Em uma breve passagem pelo Brasil, o vice-presidente global Xiaomi, Hugo Barra conversou com MOBILE TIME na manhã desta quarta-feira, 28. Após passagens por Índia e Estados Unidos, o executivo veio ao Brasil para dar uma palestra sobre a história e o momento de sua companhia na Futurecom 2015.

MOBILE TIME – Como está a Xiaomi neste começo de negócios no Brasil?

Hugo Barra – Chegamos há quatro meses no Brasil. Nosso negócio está crescendo mais rápido do que a gente imaginava. Estamos bem animados. Eu estive na loja da Vivo, trabalhei como promotor lá*. E pude ver como é legal conversar com o pessoal sobre a marca. Vamos soltar um vídeo com o meu dia de promotor amanhã ou depois. Resolvemos fazer o onda laranja, que será a nossa entrada no Black Friday, mas com um timing um pouco antes e vai terminar antes. Não imaginaria em quatro meses de mercado que a gente seria tão falado. O Redmi 2, por exemplo, teve reavaliação de blogs. É exatamente a sensação que eu tive com três meses de mercado indiano.

E as redes sociais, como está o relacionamento com os fãs por meio delas?

É uma brincadeira legal. Temos uma equipe que trabalha em um tom informal. É bacana quando eles fazem pedidos e comemoram (quando atendemos os pedidos). A gente ia fazer a onda laranja em uma semana, os usuários pediram e nós estendemos. Dá muito gosto até de ver.

A Xiaomi vai ter fábrica própria no Brasił?

Nós vamos continuar a linha de fabricação com a Foxconn em Jundiaí. A gente não tem o menor interesse em fazer fabricação própria. Uma coisa é você ter gente na equipe que entenda – e temos bastante –, outra coisa é fazer do zero. Mesmo se expandir para América Latina… O ganho de escala na China é aproveitado no Brasil. Não faz sentido econômico para nós.

Como a crise econômica está afetando a Xiaomi no Brasil?

Se comparada a crises anteriores, o Brasil está muito bem. Na década de 1980, a inflação era 230% ao ano, a atual é de 9,5%. O Brasil já enfrentou crises mais difíceis, mais duras. O País se modernizou muito em questão de infraestrutura, banda larga, 4G. Mas conseguimos atacar o problema da exclusão social. Antes a classe média representava 20% da população, hoje já passa dos 50%. Isso cria um motor de crescimento muito interessante no Brasil. Essa enorme base de consumo que o País tem vai ajudar a sair da crise.

A crise cambial pode afetar o consumo em países emergentes?

O raio-x que a gente faz do momento no Brasil e na China é bem diferente do raio-x econômico. O brasileiro que está na Internet é o terceiro em tempo gasto on-line, o Brasil tem a segunda maior base de usuários do Waze, a segunda no YouTube, a quarta do Netflix… A Internet do Brasil está em franca expansão, a banda larga no Brasil cresce três vezes mais rápido que os países desenvolvidos e está acompanhando muito rápido os países desenvolvidos em 4G. A demanda e o interesse de tempo gasto na Internet tendem a continuar subindo bastante. Digo isso para Índia, Brasil, Indonésia: em muitos casos essa nova geração só vai experimentar a Internet no celular, não vai ter PC.

Os celulares com 3G devem sumir do portfólio das empresas no próximo ano?

Acho que 4G é definitivamente o foco. Do ponto de vista de chips e componentes, quase não faz mais sentindo você fabricar celular 3G. Dificilmente você vê fabricante lançando celular em 3G.

Como será o relacionamento com os fãs brasileiros em comparação com a comunidade Xiaomi na China? Muda algo?

A gente tem crescido bem rápido na nossa comunidade MIUI Brasil. Só ontem foram downloads aos milhares do MIUI 7. A comunidade MIUI no Brasil tem crescido. Lógico que avança mais rápido com quem tem Xiaomi. Mas não conheço nenhuma marca que consegue criar uma comunidade como a nossa. Essa fundação tem base nos fãs mais ‘hardcore’. Eles não são só fãs, eles dão muito pitaco. Quando a gente faz uma coisa errada, eles puxam a nossa orelha. Eles são fãs exigentes. E são tecnicamente capacitados. São estudantes de engenharia, designers…

A Xiaomi vai lançar algum novo celular no Brasil para o fim de 2015 e começo de 2016?

