O serviço oficial do WhatsApp para pagamentos e transferências de valores continua em testes apenas na Índia, sem data para lançamento no Brasil. Mas isso não significa que o aplicativo de mensagens não possa ser aproveitado de forma over the top (OTT) por outras fintechs. É o que faz a recém-criada WhatsMoney, uma plataforma brasileira personalizável para pagamentos móveis.
A WhatsMoney se posiciona como uma plataforma para que grandes empresas criem os seus próprios serviços de carteira virtual móvel. Trata-se de uma abordagem B2B2C, em que a fintech oferece a solução tecnológica, enquanto o cliente corporativo se encarrega da comunicação, da venda e da gestão junto aos seus respectivos consumidores, assim como do relacionamento com uma instituição financeira e/ou com o Banco Central.
“Estamos criando um lego com várias opções. Com essas peças, cada empresa vai poder construir seu serviço financeiro personalizado. Na prática não inventamos nada, apenas botamos juntas todas as possibilidades que conhecemos”, explica Luiz Guilherme Roncato, um dos fundadores da WhatsMoney, em entrevista para Mobile Time. O executivo tem experiência no setor financeiro e de tecnologia, tendo trabalhado anteriormente na Microsoft, Stefanini, Gemalto, Mastercard, Morpho e Verifone.
Como funciona
Com a WhatsMoney é possível criar em poucos segundos uma conta virtual (conta de pagamento), apenas informando o CPF e o número celular, além de criar uma senha com seis dígitos. Tanto o cadastro quanto o gerenciamento da conta acontecem através de uma página na web, mas, eventualmente, poderia ser dentro de um app, se o cliente corporativo preferir.
Criada a conta, o usuário pode carregá-la com dinheiro através de boleto bancário ou cartão de crédito ou recebendo transferências de outros clientes. Uma vez tendo saldo, ele pode realizar pagamentos de boletos ou transferir valores para outros usuários do mesmo serviço. A identificação do destinatário é feita via número celular: basta digitá-lo ou selecionar o contato pela agenda telefônica. O comprovante pode ser enviado via WhatsApp para o destinatário. Se ele ainda não for usuário do WhatsMoney, receberá um link na mensagem para abrir sua conta. Há também um QR code para a identificação de cada usuário, no caso de pagamentos presenciais. E a solução permite o envio de links para cobrança, geração de boletos e até o uso de um POS virtual, com pagamento usando o saldo da conta ou um cartão de crédito qualquer.
Como as notificações são enviadas via WhatsApp de um usuário para outro usuário, na prática não é necessária a utilização do WhatsApp Business. Cabe destacar que não há nenhuma operação financeira realizada dentro ou através do WhatsApp. Ele é apenas o meio de comunicação entre os usuários para envio de comprovantes ou de links para pagamentos. Todos os links presentes nas mensagens levam para interações via browser. É como se fosse uma utilização over the top do WhatsApp, compara Roncato.
Vale ressaltar que as mesmas mensagens podem ser enviadas por SMS. E a qualquer momento a WhatsMoney poderia se integrar com outros apps de mensageria, como Telegram ou Skype. Ou seja, apesar do nome, o WhatsMoney não depende do WhatsApp.
Regulamentação financeira
O cliente corporativo que adota o WhatsMoney tem liberdade para escolher qual banco será seu parceiro financeiro. A empresa vai criar uma conta nesse banco dentro da qual ficarão os valores de todas as contas virtuais dos consumidores que aderirem ao seu serviço. Toda a gestão e circulação do dinheiro entre as contas virtuais dos consumidores é feita com a plataforma do WhatsMoney, sem que o banco em questão precise desenvolver ou fornecer nada de diferente. A responsabilidade regulatória perante o Banco Central cabe à empresa que contratar a solução do WhatsMoney. A fintech se posiciona exclusivamente como fornecedora de tecnologia: não é e nem pretende ser uma instituição de pagamento, garante Roncato. A intenção é deixar claro que não vai concorrer com seus clientes corporativos.
Inicialmente, portanto, cada serviço lançado com WhatsMoney é um arranjo fechado, mas nada impede que uma empresa se integre com outra, através de acordos comerciais, permitindo transferências de valores entre seus consumidores no futuro.
Modelo de negócios
Os potenciais clientes do WhatsMoney são varejistas, bancos e quaisquer marcas que queiram lançar um serviço de carteira virtual para seus usuários. O modelo será sempre white label, ou seja, o produto levará o nome da marca contratante.
“Fizemos alguns testes A/B com família e amigos. Quando usávamos o nome WhatsMoney, as pessoas queriam saber onde ficava guardado o dinheiro. Quando testamos com o nome de um banco, ninguém mais perguntou. Concluímos que não temos uma marca suficientemente conhecida e com credibilidade para clientes botarem dinheiro. Então decidimos ser plataforma, em vez de ser mais um produto de pagamentos”, relata Roncato.
Pela utilização da plataforma, a WhatsMoney cobra um valor menor que US$ 1 por usuário por mês, independentemente da quantidade de transações realizadas.
A WhatsMoney assinou recentemente seu primeiro contrato, cujo nome do cliente ainda não pode ser revelado. Uma prova de conceito será realizada a partir de outubro. O executivo espera que após 12 meses de operação, contando este e outros clientes corporativos que venham a contratá-los, a WhatsMoney terá pelo menos 1 milhão de usuários.
Desenvolvimento
O desenvolvimento da plataforma levou cerca de seis meses e consumiu aproximadamente R$ 1,5 milhão em investimentos de seus sócios. Os fundadores agora estão conversando com potenciais investidores para receberem um aporte que ajudará na construção de novas ferramentas.