Para competir com um mercado convergente e com as over-the-tops (OTTs), as teles têm perseguido a transformação para o mundo digital. O problema é a abordagem que cada uma tem em relação ao tema – algumas discordam até da definição da digitalização. É a visão do diretor de marketing da operadora russa MTS, Vasyl Latsanytch: para ele, as provedoras de serviço móvel nunca foram analógicas. "As operadoras são digitais de nascimento. Construíamos dados antigamente, mas ninguém chamava de digital", declarou ele em debate no segundo dia da Mobile World Congress 2016 nesta terça-feira, 23, em Barcelona. Ele afirma que as empresas já utilizavam inclusive Big Data, dando a entender que a mudança não é de estrutura, mas "entender como as coisas funcionam". "Honestamente, eu não vejo transformação nas operadoras, mas sim uma mudança de mercado."
Latsanytch lembra que a mentalidade das operadoras é que precisa de transformação, citando como as empresas não entenderam o apelo de aplicativos em smartphones quando começaram a aparecer no mercado. O executivo russo acredita que o grande desafio agora é utilizar o Big Data, digitalizando todas as áreas da empresa, não apenas a de TI.
O pensamento de que todas as teles já nascem digitais é contrário ao da Telefónica, que mudou há quatro anos sua estratégia para se tornar uma "telco digital", chegando a usar isso em sua comunicação e criando a divisão Telefónica Digital, que foca em serviços digitais como máquina-a-máquina (M2M), cloud e saúde. O CEO da área de consumo do grupo espanhol, Michael Duncan, diz que foi necessário transformar o talento e capacidade da empresa para aprender novas habilidades. "O sucesso virá, mas a falha também, então precisamos ser resilientes, precisamos adaptar e abraçar novas tecnologias", defende.
Duncan estabelece como prioridades para esse direcionamento da operadora a entrega de conectividade de alto desempenho, utilizando fibra, 4G e, futuramente, 5G; além de trabalhar com oferta convergente, com bundles de conteúdo e serviços tanto na operação fixa quanto na móvel, visando o aumento da receita média por usuário (ARPU). "O grande desafio é como a gente vai monetizar o crescimento dos dados", considera o executivo. "E também a destinação de capital, já que precisamos dirigir a eficiência".
A estratégia da operadora japonesa NTT é chamada pela empresa de "NetroSphere", o que o diretor de pesquisa e desenvolvimento Masakatsu Fujiwara se refere como "abordagem esférica". Para tanto, a ideia é mexer nas camadas de hardware, modularizando os componentes. "Ao quebrar as funções de rede em pequenos componentes modulares, qualquer um pode ter o recurso, e isso nos provê serviço realmente diverso, enquanto deixa o custo de infraestrutura baixo". É uma visão semelhante à apresentada pelo Facebook na segunda-feira, 22, com o Telecom Infra Project (TIP), que pretende utilizar a abordagem de tecnologia aberta para promover disseminação de desenvolvimento e barateamento de equipamentos de rede.
A diferença é que a NTT tem como principal oponente não as over-the-top, mas a concorrência doméstica. "Não somos mais dominantes no mercado japonês, agora temos de ser competitivos", declara Fujiwara. Assim como interpretou o executivo da operadora russa MTS, para o grupo nipônico, a mudança precisa ser na mentalidade. "Nós entendemos que somos bons, temos bom DNA, mas não temos o DNA para o digital", confessa.
* O jornalista viajou a Barcelona a convite da FS.