Nunca foi tão fácil consumir, produzir e distribuir informação. O acesso à tecnologia digital, por meio de laptops, tablets e smartphones, aliado ao surgimento de plataformas para publicação e compartilhamento de conteúdo, como redes sociais e aplicativos de mensageria, abriu as portas para que quase todos os habitantes do planeta se sentissem aptos a virarem repórteres, editores, analistas políticos, ainda que limitados à microaudiência do seu círculo fechado de amigos, ou às vezes alcançando abrangência global em um piscar de olhos.

À primeira vista, a democratização da produção e da distribuição de conteúdo é positiva, pois tira das mãos dos oligopólios midiáticos o poder da informação, descentralizando o trabalho jornalístico. Esta foi uma pauta importante de muitos movimentos sociais, que criticavam a cobertura parcial da grande mídia. Lembro do slogan do CMI, um coletivo de mídia independente brasileiro dos tempos pré-smartphone, que dizia: “Odeia a mídia? Seja a mídia”. Pois bem, o sonho de 15 anos atrás virou realidade. Hoje todos somos a mídia. Ninguém mais é um espectador ou leitor passivo. Todos participam, interagem, compartilham, produzem notícias e comentários, seja em texto, áudio ou vídeo.

Porém, há um efeito colateral bastante danoso: as novas ferramentas amplificam a disseminação de boatos a patamares nunca antes imaginados. Se antes os rumores corriam de boca em boca, agora dão a volta ao mundo em um clique. Sem se dar conta da importância da checagem de informações, as pessoas tendem a achar que uma mentira é verdadeira especialmente quando ela atende a dois requisitos: 1) se tiver sido passada por uma pessoa que conhecem e confiam minimamente; 2) se a mensagem confirmar um preconceito seu. Pronto, bastam essas duas características para que a mais instruída das pessoas vire uma agente de difamação e calúnia pelos canais digitais.

Vivemos a era da desinformação em massa. Nunca houve tantas mentiras ou meias verdades espalhadas de forma tão rápida e com tamanho alcance. E como a distribuição acontece em rede, é difícil conter seu avanço ou identificar de onde partiu. Os criadores, em geral ficam imunes, protegidos pelo anonimato da Internet. Agências de verificação de fatos realizam um trabalho hercúleo para desmentir os boatos, mas as informações verdadeiras não circulam com a mesma velocidade e nem atingem o mesmo alcance.

Atualizando para os dias de hoje a célebre frase do ministro da propaganda nazista, podemos dizer que uma mentira, se compartilhada mil vezes, vira uma verdade. Há pouco ou quase nada a ser feito.

Chegamos a um ponto tão confuso que até notícias verdadeiras são acusadas de serem falsas. É a fake fake news. Não raro, isso acontece por má fé.

No meio desse cenário caótico, como se informar com qualidade? Na era da desinformação em massa, a saída será a revalorização dos veículos de jornalismo profissional. É neles que devemos nos fiar, ainda que de forma crítica e reflexiva.

 

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