O recém-lançado Chatclub, da Movile, será mais do que uma plataforma de criação de chatbots para o Facebook Messenger. A intenção da empresa é fazer dele uma "botstore" mundial, com um catálogo diversificado de robôs que poderão ser combinados entre si por marcas e empresas se comunicarem com os consumidores dentro do bate-papo do Facebook Messenger, revela Paulo Curio, vice-presidente da Movile.
Cabe aqui fazer um esclarecimento para a compreensão do assunto. Uma coisa são os chatbots com os quais os consumidores conversam por escrito dentro do Messenger ou qualquer outro serviço de comunicação instantânea, como se fossem contatos em sua lista de amigos. Outra coisa é a inteligência artificial por trás desses chatbots para compreender o que o usuário escreve e realizar a ação solicitada. Essa estrutura por trás pode ser composta por diferentes "bots" combinados, de variados desenvolvedores. Ou seja: o chatbot pode ser a mistura de vários bots que o consumidor nem precisa saber quais são. Para facilitar a distinção, MOBILE TIME passará a usar em suas matérias daqui em diante essas definições dos termos chatbot e bot.
A proposta do Chatclub é ser um grande marketplace onde desenvolvedores publicarão seus bots para serem livremente combinados na construção de chatbots. Inicialmente, ele traz quatro bots básicos, criados pela Movile e atrelados ao conteúdo de fanpages no Facebook. Um serve para entregar conteúdo (na prática, enviar posts da página como mensagens dentro do bate-papo); o segundo, para a navegação em um catálogo de produtos; o terceiro, para criar uma sala de bate-papo em grupo para os fãs da marca; e o quarto, para envio de mensagens para os administradores da página. Em breve, a Movile incluirá um quinto bot, focado em pagamentos, que permitirá a compra de produtos ou serviços através de uma conversa com o chatbot, pagando via cartão de crédito, boleto bancário ou carrier biling na fatura telefônica, aproveitando a conexão que a Movile tem com as plataformas de billing das teles.
Além desses bots básicos, a Movile vai acrescentar bots de alguns dos seus apps de serviços O2O (online-to-offline). O Rapiddo, seu serviço de entrega de encomendas com motoboys, por exemplo, fará parte de um bot de logística. Isso significa que qualquer marca que crie um chatbot com o Chatclub poderá incluir o bot do Rapiddo para passar a ter um serviço de entregas. Assim, quando o consumidor comprar um produto e fornecer seu endereço para a entrega, o bot do Rapiddo será acionado para calcular o frete e iniciar o processo de coleta e envio da encomenda. Para o consumidor isso será transparente: sua comunicação será toda feita dentro da mesma janela de bate-papo, com o chatbot da marca ou loja em questão.
A Movile abrirá o Chatclub para bots de terceiros. Inclusive já está conversando com alguns apps de grande porte que querem incluir bots no Chatclub. Seria natural que vários serviços de O2O sigam esse caminho, como apps de chamada de táxi, de delivery de comida ou de venda de ingressos. Desta forma, em um exemplo hipotético, um bot do Uber e outro do Ingresso.com poderiam ser integrados a um chatbot de uma casa de shows. Assim, quem conversasse com essa casa de shows pelo Messenger poderia comprar um ingresso via Ingresso.com e ainda pedir um Uber para ir até o evento, tudo através do bate-papo com o robô da casa de shows.
"O Chatclub será um marketplace para distribuir bots. Já estamos conversando com dois grandes players em apps que querem entrar com seus bots dentro do Chatclub", diz o vice-presidente da Movile. Ele acredita também que os bots podem ser uma solução para apps que encontram dificuldade de distribuição nas lojas de aplicativos. "Bots são mais democráticos. Vieram para atender os 98% de apps que ficam no limbo dentro das lojas de aplicativos porque não conseguem ser distribuídos. Esses apps serão convertidos em bots", aposta.
Para ser publicado no Chatclub, cada bot precisará ser submetido à Movile, que vai verificar se ele atende aos termos de serviço antes de liberá-lo. A ideia é que a aprovação aconteça entre 48 e 72 horas, mas isso vai depender do volume de bots submetidos. A expectativa da Movile é ter dentro de um ano alguns milhares de bots do mundo inteiro no catálogo do Chatclub. Será como uma cauda longa: uma quantidade pequena, talvez entre 50 e 100 bots na previsão de Curio, serão os mais utilizados. O executivo imagina que cada chatbot será composto por uma pequena quantidade de bots, dificilmente passando de 20.
O Chatclub está disponível em inglês, português e espanhol. Ele está sendo construído com o conhecimento e o apoio do Facebook. Vale lembrar que a Movile foi convidada pelo Facebook para criar alguns dos primeiros chatbots para o Messenger, divulgados durante a conferência F8, em abril, na Califórnia. Hoje o Facebook não tem sua própria botstore. Se um dia decidir criá-la, poderia atrapalhar os planos da Movile. Sem dúvida, é um risco que a empresa brasileira corre, reconhece o próprio Curio.
Modelo de negócios
A Movile ainda não definiu um modelo de negócios para o Chatclub. Por equanto, seu foco está na divulgação do conceito e na geração de engajamento em torno da proposta de uso de bots, pois ainda é necessário convencer marcas e empresas a aderirem à ideia. Uma das possibilidades, no caso de venda de bens e serviços digitais, seria cobrar uma participação na receita. Outra possibilidade seria cobrar por interação com o consumidor. "O modelo ainda está muito aberto. Faremos alguns testes. Mas queremos manter uma relação de ganha-ganha", comenta.
Bots Experience Day
A Converge Comunicações está organizando o primeiro seminário brasileiro sobre o ecossistema de chatbots, o Bots Experience Day, que acontecerá no dia 5 de outubro, no WTC, em São Paulo, dentro da 9a edição do Forum Mobile+. A agenda está sendo elaborada e será divulgada em breve no site do congresso: www.forummobile.com.br.