Com a greve de caminhoneiros e a crise de abastecimento, os cidadãos das grandes cidades começam a procurar por alternativas de locomoção, como o uso de bicicletas. Um exemplo é a cidade de São Paulo, que possui 2,6 mil bicicletas em 260 estações do BikeSampa, gerenciado pelo Itaú.

Conforme adiantado por este noticiário, o paulistano ganhará mais uma opção para pedalar pela cidade: a Mobike (Android, iOS), uma empresa chinesa que possui mais de 9 milhões de bicicletas inteligentes circulando em mais de 200 cidades ao redor do globo. Recentemente, a companhia firmou acordo com a prefeitura de São Paulo para operar a partir do próximo mês. Inicialmente terá 2 mil bicicletas.

Para detalhar um pouco mais sobre a operação da plataforma de transportes, o Mobile Time conversou por e-mail com Chris Martin, vice-presidente de expansão internacional da companhia. O executivo detalhou um pouco mais sobre a plataforma, planos de expansão, parceiros e concorrência local.

Como funciona

Com fechadura inteligente proprietária com GPS integrado, a solução da Mobike consiste em um app que permite ao usuário fazer o aluguel de bicicletas inteligentes que estão pela cidade, com pagamento in-app. Para usar a Mobike, o usuário deve baixar o app; localizar e escolher a bicicleta mais próxima; e desbloquear o acesso ao veículo com o QR Code – que aparece em uma pequena tela da bicicleta. O pagamento é feito via app, mas ainda não está claro se será  via cartão de crédito ou débito. Lá fora, as duas opções são aceitas, inclusive na América Latina. O usuário paga o serviço à medida que usa a bicicleta, um formato que é conhecido como “Pay As You Drive”. As bicicletas possuem GPS e conectividade celular. Diferentemente de outros serviços de compartilhamento de bicicletas, que têm estações, a Mobike permite que o usuário deixe e pegue a bike em qualquer lugar da cidade.

“Isso significa que nosso usuário pode ver e localizar facilmente a Mobike mais próxima por meio do aplicativo Mobike. E significa que podemos monitorar constantemente a localização e a “saúde” de nossa frota de bicicletas – e, quando necessário, podemos intervir (por exemplo, quando uma bicicleta é danificada ou estacionada em um local inadequado)”, explicou o vice-presidente da empresa. “Também operamos a maior rede de IoT do mundo – essa tecnologia avançada significa que temos a capacidade de implantar com rapidez e eficiência nossos ativos para atender à demanda do consumidor. Ninguém mais pode fazer isso”.

Made in China

Com mais de US$ 1 bilhão de investimento levantado dois anos após sua fundação, a Mobike  pretende trazer mais de 100 mil bicicletas para os paulistanos. Questionado quando essas bicicletas chegam para a capital paulista, o vice-presidente da companhia explicou que dependerá da demanda. Inicialmente, um lote menor será importado da fábrica da Mobike na China, mas o executivo não descarta abrir fábricas na América Latina.

“Nosso primeiro lote de bicicletas será importado da China. Considerando nossas metas de longo prazo para a Mobike na América Latina, avaliamos a fabricação de bicicletas personalizadas para o público sul-americano no Brasil como uma característica potencialmente estratégica para nossos próximos passos no País e na região”, revelou o gestor.

“Estamos posicionados para ter sucesso, pois construímos uma cadeia de fornecimento completa e a mais alta capacidade de produção. Somos uma operação orientada por dados em: produto, design, manufatura, gerenciamento da cadeia de suprimentos até a pesquisa e desenvolvimento de aplicativos. Nos últimos dois anos, fabricamos e operamos com mais de 9 milhões de unidades e continuamos a otimizar o processo de produção para a melhor experiência na cidade de bicicletas compartilhadas”, completou.

O representante da Mobike relatou ainda que, quando adicionadas à cidade, as bicicletas ficarão em áreas de alta densidade.  Em especial, esses meios de transporte devem ser usados para completar a jornada do usuário e cobrir suas necessidades do cotidiano na “última milha”. Como ir de casa até um ponto de ônibus ou estação do metrô, para chegar ao trabalho, e assim diminuir o uso de carros e motocicletas.

