As distribuidoras e transmissoras de energia elétrica que atuam no Brasil, assim como distribuidoras de água e gás, pleiteiam junto à Anatel a alocação de uma faixa de espectro para a comunicação de dados de missão crítica, como alertas de problemas na rede e comandos para ligar ou desligar equipamentos. Hoje, as utilities, como são chamadas, utilizam para essa finalidade, principalmente, serviços das operadoras de telefonia móvel ou então antenas próprias em faixas de espectro não licenciadas. O problema é que no caso das operadoras móveis, a disponibilidade garantida em contrato é menor do que a necessária para serviços de missão crítica. E no uso de espectro não licenciado há muita interferência e não há como exigir prioridade para a comunicação das utilities.
"Quanto mais automatizadas forem as redes de energia elétrica, menos tempo o usuário ficará sem o serviço. Essa é uma necessidade urgente", argumenta Dymitr Wajsman, presidente da UTC América Latina, entidade que defende os interesses das utilities no Brasil e que participa das negociações com a Anatel. "Para serviços de missão crítica é exigida qualidade na comunicação. Não pode ter possibilidade de interferência", acrescenta.
As elétricas demandam disponibilidade de 99,99% do tempo, o que significa apenas uma hora sem serviço em um ano inteiro. Wajsman diz que hoje nenhuma operadora de telefonia móvel do mundo consegue garantir isso com a tecnologia existente. "As teles não conseguem oferecer o SLA (nível de qualidade de serviço, na sigla em inglês) que a gente precisa. Pode ser que com o 5G, no futuro, elas consigam atender as nossas necessidades, se os preços forem competitivos. Mas hoje não conseguem em nenhum lugar do mundo", diz.
A necessidade de espectro exclusivo se torna ainda mais urgente no Brasil diante da entrada de fontes de energia interruptível, como a energia solar e a eólica. "Se uma dessas fontes para, é preciso acionar imediatamente outras, sejam hídricas ou térmicas, no lugar das que foram interrompidas", argumenta.
O uso de powerline communications (PLC), uma tecnologia de comunicação de dados através da rede elétrica, tampouco resolve o problema. Segundo o executivo, a PLC pode funcionar bem para medição de consumo de energia, mas não no caso de missões críticas, porque só atende a distâncias curtas e o ruído da rede prejudica a qualidade.
Faixa de 400 MHz
Segundo Wajsman, a alocação de uma faixa exclusiva de espectro para comunicação de missão crítica é um pleito de distribuidoras de energia no mundo inteiro. Um dos países onde a demanda já foi atendida é o Canadá, que separou um pedaço da faixa de 1,8 GHz para as utilities.
As elétricas brasileiras gostariam de ter 5 MHz para seus serviços de comunicação de missão crítica. Uma das faixas cogitadas é a de 400 MHz. Uma reunião para discutir o assunto com a Anatel acontecerá na semana que vem, durante o UTCAL Summit, evento organizado pela UTC América Latina em Florianópolis.
Wajsman minimiza a possível perda de receita das teles se o pleito for atendido. Ele argumenta que a quantidade de linhas móveis necessárias para atender a comunicação crítica das elétricas é pequena se comparada com a base de centenas de milhões de linhas celulares em serviço no Brasil.