Uma das maiores empresas de e-commerce de viagens no mundo, a Booking.com emprega mais de 17 mil funcionários em 198 escritórios em 70 países. Além dos investimentos em tecnologias digitais, a companhia tem desenvolvido políticas e campanhas de inclusão de gênero e conta, em seus quadros, com uma Chief Executive Officer que defende a bandeira da diversidade em TI como prioridade para os negócios e sucesso da companhia. Em entrevista exclusiva para Mobile Time, Gillian Tans aborda mulheres em TI, planos da empresa para o Brasil e investimentos em plataformas móveis. A executiva foi palestrante da última edição do WebSummit, em Lisboa.
Mobile Time – Quais são as principais estratégias que a Booking.com tem desenvolvido para engajar mulheres a se interessarem por Tecnologia em todo o mundo (como desenvolvedoras, criadoras de startups, jovens a ingressarem em carreiras acadêmicas e pesquisas científicas em TI, por exemplo)?
Gillian Tans – Está claro que as mulheres estão tomando as rédeas para iniciar uma mudança positiva na indústria tecnológica. Entretanto, precisamos reconhecer que a responsabilidade também recai sobre um coletivo de maior amplitude, o que inclui a indústria, companhias, criadores de políticas e educadores. Temos a oportunidade de realizar uma mudança real e duradoura hoje, além de deixarmos um legado para as próximas gerações de mulheres em tecnologia. Com esta visão, a Booking.com acolheu, pelo segundo ano, o Women in Tech Lounge no WebSummit, em Lisboa. Um espaço para as mulheres se conectarem, formarem uma rede e compartilharem experiências, além de contarem com um espaço para sessões individuais de mentoria em tecnologia com executivos de nossa empresa e outros líderes da indústria de TI. Somos parceiros de universidades em todo mundo que apóiam estudos de mulheres em STEM (Science, Technology, Engineering and Mathmatics), além de termos criado nossa própria premiação, Technology Playmaker Awards.
Qual tipo de compliance ou políticas e campanhas internas a Booking.com está desenvolvendo atualmente, ou pretende lançar em breve, com objetivo de ampliar a quantidade de vagas, aprimorar direitos e salários iguais para colaboradoras?
Diversidade de todos os tipos tem sido o ponto central da cultura da Booking.com desde a fundação da empresa, há mais de 20 anos. Acreditamos fortemente que a diversidade de gênero é a chave para formar um time e um ambiente inclusivos que estimule a inovação, a colaboração e a criatividade. Mais da metade de nossa força de trabalho e muitos cargos importantes são ocupados por mulheres. 20% de nosso departamento tecnológico é formado por pessoas do sexo feminino, mais do que muitos de nossos concorrentes, apesar de que adoraríamos ver este número crescer. Continuamos a avançar na promoção da igualdade de gênero tanto dentro, quanto fora de nossa organização. Internamente, isto inclui assegurar políticas de recursos humanos e práticas de recrutamento que sejam de igualdade de gênero e livres de preconceitos, construir comunidades de apoio, monitorar internamente com regularidade para termos certeza de que estamos pagando igualmente, assim como investir em treinamentos de preconceito inconsciente e experimentar novas abordagens criativas para colaboradores no local de trabalho.
Como se tornou uma mulher em tecnologia? Quais são as personalidades femininas em TI que mais a inspiraram?
Tenho uma trajetória na indústria hoteleira e ingressei na Booking.com, que é uma empresa de tecnologia, em 2002. Foi uma transição emocionante. Normalmente sempre me orientei pela curiosidade, o que me conduziu a um caminho muito pouco tradicional. Antes de ser contratada pela companhia, aproveitei todas as oportunidades de estudar e trabalhar no exterior e fui capaz de provar a mim mesma que sou alguém com perfil de trabalho duro, criativo e sem medo de assumir riscos. Estas características foram importantes quando retornei à Holanda para trabalhar com marketing e vendas no Golden Tulip Hotel Group. Isto ocorreu quando a Internet começou a decolar e pude ver, desde muito cedo, o imenso potencial para mudanças na indústria hoteleira e no turismo global. Quando fui contratada pela Booking.com, sabia que seria algo novo e muito diferente dos papéis que desempenhei até aquele momento. A oportunidade de ajudar a moldar a forma como o mundo digital poderia influenciar as viagens foi muito emocionante. Desde então, a Internet tem mudado de maneira fundamental como consumimos tudo, e a tecnologia continua a promover um transformador efeito onde e como queremos realizar buscas, reservar e aproveitar experiências de viagens de todos os tipos.
