É cedo para dizer se o SIMcard vai desaparecer. Mas ele tende a se tornar um item embutido em acessórios conectados, módulos de comunicação entre máquinas e, eventualmente, no próprio celular. Neste cenário, deixaríamos de manuseá-lo como fazemos hoje. E sua configuração passará a ser feita remotamente. Fabricantes de SIMcard irão vendê-los para fabricantes, não para operadoras. Esse é o futuro imaginado pelo diretor da unidade de negócios de telecom da Oberthur, Cédric Collomb, que esteve no Brasil esta semana e conversou com MOBILE TIME, junto com o diretor da mesma área para América Latina, Luis Cohen.
MOBILE TIME – Nos últimos anos, o SIMcard tem diminuído de tamanho. De mini para micro e depois para nano-SIMcard. Dá para ficar menor ainda ou chegou ao seu limite? Daqui a pouco não será mais possível manuseá-lo…
Cédric Collomb – Vai ficar menor, mas será embutido nos aparelhos. É o chamado "embedded SIMcard". Isto é uma necessidade para novos produtos eletrônicos, como relógios e wearables em geral, e também para módulos de comunicação entre máquinas (M2M). Quando falamos em SIMcards embutidos queremos dizer duas coisas: 1) a soldagem do SIMcard dentro do dispositivo; 2) o provisionamento remoto, ou seja, a personalização do SIMcard à distância. A grande dúvida é se isso vai acontecer também no celular.
Isso significa que em vez de vender SIMcard para as operadoras móveis, como fazem hoje, vocês venderiam para os fabricantes de dispositivos?
No caso do SIMcard embutido, sim. Mas venderíamos o serviço de provisionamento para as teles. O crescimento no número de conexões virá com o SIMcard embutido. Por isso, é importante desenvolvermos contatos com OEMs. Hoje nosso negócio é com as teles. No futuro será com OEMs. Três anos atrás era 100% com operadoras. Hoje já é 30% com OEMs. Mudei minha carteira de clientes completamente em três anos. E veremos mais e mais devices conectados. Prestaremos serviços para operadoras, e venderemos SIMcards para fabricantes de aparelhos. É assim que olhamos para o futuro.
Em quais categorias de wearable devices faz sentido ter um SIMcard embutido?
Ainda não está claro. Alguns relógios já estão vindo com conexão móvel, outros não. O fato é que há várias tecnologias competindo para conectar os devices: Bluetooth, Wi-Fi, Sigfox… E essa competição se dará no custo da conectividade, digo, no custo de embarcar a conectividade no device; o espaço ocupado no aparelho; o consumo de bateria etc. O 5G vai trabalhar com baixo consumo de energia e frequências baixas.
Não se pode esquecer da questão da segurança, que é outro tópico importante. Garantir a segurança na comunicação M2M, de um relógio para um celular e do celular para a rede é mais difícil do que direto do relógio com a rede móvel. O celular pode ser o "man-in-the-middle". E imagine no caso dos carros conectados, que incluem serviços como abrir o automóvel à distância e verificar o tanque de combustível: o que acontece se forem hackeados? Segurança é muito importante. Podemos prover elemento seguro e serviços de autenticação para a Internet das Coisas.
O SIMcard vai desaparecer no futuro? Poderia ser totalmente virtualizado?
Em uma infraestrutura 100% IP, talvez não tenha necessidade para um SIMcard, mas sempre será necessário autenticar em algum ponto, de alguma fora, com SIMcard ou qualquer outra coisa. O 5G será 100% IP e tem gente questionando se o SIMcard continuará necessário. Mas há uma migração a ser feita, das redes anteriores para o 5G, e o SIMcard facilitaria essa migração. Os devices do futuro terão um elemento seguro, seja dentro do SIMcard ou não. E a autenticação terá que ser feita de alguma forma, talvez por biometria ou o que for. E, assim, empresas como a Oberthur ainda terão um papel a desempenhar.
Dois anos atrás se falava em TSM (Trusted Service Manager) para viabilizar serviços de pagamento móvel. Agora só se fala em tokenização. A tokenização é o novo TSM?
Os bancos querem lançar m-payment e precisamos prover para eles uma solução que cubra todas as suas necessidades, seja Apple Pay, Google Pay, Samsung Pay, HCE, o que for. Nós temos uma solução assim, que inclui tokenização, para garantir a segurança do processo. Podemos armazenar os tokens no elemento seguro, ou onde for. Tivemos um case na Polônia e estamos em negociações nos EUA. Todos envolvendo pagamento digital e por aproximação (NFC ou LoopPay). Os bancos querem solução completa. No fim das contas é um TSM.
E a receita dos fornecedores de SIMcard vai crescer ou diminuir nesse novo contexto?
O lucro vai crescer, a receita eu não sei. Três anos atrás não tinha Apple Pay. As coisas estão mudando rapidamente. Em telecom a receita da Oberthur está estável. E no geral está crescendo. Estamos bem posicionados na migração de EMV os EUA e fazendo um bom trabalho com OEMs em telecom etc. Mudamos completamente a companhia nos últimos três anos.