A guerra entre os apps de táxi no Brasil ganhou um novo capítulo nesta segunda-feira, 1. 99Taxis e Easy Taxi decidiram dar 20% de desconto nas corridas pagas por cartão de crédito dentro dos respectivos aplicativos. Os valores são arcados pelas empresas, não pelos taxistas.
A novidade foi comunicada às respectivas bases de usuários por email. No caso do Easy Taxi, trata-se de uma promoção para celebrar os quatro anos do aplicativo e vale apenas durante o mês de junho. Já o 99Taxis manterá o desconto até o fim de agosto ou até atingir o limite de 10 milhões de corridas, o que acontecer primeiro. Em seu comunicado, o 99Taxis diz que se trata de uma forma de ajudar seu cliente "neste ano em que todos os preços estão subindo."
"Primeiro resolvemos o problema de como conseguir um táxi. Agora queremos resolver o problema de como pagar a corrida. Hoje 10% das corridas de táxi em São Paulo são solicitadas através de apps. Queremos que o pagamento delas passe a ser online, pois é onde a gente monetiza", explica Dennis Wang, co-CEO do Easy Taxi. O executivo espera que até o fim de 2016 entre 30% e 40% das corridas do aplicativo no mundo sejam pagas com cartão de crédito. No Brasil o percentual deve ser ainda maior. O Easy Taxi opera em 30 países e no fim do ano passado registrava 6 milhões de corridas por mês.
Como nas corridas pagas em dinheiro não há cobrança de nenhuma tarifa para o taxista, os aplicativos de táxi dependem de duas fontes de receita atualmente: 1) pagamento via cartão de crédito por dentro do aplicativo, com retenção de um pequeno percentual sobre o valor que fica com o taxista; 2) usuários corporativos que usam um dashboard na web para controle das viagens dos funcionários, cujas corridas são pagas via voucher eletrônico. O desconto de 20% não vale para as corridas corporativas, cabe destacar.
No fundo, o objetivo das promoções anunciadas esta semana é estimular as pessoas a pagarem dentro do app, em vez de usarem dinheiro, pois nestas últimas não há geração de receita para os apps. Porém, caso as promoções sejam prorrogadas, isso pode gerar efeitos na competição do setor, vide a análise abaixo.
Análise
O mercado brasileiro é tido como um dos mais competitivos do mundo quando o assunto é aplicativos de chamada de táxi. Cerca de dez players chegaram a operar simultaneamente nas grandes cidades brasileiras, dentre os quais: 99Taxis, Easy Taxi, Resolve Aí, Safer Taxi, Taxibeat, Taxijá, Vá de táxi, Wappa e WayTaxi.
Inicialmente, cobrava-se do taxista R$ 2 por corrida. Essa era a principal fonte de receita da maioria dos apps que aqui operavam. O jogo mudou completamente quando o 99Taxis decidiu não cobrar mais essa tarifa. Isso acabou virando uma regra de mercado e quem não conseguiu construir novas fontes de receita teve que fechar as portas. Foi o caso do grego Taxibeat, por exemplo, cujos investidores decidiram focar sua atenção em outros mercados latino-americanos, como Peru e México. Seu escritório no País foi fechado em outubro do ano passado. Um ex-funcionário classifica a competição entre os apps no Brasil como "uma guerra para ver quem queima mais dinheiro".
Os dois grandes players no Brasil são 99taxis e Easy Taxi. Ambos contam com o apoio de fundos de investimento internacionais. Enquanto o Easy Taxi utiliza seus aportes para se expandir internacionalmente, o 99Taxis procura se consolidar no Brasil, gastando também com mídia offline e até com patrocínio de times de futebol, como o Corinthians. Por sinal, a nova promoção do 99Taxis foi comunicada também com uma sobrecapa na edição desta segunda-feira da Folha de São Paulo.
Na oferta de 20% de desconto sobre o valor da corrida paga dentro do app, tanto Easy Yaxi quanto 99Taxis estão perdendo dinheiro, porque esse percentual é maior que aquele retido pelo uso dessa forma de pagamento. Enquanto for uma promoção temporária, não é problema. O temor é que seja prorrogada indefinidamente, em uma briga para ver quem tem o bolso mais fundo, tal como aconteceu quando do fim da tarifa para o motorista. Se isso acontecer, vai sobreviver quem estiver bem posicionado no mercado corporativo.