Quando se trata de inspiração, é ótimo acompanhar a sede e o senso de otimismo das mulheres – desde as que já atuam na indústria tecnológica às que desejam nela ingressar – pelo potencial que um papel em TI pode oferecer. Para avançarmos mais e alcançarmos uma verdadeira paridade de gênero na indústria tecnológica global, deveríamos aproveitar este otimismo e criar uma cultura mais inclusiva que atraia e retenha talentos femininos. É encorajador e inspirador ver mulheres em tecnologia realizarem coisas incríveis todos os dias, inclusive tomarem ativamente medidas para engajar futuras gerações, fazerem ouvir suas vozes e lançarem programas e iniciativas com o objetivo de promover mais diversidade de gênero na força de trabalho em tecnologia.
Quais são os principais investimentos, campanhas e objetivos da Booking.com para o Brasil nos próximos anos? Poderia apresentar números e perfil dos usuários brasileiros da plataforma e se a empresa pretende ampliar sua presença no país?
Como a Booking.com pertence a Booking Holdings, não podemos divulgar números específicos, mas estamos em um incrível negócio global, com operações em mais de 200 países e territórios. Temos uma forte e leal base de clientes e já prevemos crescimento em mercados emergentes, incluindo a América Latina como um todo. Na realidade, o Brasil tem uma demanda crescente de turismo doméstico por brasileiros e de turistas internacionais em busca de acomodação no país. A Booking.com está seguindo esta tendência e está investindo no Brasil para continuar a crescer sua presença neste mercado prioritário. Temos já uma forte presença no país, com mais de 200 pessoas trabalhando em seis escritórios (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Natal, Salvador e Porto Alegre).
A Booking.com pretende lançar alguma mídia nova ou plataforma móvel em breve?
Estamos vendo o mercado de dispositivos móveis se tornar cada vez mais importante. A tecnologia móvel mudou a forma como vivenciamos o mundo e continuaremos a perseguir isto nos próximos anos. A Booking.com foi uma das primeiras empresas a ver a oportunidade em plataforma móvel e é uma grande parte do nosso negócio. Mais da metade de nossas reservas de acomodação global estão sendo feitas agora em dispositivos móveis. Construímos e projetamos para dispositivos móveis, criando e testando novos produtos que permitem que nossos consumidores vivenciem o mundo sem problemas, em movimento e onde quer que estejam. Estamos constantemente buscando e desenvolvendo novas tecnologias para criar a experiência mais conveniente e agradável possível, explorando ativamente várias aplicações de inteligência artificial e machine learning para melhorar a experiência do cliente em nosso site e aplicativos móveis.
Quais são as suas percepções sobre as organizações ativistas e voluntárias de mulheres em tecnologia para capacitar e encorajar novas desenvolvedoras ou empreendedoras?
As mulheres ainda estão muito pouco representadas no setor de tecnologia, mas o otimismo e a ambição que vemos delas globalmente, para ter sucesso em uma área de TI, são inspiradores, particularmente entre a geração mais jovem. Contudo, para capacitar as mulheres a realmente alcançarem sucesso em tecnologia, nós, como uma indústria, temos a oportunidade de fazer mais. Isso inclui colocar mais modelos femininos, eliminar preconceitos de gênero que começam desde o processo de recrutamento, antes mesmo de uma mulher ser contratada, e investir em iniciativas que destacam a indústria como atraente e acolhedora em todas as etapas, desde novos participantes até as mais antigas lideranças. A indústria de tecnologia tem um tremendo potencial para cumprir os critérios citados pelas mulheres em todo o mundo quando definem seu “emprego dos sonhos” e suas aspirações de carreira. Ajudar a desbloquear isto e a canalizar mais mulheres para a tecnologia são diretrizes que atravessam educação, desenvolvimento social, responsabilidade corporativa e iniciativas governamentais. Se a indústria de tecnologia pretende manter um fluxo equilibrado de talentos, todos nós devemos trabalhar incansavelmente para envolver as mulheres ao longo de seus anos de educação, para atuar como fontes positivas de influência.