Estudantes do ensino médio em cidades que sofrem recorrentemente com enchentes estão contribuindo na coleta de dados de volume de chuvas usando pluviômetros artesanais feitos com garrafas PET e um aplicativo móvel para smartphones Android. A iniciativa é coordenada pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, como parte do projeto Cemaden Educação, cujo objetivo é desenvolver pesquisas de prevenção a desastres com base em gestão participativa em escolas de municípios vulneráveis.

As primeiras três escolas a aderirem ao projeto estão localizadas nas cidades paulistas de Cunha, Ubatuba e São Luiz de Paraitinga, todas próximas ao rio Paraibuna e seus afluentes. Cada escola recebeu um pluviômetro semiautomático, que armazena os dados das chuvas, mas cuja leitura e envio das informações precisam ser feitos manualmente. Seus estudantes, por sua vez, participaram de oficinas ministradas por técnicos do Cemaden e aprenderam a confeccionar e a instalar em suas casas pluviômetros artesanais feitos de garrafas PET. O processo é simples: basta cortar a garrafa abaixo do gargalo para coletar a água da chuva e marcar com uma caneta a gradação do volume.

Em cada escola, cerca de 30 estudantes com idades entre 15 e 17 anos instalaram o equipamento em suas casas. O pluviômetro precisa ser posicionado em uma área aberta com pelo menos três metros de diâmetro sem qualquer obstrução – um bom local é em cima de um muro, por exemplo. A leitura do pluviômetro deve ser feita diariamente, sempre às 7h da manhã, seguindo metodologia internacional.

"Há muitas crianças da zona rural que vêm estudar na cidade todos os dias e que participam do projeto. Isso confere maior abrangência à coleta dos dados", comenta Rachel Trajber, coordenadora do projeto Cemaden Educação.

Foi desenvolvido um aplicativo móvel para Android que serve de apoio ao projeto. Com ele, os estudantes marcam a posição georreferenciada de cada pluviômetro. E nele informam o volume de água da chuva diariamente. O processo ainda não está totalmente sistematizado e, por enquanto, os dados ainda não estão sendo computados oficialmente na plataforma do Cemaden, mas enviados para os gestores do projeto educacional. Isso se deve a alguns ajustes técnicos que ainda precisam ser feitos na plataforma. A expectativa é de que até dezembro os dados serão integrados ao sistema e vão ajudar na análise e na prevenção a desastres naturais, junto com 4.750 pluviômetros automáticos e diversos radares espalhados pelas quase 1 mil cidades monitoradas pelo Cemaden em todo o Brasil.

Também está sendo preparada uma nova versão do aplicativo, que dará pontos para as escolas de acordo com a participação e comprometimento dos seus estudantes com o projeto. "Vai ser uma espécie de Waze do Cemaden Educação", compara a coordenadora. "Mas sem promover uma competição entre os alunos", ressalta.

Os dados também podem ser enviados por computador, mas Rachel diz que a maioria dos jovens que participam do projeto preferem usar o próprio smartphone.

Futuro

O projeto será expandido em breve para sete cidades acreanas que há três anos vêm convivendo com enchentes do Rio Acre. Nelas, além das escolas, o projeto contará com o apoio de associações de moradores e de piscicultores locais.

O Cemaden dispõe ao todo de 88 pluviômetros semiautomáticos para o projeto. Rachel espera que até o fim do primeiro semestre de 2016 consiga levar a ideia para dezenas de outras cidades ameaçadas por desastres naturais, mas depende de recursos para as viagens e oficinas. "O foco são sempre escolas em regiões de enchentes, secas ou deslizamentos", lembra.

 

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