Levar cobertura de telefonia celular de forma economicamente viável para o interior do Brasil é um desafio para as operadoras móveis. Mesmo com o barateamento dos equipamentos das redes de acesso, ainda há muitos casos em que as contas não fecham. Mas se as operadoras se unissem e construíssem uma rede única para uso comum, as história seria diferente. Em cidades com menos de 30 mil habitantes, o CTO da TIM, Leonardo Capdeville, propõe o compartilhamento completo, também chamado de “full sharing” ou “single grid”. A ideia consiste em ter uma rede única, na qual torres, equipamentos eletrônicos, espectro e bakchaul em todas as frequências e padrões sejam compartilhados entre as operadoras, dividindo assim o investimento e o custo de manutenção.

“O Brasil é um país extremamente heterogêneo. Quanto mais você caminha para o interior, mais cara é a prestação de serviços, seja pelo investimento seja pelo custo de manutenção. No interior, tem alto custo, alto investimento e baixa densidade populacional, o que significa limitação de receita. Prestar serviço nessas áreas é extremamente oneroso. A grande maioria dessas pequenas cidades são deficitárias do ponto de vista de retorno do investimento. Se pegarmos as cidades abaixo de 30 mil habitantes, qual a necessidade de ter duas ou três redes físicas operando? Porque não ter uma única rede física, com serviço de melhor qualidade, compartilhando os meios físicos, o espectro e a eletrônica?”, comenta Capdeville, em entrevista a Mobile Time.

O executivo cita o caso de uma cidade no interior em que a há sete torres. Duas da TIM em 4G, duas de uma segunda operadora, em 3G, e três de uma terceira, também em 3G. Em vez de sete torres, daria para ter uma excelente cobertura com apenas quatro com full sharing e aí a cidade inteira teria cobertura 4G.

Hoje, a TIM é a líder em quantidade de cidades cobertas com 4G. São mais de 3 mil, sobre um total de 5,5 mil municípios existentes no Brasil. Capdeville reconhece, contudo, que esse diferencial competitivo é passageiro, pois as coberturas tendem a se igualar no futuro. O ideal é que a expansão da infraestrutura no interior acontecesse de forma mais eficiente e otimizada, e o full sharing seria a solução.

Vale lembrar que o compartilhamento de redes não é algo novo no Brasil. Ele já acontece entre algumas operadoras em frequências e regiões específicas. Oi e TIM, por exemplo, compartilham a rede 4G na frequência de 2,6 GHz. O full sharing, conforme proposto, seria um passo bem maior, abrangendo todas as teles em todas as frequências, mas somente no interior do País.

Capdeville acredita que a Anatel seria favorável a tal projeto. Mas é preciso antes convencer as demais operadoras. “Temos tentado um diálogo com as outras operadoras a esse respeito. É um plano que faz sentido. O que não conseguimos é casar uma agenda para que isso passe a ser incorporado nos planos industriais das empresas”, relata o CTO da TIM.

2G

Em paralelo, há uma discussão em andamento no mercado brasileiro sobre a possibilidade de unificação das redes 2G, para reduzir o custo de manutenção e liberar espectro para o 4G, informam outras fontes do setor de telecom. O desligamento da rede 2G por enquanto é descartado, em razão da grande quantidade de dispositivos que a utilizam em aplicações de comunicação entre máquinas, como aquelas de pagamento por cartão de crédito/débito, chamadas de máquinas de POS. Sobre isso, Capdeville avalia que a redução de custo de manutenção não seria tão significativa. O mais importante seria a liberação do espectro de 2G para a sua reutilização no 4G. “Reduzir o uso do 2G é mais importante do que desligar a rede 2G. Podemos reaproveitar o espectro no 4G”, explica.

 

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