O 3G pode desaparecer no Brasil antes mesmo do 2G. A opinião é do CEO da empresa de consultoria de telecom Techpolis, Ricardo Tavares, ao observar a tendência do mercado em 2015, quando o País observou pela primeira vez um encolhimento da base móvel, enquanto o 4G mais do que triplicou no ano. "Tenho conversado com operadoras, e vejo que a tendência é o 3G desaparecer, enquanto o 2G continuará sendo a base da pirâmide, que ainda vai precisar do celular de US$ 20", afirmou ele a este noticiário.
Na visão de Tavares, as teles procurarão migrar o máximo possível para o 4G, preparando também a base para a chegada do futuro 5G, enquanto o WCDMA passará por um "phase out" por não compensar mais para as empresas. Assim, aproveitam ainda o espectro com o refarming. "A estratégia de longo prazo é mover todas as frequências para o 4G, e dar uma sobrevida ao GSM. Se for abandonar uma tecnologia, será o 3G." No seu entender, a migração para o LTE compensa para o consumidor, que ganha mais velocidade, e para a operadora, que usa uma tecnologia com uso mais eficiente de espectro, com menor custo de bits por dados.
Uma barreira para essa estratégia, no entanto, é o custo de terminais. Com a alta do dólar os smartphones vão ficando mais caros, e com a situação macroeconômica negativa, o consumidor acaba sentindo mais o peso desse aumento. Mesmo para a operadora, os custos para a instalação de infraestrutura 4G sobem, já que muitos dos equipamentos são importados. Ainda assim, explica, compensa mais para a tele investir na migração para o LTE.
Segundo dados da Anatel, o 4G fechou 2015 com 25,446 milhões de acessos, um crescimento de 276,16% (18,7 milhões de adições líquidas) em comparação com dezembro de 2014. Já o 3G encerrou o período com 149,118 milhões de conexões, o que representa um crescimento de 3,06% no comparativo anual (4,5 milhões de adições líquidas) – cabe destacar que houve queda nessa base a partir do quarto trimestre, com uma redução de 4,66% somente em dezembro.
Consolidação
O crescimento de planos controle e pós-pagos, na opinião de Tavares, serão afetados pela recessão. No ano passado, o mercado pós aumentou 8,05%, contra queda de 13,33% no pré. Ele acredita que haverá desaquecimento dessa tendência. "Sem pré-pago, não haveria a indústria móvel, porque ele controla o risco de crédito", declara.
Assim, o CEO da Techpolis avalia que a TIM precisaria investir para competir no pós. Por isso, ressalta a estratégia de foco no LTE – a companhia anunciou um grande projeto de refarming com a frequência de 1,8 GHz, enquanto já fala em lançar o LTE-Advanced ainda este ano. Ele acredita que, como contava com uma estratégia forte em pré-pago e receita de interconexão, com a queda da VU-M, a empresa se sente pressionada – tanto que lançou em novembro passado planos sem diferença na tarifa on e off-net. "A situação está difícil, e a mudança da VU-M afeta mais eles do que os outros, o que os torna mais inclinados a considerar uma consolidação", diz Tavares. Em recente conferência para analistas o presidente da TIM, Rodrigo Abreu, negou haver qualquer proposta concreta em relação a uma possível transação com a Oi.
Outra operadora que é alvo de recentes rumores de consolidação é a Nextel. Na opinião do executivo, a empresa está bem por contar com uma base de pós-pagos alta e presença nos principais centros financeiros do País. "Faz sentido não vender a Nextel agora, e fica muito difícil aceitar absorção dela pelos players atuais", considera.
Concessão
Tudo dependerá da discussão do fim da concessão, que vai influenciar diretamente o futuro da Oi. "É o tratamento do passivo de custo regulatório que a Oi está carregando, nas condições atuais fica muito difícil para ela participar de consolidação, pois é um passivo regulatório com passado e futuro", diz. Na interpretação dele, negociações podem até acontecer, mas, sem a clareza de como será o regime de concessão, nada sairá do papel.
Para Tavares, o processo que envolve consulta pública e elaboração de proposta (prevista para março) não está ocorrendo com a pressa necessária. "Todo mundo está tentando se proteger do risco, e a Anatel diz que tudo tem que ser feito pelo legislativo. O Minicom está trabalhando em uma nova política de comunicações, mas não existe todo esse tempo do mundo para lidar com o regime de concessão", avalia. Ele entende não haver qualidade no debate e que há uma situação de risco, já que se trataria apenas de uma tentativa de mudar "só o nome do regime, mantendo peso em metas sociais". "Se não houver mitigação de custo com reforma de concessão, você inviabiliza as empresas, e todas vão ficar na situação da Oi. É o momento de desregular o mercado", opina.