Enfrentando problemas macroeconômicos, o mercado brasileiro vai se firmando como uma possibilidade mais interessante para a insaciável indústria chinesa. Durante o último painel do Tela Viva Móvel 2016 nesta quarta-feira, 4, sobre a relação dos dois países, ficou claro que as empresas da China avaliam a desvalorização do real como uma boa oportunidade para tentar entrar no País, inclusive aproveitando-o como hub para a penetração na América Latina.
Recém-chegada ao Brasil, a desenvolvedora chinesa Meitu enxerga grande potencial no País. Focada em aplicativos de beleza e edição de imagem, como o MakeUp Plus e o Beauty Plus, a companhia, terceiro maior desenvolvedor da Ásia e oitavo no mundo, acredita que a crise na economia brasileira pode ser uma oportunidade. "Do ponto de vista de investimento em geral, para a gente foi muito bom", afirma a diretora de marketing da Meitu, Ludmilla Veloso. "Eles olham a questão da moeda: como está desvalorizada, é interessante, porque no final do dia temos mais dinheiro para fazer a mesma coisa."
A diretora de marketing diz que a empresa está atualmente investindo em aquisição de usuário com adnetworks, além de investimentos locais em equipes. "Não estamos focando em monetização, é na aquisição de usuário", afirma ela, destacando ainda a possibilidade de atingir o mercado latino-americano, citando Colômbia, Peru e o Uruguai.
Por sua vez, a empresa de capital sino-brasileiro Mobocity pretende expandir na região por meio de aquisições. "Começamos em setembro e compramos quatro aplicativos, três no Brasil e um no Chile", explica o fundador e CEO da empresa, Zhen Zhang. Ele relata ainda que o desenvolvimento dos apps pode ser mais barato no Brasil do que na China, e que o mercado brasileiro ainda oferece possibilidade de crescimento de penetração de smartphones, enquanto o chinês já mostra estagnação. "Eu e muitas empresas na China vemos isso como oportunidade, porque a monetização vem depois", diz. "A crise ajudou as empresas, que precisam de número para mostrar para o investidor, e eles preferem investir no Brasil agora, porque, daqui a dois anos, se o Brasil sair da crise, ficará mais caro."
O diretor de desenvolvimento de negócios da Cheetah Mobile, Flávio Tâmega, concorda. "A gente vê como oportunidade, principalmente pelos aplicativos com os quais a gente trabalha, que são gratuitos", declara. A empresa, que lançou recentemente o aplicativo CM Launcher 3D e procura focar cada vez mais no mundo móvel, tem maior penetração em mercados emergentes e diz que não tem sofrido impacto do lado de compradores de mídia. "Até porque eles estão migrando para o marketing digital", avalia.
Bons resultados e futuro retorno
Já há mais tempo no mercado nacional, a Huawei acredita que ter focado na "transformação digital" no Brasil ajudou neste momento. "Porque, quando focamos nisso, lançamos mais serviços digitais, fazendo com que operadoras monetizem mais através de SVA. Então a gente se equilibra para não perder receita", afirma o head de cloud strategic marketing da companhia chinesa, Alan Constâncio da Silva. No ano passado, isso rendeu: a operação brasileira foi a mais lucrativa da Huawei no mundo, segundo ele. Em receita, o País garantiu "participação acima de um US$ 1 bilhão", de um total de US$ 65 bilhões no consolidado de 2015 no mundo na companhia.
Apesar de não lidar com a área de consumidor final, Constâncio confirma que a Huawei pretende voltar a investir em smartphones no Brasil. Ele diz que as iniciativas anteriores foram "testes" que acabaram mostrando que "o mercado não estava preparado". Mas, com recente anúncio de avanço da empresa nesse setor, ultrapassando Lenovo e Xiaomi para ser a terceira maior do mundo em smartphones, a estratégia brasileira parece tomar forma. "Sei que a gente volta, estamos próximos de voltar, e quando voltarmos seremos muito agressivos", declarou, sem dar uma data específica.