O que leva as operadoras a adotar processos de transformação digital é uma combinação de pressões, seja pela tendência de erosão de receitas, pela demanda de consumidor, eficiência operacional e/ou ajuste na margem. Essa foi a visão de representantes das teles durante debate no Digital Telco 2018, evento organizado pela Teletime e TI Inside e que aconteceu nesta quarta-feira, 19, em São Paulo
A Vivo tem avançado com projetos globais de transformação, incluindo tecnologias como redes definidas por software (SDN) e virtualização de funções de rede (NFV), bem como iniciativas em inteligência artificial e cognitiva. O vice-presidente de estratégia digital e inovação da operadora, Ricardo Sanfelice, justifica que as empresas do setor estão sempre pressionadas a crescer receita, mas há ainda o impacto da percepção do investidor em relação à competição com as over-the-top. “As OTTs hoje comem as receitas e levam nossos retornos sobre investimento para patamares de nove ou dez anos atrás, o que faz com que o mercado financeiro olhe para as teles de maneira diferente”, explica. Ele justifica que o investidor considera que as OTTs não têm margens tão apertadas ou Capex intensivos como as operadoras.
“É frustrante a gente ver que temos uma série de produtos, motores de localização e footprint dos clientes mas, para lançar o produto, ainda não encontramos um modelo sustentável para negócios. Existe dificuldade em desenhar os modelos, colocar um produto escalável no mercado e nos apresentarmos como players. Ainda não encontramos um modelo ideal”, declara a head de big data & analytics da TIM Brasil, Auana Mattar. Ela explica que a operadora chegou a fazer uma parceria recente com a prefeitura do Rio de Janeiro, mas que não gerou monetização. A companhia tem “seguido bem forte” com tecnologias como NFV, preparando-se para a chegada eventual da 5G. “Vai possibilitar novos negócios com experiência bem diferenciada e eficiência operacional. É pauta, é prioridade e é uma coisa básica de sobrevivência”, declara.
Parcerias
Uma saída seria estabelecer parcerias, mas é necessário encontrar um modelo de negócios que as justifique. “Acredito que (as parcerias) sejam o caminho natural. Não necessariamente parcerias tradicionais, mas criando plataforma nas quais a gente consiga plugar diversos negócios”, explica o head de advanced analytics e business intelligence da Nextel, Vicente Alencar Jr., sugerindo que esse caminho seria mais eficaz do que o embate direto com as OTTs, ainda que estas tenham vantagens de escala global. Na avaliação dele, se as empresas entrarem na batalha de forma individualizada, quem sair na frente acaba ganhando tudo (“the winner takes it all”). “Em conjunto teria de se criar uma espécie de bureau que juntasse os dados, mas teria a barreira regulatória”, declara.
Em relação ao modelo de parcerias, Sanfelice, da Vivo, lembra que há iniciativas específicas, como a de Internet patrocinada – se um banco quer pagar o acesso para o cliente não consumir a franquia, a ação é feita em grupo de teles. Mas uma parceria mais ampla e de forma mais genérica, afirma, não existe. “Muito da cooperação tem sido por associações, como a GSMA. Elas fizeram parceria com Google para entregar plataforma similar a WhatsApp Business em escala global (refere-se à plataforma de mensageria RCS). O difícil é fazer o rollout, convencer as pessoas a usar o aplicativo”, explica o analista da Frost & Sullivan, Renato Pasquini. Ele cita ainda barreiras físicas para a transformação digital que precisariam ser eliminadas, como o SIMcard, que impedem uma venda de oferta totalmente digital para teles móveis. Isso poderia ser resolvido com a chegada do eSIM, ele lembra. Além disso, há a futura 5G, que poderá rivalizar com a fibra e outras infraestruturas físicas de acesso, permitindo uma transformação digital plena.