Aquele creme que só existe numa lojinha escondida de Berlim. Uma mamadeira que não custe os olhos da cara. Ou um vinho que não é encontrado no Brasil. Às vezes não é possível viajar, mas quem nunca pediu para um parente ou um amigo trazer algum mimo de uma viagem ao exterior que atire o primeiro algoritmo. Pensando nisso, os russos Daria Rebenok e Artem Fedyaev, desenvolveram a plataforma Grabr (Android, iOS), que conecta compradores a viajantes.
O aplicativo foi desenvolvido em 2015 em São Francisco e ganhou organicamente usuários no Brasil rapidamente. No entanto, somente neste ano que a startup montou uma base em São Paulo, com a gerente de marketing Michele Chahin à frente.
Como funciona
Ao entrar na plataforma, o interessado em comprar um produto deve descrevê-lo e deixar um link onde seja possível comprá-lo no exterior. A partir dessas informações, viajantes que estejam indo ou voltando dessas localidades e que podem trazer o produto em questão iniciam uma negociação da taxa de recompensa.
O viajante pode pedir uma porcentagem calculada a partir do valor do produto ou um valor fechado. No primeiro caso, a média brasileira é de 10-15% (com exceção de São Paulo, cuja média é de 15-20%). Já no segundo, o viajante pode calcular de acordo com a dificuldade em comprar a mercadoria. Por exemplo, caso não seja possível comprar online e ele precise ir até uma loja específica, o viajante pode cobrar um valor fechado, mas que seja justo para ambas as partes.
Pagamento in-app
Ao fechar com um viajante, o comprador paga pelo produto via aplicativo com o cartão de crédito, porém, o montante fica retido na plataforma do Grabr. Ao voltar, o viajante deve entregar a mercadoria ao comprador, que, por sua vez, só libera o pagamento quando clicar no botão que confirma o recebimento do produto.
“Todas as preocupações que podem ocorrer no meio do caminho – como ele ser taxado na alfândega ou qualquer coisa durante o percurso do viajante, é de responsabilidade dele. Educamos muito o viajante a só trazer o permitido porque senão ele pode morrer na praia, com o dinheiro dele. Se o meu produto não chega, posso pedir meu dinheiro de volta na plataforma”, explica Chahin. Ou seja, trazer produtos que passem os US$ 500 permitidos pela Alfândega pode ser uma má ideia. “Ele não pode fazer nada errado porque, se for pego, ninguém vai compensá-lo. Ele sabe do risco”, completa.
Depois de mercadoria entregue, viajante e comprador se avaliam.
Cálculo do valor final
É importante fazer os cálculos para saber se comprar o produto não sairá mais caro se adquirido no Brasil – caso ele exista por aqui, claro. Além da taxa do viajante, o comprador precisa ficar atento à taxa do país onde o produto será comprado. Ou seja, ao comprar US$ 100 em mercadoria nos Estados Unidos, é preciso lembrar dos impostos que não estão na gôndola, e que estão em torno de 8%, dependendo do estado. Além dos impostos, o Grabr cobra taxa de 7% sobre cada transação. Assim, aquele produto de US$ 100 tem acréscimo de mais US$ 8 dos impostos (por exemplo) e mais US$ 7 do Grabr (note que todos os valores são sobre o valor “inicial” do produto).
Economia
Segundo a plataforma, a economia para os brasileiros costuma ser de 30% a 40%, em média, podendo chegar a 70% em épocas de campanhas promocionais, como a Black Friday. Segundo o Grabr, as mercadorias mais procuradas e que também geram mais economia para os compradores brasileiros são os eletrônicos e os produtos para bebês.
Tíquete médio e ganho do viajante
Até pouco tempo, o tíquete médio de compra era de US$ 190. Hoje em dia, está em US$ 250. Segundo a gerente de marketing, há muito volume de compras de valores menores e poucos pedidos de produtos cujo tíquete é muito alto, como smartphones e notebooks.
Para o viajante, a média de ganho é de US$ 600 por viagem. “A cada 10 ou mais itens que você entrega, a plataforma dá ao viajante um brinde de US$ 100. É uma ação nossa para estimular a termos mais entrega por viajante”, explica.
Brasil, o alvo
Ao longo dos três anos de vida do Grabr, a Argentina se transformou no mercado mais importante para a plataforma em todo o mundo. “Quando começamos, jogamos nosso MVP e quem respondeu mais rápido foi a América Latina. A Argentina em especial: ela é o maior mercado em números, mas ela é desigual em números de viajantes”, conta Chahin.
No entanto, com a crise por lá, e apesar de crise por aqui, o Brasil vem ganhando importância rapidamente. Dos 550 mil usuários cadastrados, 200 mil são brasileiros, com uma média de 40-50 mil MAUs (usuários ativos mensais, na sigla em inglês).
“No Brasil, há muito turismo e o brasileiro gosta de viajar. O País é um ecossistema perfeito para o Grabr. O que a gente precisa é educar mais o comprador a confiar. Uma das barreiras é o brasileiro ser high touch, ou seja, de precisar do contato pessoal, muita gente indicando antes do uso”, explica a gerente de marketing
“A crise atrapalha e ajuda. Tivemos, de um lado, o dólar que subiu e, consequentemente, o volume de compras de determinados produtos caíram. Por outro lado, o volume de produtos do dia a dia cresceu”.
Expansão
A startup está no momento de expansão. Teve, recentemente, investimento série A de US$ 18 milhões com alguns fundos de venture capital, sendo o Foundation Capital o mais importante. No início de 2019 devem promover investimento série B para seguir com o crescimento.
Viaje mais
Segundo a gerente de marketing, muitos turistas estrangeiros aproveitam o Grabr para vir com mais frequência ao Brasil. “Nossa proposta é que as pessoas viajem mais. Nossa ideia é ser sem fronteiras, ou seja, pessoas acessando produtos que não são encontrados no Brasil ou com valores muito altos, e estimular que viajantes viajem mais e financiem seus passeios”.