Mesmo sendo uma empresa norte-americana, a Cisco já adotava a nova regulação de privacidade de dados da União Europeia, a General Data Protection Regulation (GDPR), antes mesmo de ela entrar em vigor em maio deste ano. De acordo com a SVP da unidade de business e marketing de produtos da companhia, Christine Heckart, esse regramento é implantado globalmente. “Não era muito diferente do que já estávamos fazendo. Uma vez que tenhamos política, se tiver uma razão localmente, aplicamos”, declarou ela a este noticiário.

Há uma razão para isso. A própria Cisco coleta algumas informações e as deixa disponíveis aos consumidores, uma política aplicada a todos os produtos. “Deixamos clientes verem e coletarem dados na rede, mas também se beneficiarem globalmente em ameaças de vetores, e deixarem garantido que é anonimizado – se a gente ver uma assinatura de malware, eles se beneficiam.”

Heckart considera que o GDPR é “uma coisa boa” para que governos e a população em geral passem a prestar mais atenção aos dados coletados. “Eu enalteço a União Europeia por colocar isso para cobrir todos os cidadãos, porque basicamente pavimenta o caminho para o mundo tudo”, declara.

Efetividade

Entretanto, ela chama atenção para a possibilidade de relativização do assunto devido ao excesso de companhias detalhando as políticas de privacidade. No entendimento da executiva, “ninguém parece se importar ou mudar o comportamento” – justamente porque não leem as diretrizes e acabam aceitando de qualquer forma, assim perdendo a utilidade da regulação. “Se for esse o caso, as leis não vão mudar muito [a situação], porque tudo o que você precisa é dizer o que está fazendo. Se for aberto, mas não mudar o comportamento, tem de pensar se essa é a abordagem certa. Mas não sabemos ainda.”

Pelo mesmo motivo, Christine Heckart diz não saber se haverá mais ou menos oportunidades para as empresas por causa do GDPR. Porém, é enfática ao ressaltar que o modelo de negócios baseado em dados é inegavelmente um potencial de receitas, uma vez que implantar conectividade em um objeto à Internet das Coisas muda a valorização (e o propósito) de forma mais drástica. “Quanto mais valor, mais usuários, e criam ainda mais valor. Com os dados, os desenvolvedores podem criar aplicações que ninguém nem pensava antes. Não seria possível sem esse tipo de informação”, explica.

Em contrapartida, a IoT cria efeitos negativos, com maior exposição a hackers, mas há possibilidade de mitigar o problema. “Mesmo com tráfego criptografado, conseguimos ver a assinatura do malware [recurso chamado stealth watch]”, diz.

Multitarefa

Diante de todas as mudanças que deverão acontecer no mercado, há o consenso de que é preciso se modernizar. Na visão de Heckart, os setores de telecomunicações e de provedor de serviços “precisam vestir dois chapéus ao mesmo tempo”, uma vez que promovem a transformação digital de outras indústrias e companhias, enquanto passam elas mesmas pelas mudanças da digitalização. “Temos de passar pela transformação juntos. Por isso que você vê a gente migrando para software e SaaS, mesmo o modo como entregamos rede, as atualizações são em tempo real, para promover KPIs, analisa.

 

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