Vamos lançar, mas ainda não sabemos em qual categoria. Não posso falar, vou deixar a surpresa no ar.

Recentemente, a Canalys reportou que a Xiaomi perdeu o primeiro lugar no mercado chinês para Huawei e que isto seria devido à estratégia de crescimento global de sua companhia. Vocês veem desse modo, uma redução local para um crescimento global?

Esta semana saiu a pesquisa da IHS e a Xiaomi está três pontos decimais na frente da Huawei. A maioria dessas empresas de pesquisa medem o sell-in, a contagem da venda para o canal varejo. Nós temos o sell-out, a contagem daquilo que foi vendido para o consumidor direto. Na China nós continuamos líderes quando se olha o sell-out. Claro que é um mercado extremamente competitivo, com Huawei e Apple crescendo, mas o nosso share de mercado continua subindo. O que acontece na China é que o mercado de varejo celular do off para online está acelerando, o que nos interessa muito, pois nosso canal é online. Nós somos a maior companhia de smartphone na China, e o terceiro e-commerce atrás apenas da JD e da Alibaba. Na Índia já estamos chegando ao topo do mercado online de smartphone. Quando a gente entra em um mercado, entra com foco máximo. Não estamos diluindo o foco da companhia, nós escolhemos muito bem o país que vamos entrar, passamos um bom tempo estudando e entendendo o mercado.

Muitos rivais da Xiaomi disseram que vocês mudariam mudariam o modelo de negócios no Brasil, para não depender apenas das vendas onine. E vocês fizeram algumas mudanças, como a parceria com a Vivo e propagandas no metrô…

Todo mundo fala isso! 'Aqui não é a China'. Foi a mesma coisa na Índia e na Indonésia. Depois de seis meses nós mostramos que estamos quebrando as regras. Não existem regras fixas para nada. Nosso foco permanece em mídia social. Fizemos um teste com um parceiro no metrô de São Paulo. A gente adora fazer experimentos. Nós somos uma companhia de Internet. Nossos usuários vivem disso, compram isso e nos procuram por causa disso.

Você pode dar um exemplo desse crescimento online?

A Tencent divulgou um número interessante: tabulou o ranking de usuários por modelo de celular e divulgou o top 10. Os nove primeiros smartphones são da Xiaomi. Isso diz uma coisa muito claramente: não temos o domínio do mercado chinês, mas temos do usuário da Internet na China. Nossa estratégia como empresa de Internet é criar uma base cada vez maior de usuários ativos na Internet. A nossa plataforma não é o hardware, é o software.

E a parceria com a Vivo? Como está esse primeiro mês da Xiaomi nas lojas e como foi sua experiência como promoter da operadora por um dia?

Se você for às lojas em São Paulo, tem as patinhas do Mi Bunny e o Redmi 2 é o primeiro celular da loja. Muita gente chega procurando pelo Redmi 2. A gente trabalha com eles como canal de venda, mas é também um canal de experiência. São dois aspectos igualmente importantes para o usuário.

Você atualmente é um dos executivos mais emblemáticos da tecnologia mundial e representa o Brasil lá fora com sua posição. Como você chegou a esse patamar e qual recado você dá aos executivos e desenvolvedores que estão começando na carreira?

Eu sempre fui super apaixonado pelo que faço. Sou usuário de Internet desde 94, 93… Sempre procurei trabalhar naquilo que é novo, no futuro da minha área, a computação. Sempre coloquei tudo que eu tenho de esforço e energia. Eu trabalhei na equipe maravilhosa do Android, aprendi para caramba na equipe como fazer um trabalho em dimensão global. Agora estou em um mercado diferente, do outro lado da mesa. Não existe melhor coisa que se especializar. Se você é desenvolvedor, prepare-se para ser o melhor. Designer, idem. E seja seu próprio challenger. O Brasil tem excelentes escolas, excelentes cursos técnicos. Vários engenheiros com os quais trabalhei no Google eram formados aqui.

*Nota do editor: A Xiaomi tem uma parceria com a Vivo para a venda de seus aparelhos a clientes pós-pagos da operadora no Brasil.

 

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