Quando a Denso Wave, uma indústria de autopeças japonesa, inventou o QR Code na década de 1990, a ideia era melhorar processos fabris e permitir que componentes automotivos fossem identificados rapidamente por scanners óticos.

De lá para cá, os tais Códigos de Resposta Rápida (QR Code, em Inglês) se popularizaram, passaram a fazer parte da vida de bilhões de pessoas e têm sido usados para identificar produtos, apresentar endereços web, enviar cupons e para uma infinidade de outras aplicações, dentre elas, claro, pagamentos.

Segundo a empresa de marketing digital Juniper Research, cupons apresentados em QR Code saltarão de 1,3 bilhões por ano em 2017 para mais de 5 bilhões em 2022 e pagamentos com esta tecnologia crescerão 300% nos próximos 5 anos. Na China e em outros mercados emergentes, a presença de atores como Alipay, WeChat e China Union Pay, faz com que o volume de transações realizadas por QR Codes supere as transações em espécie e cartões tradicionais.

Facebook, Pinterest e Amazon vêm testando novas utilizações e há rumores de que o Google em breve também oferecerá pagamentos peer-to-peer (P2P) baseados em QR Codes no Google Pay. Nas últimas semanas, diversas iniciativas vêm sendo lançadas no mercado brasileiro, dentre elas o QR Code Pay da Cielo, Mercado Pago e o paySmart Capture.

E o que faz dos QR Codes algo tão especial?

Não é exagero dizer que o que torna QR Codes especiais é sua extrema simplicidade. É possível gerar e capturar QR Codes com hardware simples, com pouco processamento e com câmeras de baixíssima resolução. Até câmeras praticamente inúteis para uma selfie decente são capazes de capturar um QR Code. Estes códigos também podem ser impressos em praticamente qualquer impressora, apresentados em telas pequenas (de POS a relógios) e até desenhados. Há QR Codes em anúncios, em plantações para serem vistos (e capturados) do céu, em tatuagens e muitas outras opções originais.

QR Code vs NFC

Em um mundo com tecnologias de pagamento mais avançadas como NFC (Near Field Communication) e Bluetooth Low Energy (BLE), parece contraintuitivo prever o sucesso de, essencialmente, um código de barras em duas dimensões. Mas, diferentemente dessas tecnologias de pagamento que dependem de infraestrutura – tanto no terminal quanto no telefone – a tecnologia de QR Codes está “disponível” em praticamente qualquer telefone. QR Codes não dependem de antenas, middleware ou kernels. Basta gerar e capturar. No Brasil, por exemplo, embora o hardware da maioria dos terminais de pagamento (POS e PIN Pads) já esteja preparado para transações NFC, o volume de transações com cartões sem contato, pulseiras, tags, Apple Pay ou Samsung Pay ainda é irrelevante, justamente devido ao baixo número destes dispositivos. Em abril de 2018, o site PYMNTS, levantou que, nos Estados Unidos, por exemplo, somente 3% dos usuários fizeram alguma compra com Apple Pay, 1% com Samsung Pay e 1% com Android Pay. Há ainda questões de limitação de uso de NFC em telefones Apple (interfaces são restritas à Apple Pay) e falta de padronização para bandeiras independentes. Entretanto, temos diante de nós um enorme potencial de crescimento de novas tecnologias de pagamentos nos pontos de venda.

Consumidor ou Lojista (“Merchant Presented” vs. “Consumer Presented”)

Há duas principais maneiras de utilizar QR Codes em sistemas de pagamento: códigos apresentados pelo lojista (“Merchant Presented”) ou códigos apresentados pelo consumidor (“Consumer Presented”).

No “modo Lojista”, o terminal apresenta um código que é capturado pelo celular do consumidor e no “modo Consumidor”, o celular do consumidor exibe um código que é capturado pelo lojista.

A principal vantagem do modo de apresentação do lojista (“Merchant Presented”) é que fica fácil imprimir códigos em papel, por exemplo. A principal vantagem do modo consumidor é que fica mais simples implementar soluções off-line do ponto de vista do consumidor.

Em um país como o Brasil, com quase 60% de celulares pré-pagos, e severas limitações de infraestrutura de telecomunicações, conseguir completar a compra mesmo que, temporariamente, o celular do consumidor não consiga ir online (seja porque há falta de cobertura, créditos etc), faz toda a diferença.

Segurança é o grande desafio

Fraudes são um problema recorrente, principalmente nos QR Codes “Merchant Presented” impressos, onde o consumidor captura a imagem de um código estático, impresso ao lado do item a ser comprado. É relativamente fácil substituir um QR Code impresso por um código de valor diferente, ou que direcione aquela compra para outro estabelecimento. Ataques dessa natureza têm crescido muito na China e em outros mercados.

Sistemas que utilizam QR Codes para codificar um endereço Internet (URL) também acabam sendo explorados para apontar para vírus ou sites maliciosos. Na China, em 2017, 23% de todos os Cavalos de Troia e vírus foram transmitidos por QR Codes.

Em QR Codes gerados no lado do consumidor (“Consumer Presented”), técnicas como tokenização, inclusão de características dinâmicas no código e proteção do ambiente utilizado para exibir o código no celular são maneiras eficientes de eliminar problemas de segurança.

Para onde vamos?

Novas iniciativas de Pagamentos com QR Code estão aparecendo a cada dia e já não se pode mais dizer que se trata de uma tecnologia marginal. O Banco Central, criou, inclusive, um grupo de trabalho dedicado a este tema, envolvendo todo o setor financeiro que tem, como objetivo, desenvolver as bases para pagamentos instantâneos.  É algo que, definitivamente, veio para ficar. Soluções QR Codes que consigam balancear segurança com conveniência, promovendo a melhor experiência tanto para o usuário quanto para o lojista, são as que têm as maiores chances.

 

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