Os desenvolvedores de tecnologia de mobilidade veem o atual modelo de transporte público brasileiro defasado. Para gestores de Alstom, Volvo, Toyota, Clever e World Resources Institute (WRI Brasil), as novas tecnologias pedem passagem, à medida que a população pede por mais qualidade em modais como ônibus, metrô e trem, e compara essas tecnologias com serviços baseados em aplicativos, como serviços de compartilhamento de carros e táxis.

“O modelo que temos é insustentável. Só de você transformar gasolina em carros elétricos não supre a necessidade. Temos lacunas de infraestrutura no Brasil. Na maioria das cidades brasileiras, o sistema de transporte público se resume a ônibus, e, quando falamos em multimodalidade, algumas cidades têm carros, táxis e metrô. Mas precisamos falar de mais opções”, disse Cristiano Saito, diretor de negócios da Alstom no Brasil.

Em palestra durante o Smart City Business América nesta segunda-feira, 16, em São Paulo, os executivos das quatro companhias e a ONG WRI falaram sobre mobilidade como serviços (Mobility as a Service ou MaaS, na tradução em inglês), mas também imaginaram como seria o cenário ideal dos transportes públicos no Brasil. Em especial para as novas gerações que chegam ao mercado de trabalho.

“A juventude quer um modal ativo. A gente quer sair do modelo antigo para o novo, baseado no compartilhamento. Não pode colocar o carro autônomo sem pensar em infraestrutura e política. Os problemas vão continuar os mesmos, só que sem o motorista”, explicou Maurício Consulo, diretor de desenvolvimento de negócios da Clever para a América Latina.

“Eu preciso mudar políticas de regulamentação, urbanismo e integração entre modais. Eu preciso de uma visão integrada. Se não tiver integração, eu começo a falhar e a voltar ao modelo antigo. Os aplicativos são fundamentais, fantásticos, mas preciso ter uma orquestração por trás”, completou Consulo.

Problemas no trânsito

Entre os entraves, os especialistas veem problemas de clareza do governo federal para uma política pública de transportes. Além disso, eles acreditam que falta uma regulamentação mais sólida e de arquiteturas sólidas, baseadas em ITS (“intelligent transport system”, em inglês), de modo que seja mais suscetível e segura a troca de informações entre cidades e empresas de transportes.

“Sobre a padronização de dados e a segurança de dados, se não conseguirmos gerar arquitetura e segurança, vamos travar o futuro do transporte e continuar no mesmo modelo”, disse William Chernicoff, gerente sênior de pesquisa e inovação da Toyota Foundation.

“Se quisermos criar um sistema público de transporte realmente modal, que entregue o passageiro de porta a porta, nós precisamos ter um sistema aberto. E precisamos de regras, de regulamento. Não podemos cravar o progresso, temos que ter cuidado e não pular etapas”, completou Chernicoff.

Esperança e inovação

Por sua vez, Ayrton Amaral, diretor de mobilidade urbana da Volvo do Brasil, frisou que o futuro está nas empresas privadas. Elas devem atuar como “provadores, integradores e agregadores” de transporte de massa, inclusive em soluções de carros autônomos e conectados. No entanto, ele pediu por menos entraves à inovação.

“O incentivo aos negócios não é dos maiores. E isso começou com Barão de Mauá no século 19. Isso é um problema grave no Brasil. Se você não tem regras que permitam o avanço, o avanço não acontece. Por isso que na Volvo, a visão de longo prazo que nós vemos é: quem vai puxar são as empresas privadas. Tem que ser sempre empurrado pela iniciativa privada”, disse Amaral. “O governo tem que regular, não tem que atrapalhar”.

Por sua vez, o único representante que não pertencia à empresa alguma, Luis Antonio Lindau, diretor da WRI Brasil, tem a esperança que o cenário com as eleições, e a entrada de um novo governo, trará mais estabilidade para o País avançar.

 

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