos aqui no Brasil…