Há duas semanas, a OAB anunciou a instauração de uma comissão para analisar o uso de bots e de inteligência artificial no exercício do direito. A motivação é um receio quanto à “industrialização” do direito, que poderia ferir o código de ética dos advogados. Especialistas entrevistados por Mobile Time não têm dúvidas: essa automatização é inevitável, mas é bem-vinda.
“Lemos noticias sobre como a inteligência artificial vai substituir diversos trabalhos, inclusive o de advogado. Esse tipo de notícia gera alarde grande e dá uma perspectiva errada sobre inteligência artificial”, comenta Eduardo Magrani, advogado e pesquisador do ITS-Rio. E complementa: “Não temos como controlar a onda de inteligência artificial. Logo, temos que parar de olhar pelo prisma da rivalidade homem/máquina e sim do aumento da demanda e do ganho de eficiência dos advogados”.
O professor da FGV e especialista em tecnologia e inovação Arthur Igreja acredita que as tarefas mais simples e repetitivas dos advogados serão invariavelmente substituídas por robôs. “Não se trata de não usar bots, mas entender aonde cabe usá-los. As tarefas monótonas e repetitivas serão delegadas para um software. É como um engenheiro que antes calculava na mão e agora usa uma calculadora”, compara Igreja.
Ou seja, a automatização trará mais eficiência para o trabalho do advogado, que poderá dedicar seu tempo a trabalhos mais intelectuais e estratégicos. É esperado que a automatização seja aplicada também do lado dos juizes, para desafogar os tribunais.
Mas, claro, é preciso que sejam estabelecidos limites, e é isso que a comissão da OAB procura. Por exemplo, sempre será necessário haver um advogado responsável por uma ação. Tal responsabilidade não poderá ser repassada para um robô.
“Embora seja difícil defini-los, é importante que haja limites. É da natureza do ser humano: a gente anseia por liberdade, mas quer que alguém nos proteja”, conclui Igreja.