A quinta geração de redes móveis ainda não conta com padronização, mas estudos prévios da União Internacional de Telecomunicações (UIT) já demonstram a utilização de frequências altas, incluindo ondas milimétricas, com mais capacidade e blocos maiores. No entanto, há problema na harmonização. De acordo com o gerente geral de espectro, órbita e radiodifusão da Anatel, Agostinho Linhares, há um movimento de países como os Estados Unidos e Coreia do Sul para uso da faixa de 28 GHz, mas essa hipótese já foi descartada no Brasil por impactar na banda larga satelital.
"A faixa da banda Ka, de 27 a 30 GHz, foi encaminhada para o conselho (da Anatel) e deve entrar em consulta pública em uma das próximas reuniões com uma identificação adicional limitada a aplicações por satélite, com 500 MHz + 500 MHz nessa faixa", explicou ele durante conversa com jornalistas nesta segunda-feira, 18, após seminário sobre 5G na Fiesp, em São Paulo. "Seria uma mensagem muito ruim se o Brasil tivesse apoiado estudos para isso, porque tem indústria considerando 15 anos, mais 15 de renovação, para uso de satélite, e isso poderia causar degradação."
Na visão dele, isso não acarretará em problemas para o mercado brasileiro, já que terminais seriam multibanda e compatíveis com a faixa até 30 GHz. Além disso, há mais espectro que pode ser utilizado: "Se somarmos tudo, são mais de 30 GHz para possível identificação na IMT-2020", diz, referindo-se à nomenclatura da 5G na UIT. Além disso, não há impedimento de usar faixas mais baixas de forma complementar na quinta geração.
A agência estuda ainda usar "nos próximos anos" a banda de 1,5 GHz, identificada para IMT na América do Sul. Será preciso atualizar a regulamentação para incluir o SMP na faixa, mas a agência já discute na UIT possíveis arranjos. "Uma opção é usar apenas o downlink, então estamos acompanhando as discussões para que, depois que a UIT tenha feito possíveis arranjos, a gente discutir (internamente)".
Desafios para 2020
No momento, o Brasil conta com 897 MHz destinados para o SMP, embora nem tudo esteja em uso, segundo o gerente da Anatel. A quantidade é conflitante com o divulgado na sexta-feira, 15, pela associação setorial 5G Americas, que afirmou que as operadoras brasileiras contam com um total de 542 MHz. De toda forma, de acordo com Agostinho Linhares, a intenção da Anatel é de aumentar o total para 1.060 MHz até 2020. Em junho deste ano, a UIT-R terá nova reunião para discutir desempenho e requisitos técnicos, critérios de avaliação para o grupo de trabalho de 5G.
"Precisamos adaptar o ambiente regulatório para essa tecnologia nova que vai lidar com muito mais dispositivos, células, e precisamos também mudar um pouco o modelo de licitações de 5G para que não sejam apenas com âmbito arrecadatório, mas também se pense em fomentar e usar a tecnologia como benefício da indústria e pessoas", disse o gerente de soluções de rede da Nokia, Roberto Falsarella. A fornecedora conta com parceria de pesquisa e desenvolvimento em futuras redes móveis na Europa e nos Estados Unidos e estuda acordo também no Brasil para "desenvolver algumas aplicações específicas".
O diretor de marketing da Ericsson para a América Latina, Jesper Rhodes, explica que a 5G surgirá de forma complementar às outras tecnologias como 3G, 4G e Wi-Fi. Ele ressalta que o próprio LTE continua evoluindo não apenas com agregação de portadoras, mas com padrões de banda estreita (narrow band) e em conjunto com espectro não licenciado (LTE-U). Mas alerta para desafios técnicos. "Quando a gente aumenta a frequência, a transmissão acaba se aproximando das propriedades da luz: se tiver coisa no meio da propagação da luz, ela acaba sendo atrapalhada", diz. "Dependendo da faixa, novas modulações também serão aplicadas, porque a propriedade muda se for acima de 50 GHz, 60 GHz ou 80 GHz."