Um dos maiores desafios na gestão de ecossistema de mercados e comunidades móveis é o de se adaptar às mudanças de forma rápida e inteligente, na conclusão de diretores pioneiros em aplicações de serviços no Brasil, durante congresso Tela Viva Móvel 2016 nesta quarta, 4, em São Paulo. Um dos consensos é que é necessário explorar oportunidades no ambiente físico aplicando as possibilidades da tecnologia. A aposta da companhia de aplicativo para entregas Rapiddo, por exemplo, é em se concentrar não no modo em que entrega, mas em prestar o serviço de forma digital. "A Rapiddo não é uma agência moderna de motoboy, é uma empresa de tecnologia, não temos só moto, temos van, Fiorino, bike, e com inteligência e desenvolvimento baseado em minha nuvem, com autorização e tempo real", explica o COO da companhia, Jhonata Emerick. Ou seja: ele não concorre diretamente com empresas tradicionais de entregas, mas utiliza a tecnologia para fazer delivery de forma inteligente e dinâmica.
O aplicativo para caminhoneiros Trackpad atua no País já com 400 mil downloads (em um universo de mais de um milhão de caminhoneiros no total), com 450 mil ofertas de cargas por mês, prestando serviço de roteirização e de contratação. Segundo o co-fundador e diretor da empresa, Leandro Morais, a Trackpad participou de um processo de "evangelização", levando o caminhoneiro a utilizar smartphone e instalar o aplicativo, especialmente após a companhia ter chegado ao grupo Movile. "Temos muito que aprender e a melhorar, a gente sabe disso, podemos ser muito mais eficientes para ajudar o transporte rodoviário no Brasil para fazer o caminhoneiro ficar muito menos ocioso", declara. De acordo com Morais, o motorista ficava entre sete a dez dias de espera antes do app, e agora, com o serviço digital, fica apenas de um a dois dias ocioso.
Fundador da Easy Taxi, Tallis Gomes enxergou oportunidade no mercado de serviços de beleza, de valor global de US$ 557 bilhões, e agora investe em um novo aplicativo: o Singu. Como fundador e CEO da nova empresa, Gomes espera poder oferecer um serviço mais direcionado às necessidades do cliente. "Hoje, você fica se adaptando à agenda do prestador de serviço", reclama. Para tanto, ele afirma oferecer um "salão de beleza de luxo com preço de salão de bairro", com atendentes que passam por curso de treinamento para padronizar as atividades e, assim, não gerar "favoritos". "A gente treina a menina para não ter problema, garantir que o serviço seja standard – toda menina vai tirar cutícula e esmaltar a unha do mesmo jeito", declara, comparando o padrão de qualidade com o de carros luxuosos do Uber. Gomes diz ainda que o preço consegue ser mais competitivo porque oferece share de 70% para as prestadoras de serviço, contra cerca de 50% em salões tradicionais, o que acaba também eximindo a Singu de vínculos trabalhistas.
"A gente levou 20 anos para chegar nesse estágio do e-commerce, e no celular isso leva apenas meses", destaca o diretor de market place do Mercado Livre, Leandro Soares. A companhia lançou o aplicativo em 2011 e, apesar de utilizar o ecossistema como "motor", tenta se diversificar oferecendo serviços adicionais como de pagamento (Mercado Pago) e de publicidade.
Futuro sem apps
O que o CEO da Easy Taxi, Dennis Wang, enxerga para o futuro é que a balança mudará: "o market place se tornará uma network". Isso acontecerá, na previsão do executivo, por conta da possível adoção em massa de carros autônomos, que fariam com que as montadoras passassem a fornecer serviço em vez de o produto em si, alugando os veículos. "Para a gente, é um momento interessante, mas o market place vai deixar de existir, a movimentação realmente é para automatizar os carros e concentrar tudo em um player, no caso as automotivas", declara. Será uma mudança significativa, se realmente ocorrer, para a empresa: a Easy Taxi hoje é o maior aplicativo de transporte da América Latina, segundo Wang, com mais de 8 milhões de usuários na base, 3 mil clientes corporativos (b2b), mais de 130 milhões de corridas e atuação em 32 países e 359 cidades. Em um futuro mais imediato, a companhia planeja melhorar o tempo de chegada ao ponto requisitado, para evitar cancelamentos de corridas ao reduzir espera para o usuário.
Tallis Gomes, do Singu, enxerga também o uso de robôs para o sistema do app. "Um dos grandes temas da minha recente visita ao Vale do Silício são os bots, e quem sabe programar inteligência artificial vai ganhar muita grana", afirma. Ele acredita que, para serviços, "vê um futuro catastrófico para os apps" em três anos. O executivo espera ter chatbots integrados ao Singu até o final do ano.