Modelo de negócios

Considerada uma das principais empresas do mundo no modelo de bike sharing, a Mobike foi comprada pela Meituan-Diaping por US$ 2,7 bilhões em março deste ano. A investida da gigante do e-commerce deu mais “oxigênio” para a Mobike fazer sua expansão global e, como resultado, o Brasil ganhou espaço na agenda da empresa. Sem revelar valores, Martin frisou que o Brasil terá um dos maiores investimentos da Mobike fora da China. Para isso, a empresa de transporte está em fase final de conversa com investidores e parceiros locais. De acordo com o executivo, o intuito dessas parcerias é que “o melhor dos negócios locais seja alinhado e investido” para o sucesso local da Mobike.

Sobre telecom, ele disse que já possui uma parceira global, mas conversa com empresas locais. Em relação aos meios de pagamento e varejistas, Martin explicou que estão estruturando o serviço com companhias e marcas locais. “O pagamento é uma área em que estamos sempre buscando estabelecer as melhores parcerias, então não há ninguém na cidade que não possa participar do esquema”, finalizou.

Sem concorrência

Outro ponto crucial para Martin em relação ao modelo de negócios é que – em sua visão – não há concorrência direta com o Itaú. Ele explicou que o modelo do BikeSampa é ancorado, enquanto o formato da Mobike é dockless. Ou seja, o usuário não precisa pegar e deixar a bicicleta em uma das 260 estações, mas em qualquer ponto mais próximo.

“Lançamos o Mobike em cidades como Milão, Paris, Cidade do México, Santiago, Xangai, Londres e muitas outras onde há serviços de compartilhamento de bicicletas com estações. Eles nunca foram realmente concorrentes, já que o dockless é capaz de atender a muitos usuários diferentes, com necessidades fora das rotas ancoradas e uma gama muito maior de consumidores”, disse Martin. “Somos capazes de adaptar o número de bicicletas à demanda, mover para locais de alta demanda, otimizar e ajustar diariamente com nossos dados em tempo real, por isso estamos sempre atendendo às demandas dos usuários todos os dias. Este é um modelo muito diferente do que está atualmente disponível no Brasil”.

Utilização no Brasil

Ao ser perguntado sobre as expectativas de uso, dificuldades e diferenciais de São Paulo – e eventualmente do Brasil – em relação às outras 200 cidades que atua, Martin explicou que os desafios não são diferentes de outras operações. Além disso, ele aguarda uma rápida adesão, como aconteceu em outras duas cidades latino-americanas, como Santiago e Cidade do México: “Nos últimos dois anos, gerimos com sucesso a nossa frota na maioria das megacidades do mundo: Xangai, Cingapura, Sidney, Londres, Paris, Milão, Cidade do México, Santiago, etc. Desde áreas urbanas com uma ciclovia bem desenvolvida e infraestrutura de transporte, até cidades com um sistema em desenvolvimento, variando de temperaturas abaixo de zero até áreas tropicais, úmidas e quentes, planas ou montanhosas, na Ásia, Europa, Oceania e nas Américas”. E continua: “Essa diversidade de ambientes acelerou nossa curva de aprendizado, melhorou significativamente nosso manual de estratégias e a probabilidade de sucesso. Isso é evidenciado pela crescente taxa de sucesso de nossa gestão de operações, satisfação do cliente e integração efetiva à vida da cidade e ao transporte público em todos os novos mercados. Nossa teoria tem se mostrado correta na América Latina, já que Cidade do México e Santiago, dois de nossos mais recentes lançamentos, aderiram rapidamente ao Mobike como meio de transporte, atividade física e diversão. Com o Brasil não será diferente”, completou o executivo.

Prefeitura e Mobike

Um dos pontos principais da parceria entre Mobike e a administração da capital paulistana é a troca de dados. O executivo da empresa de transportes foi perguntado sobre quais informações serão passadas à prefeitura e como será feita essa transmissão de dados. Martin revelara que serão compartilhadas informações (não individuais) sobre passeios e tráfego, de forma que alivie o gargalo do trânsito na capital paulista.

“Por meio da tecnologia de processamento de dados da Mobike, nós pretendemos compartilhar relatórios e white papers. Cumprindo com a regulamentação de compartilhamento de dados de São Paulo”, explicou o vice-presidente da empresa. “Nossa tecnologia de processamento de dados já foi utilizada por dezenas de cidades ao redor do mundo com informações precisas sobre o tráfego que guiaram governantes a implementar diversas ações de melhoria no transporte público, infraestrutura de bicicletas e instalações de trânsito”.

Vale lembrar, São Paulo tem parceria similar com Waze e com aplicativos de transporte, como 99, Cabify, Easy e Uber.

 

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