A Internet das Coisas é uma das tendências tecnológicas mais debatidas no mundo hoje em dia. Contudo, pouco se discute sobre o impacto social que ela terá. Eduardo Magrani, advogado e coordenador do ITS-Rio, alerta para o risco de o advento da Internet das Coisas e da inteligência artificial agravarem a desigualdade social em países emergentes como o Brasil se o seu desenvolvimento não for tratado de forma cuidadosa e estratégica pelos governantes.
“Em países ricos, não temos problemas graves de desigualdade social pautada pelas novas tecnologias. Mas em países como o Brasil, onde já temos uma desigualdade social profunda, esta pode ser agravada pelo advento de IoT e inteligência artificial se estiverem acessíveis a só quem puder pagar por elas”, comenta Magrani.
Para evitar um apartheid digital, o coordenador do ITS-Rio recomenda que antes de mais nada os governos estudem e se informem melhor sobre os benefícios que cada tecnologia pode proporcionar para a sociedade. “Os governos precisam entender sobre as tecnologias. O que vai ser implementado? Vivemos um hype grande em torno de determinadas tecnologias, mas quando se pergunta para um governante por que adotá-las, ele não sabe responder. Um exemplo é blockchain. Querem botar blockchain em tudo mas nem sabem o que é”, critica.
Uma vez feita a capacitação por parte dos governantes para a compreensão das novas tecnologias, o passo seguinte é refletir como elas podem se tornar mais inclusivas. E só depois disso deve ser pensado um plano estratégico de adoção, recomenda Magrani.
Ele cita como exemplo positivo Amsterdã, capital holandesa, onde uma série de serviços de smart cities foram implementados, mas junto houve um cuidado para se evitar a discriminação através de algoritmos. “Uma cidade inteligente é uma cidade sensorizada na qual algoritmos extraem valor dos dados coletados. O problema é o risco se de cometer uma discriminação, como racismo, pelo algoritmo”, comenta.
O Rio de Janeiro é citado pelo especialista como exemplo negativo, porque a cidade adotou projetos tecnológicos voltados para áreas nobres, atendendo a quem já tem acesso às novas tecnologias, em vez de usá-las para ajudar a população que mais precisa.
A Internet das Coisas também traz à tona uma série de outros desafios, como a preservação da privacidade e a gestão dos dados pessoais coletados, acrescenta Magrani. “Com IoT temos um ganho de escala. Todas as discussões sobre ética e privacidade na era digital entram em outro patamar quando todas as coisas estiverem conectadas e coletando dados”, comenta.
Livro
Eduardo Magrani é autor do livro “A Internet das Coisas”, publicado pela FGV Editora. O lançamento em São Paulo acontecerá nesta quarta-feira, 25, às 18h30, na Livraria Cultura, no Conjunto Nacional.
Super Bots Experience
Magrani fará uma palestra sobre o uso de bots nas eleições brasileiras dentro do seminário Super Bots Experience, evento que acontecerá nos dias 8 e 9 de agosto, no WTC, em São Paulo, com organização do Mobile Time. A programação completa e mais informações estão disponíveis no site www.botsexperience.com.br, ou pelo telefone/WhatsApp 11-3138-4619, ou pelo email [email protected].