O governo norte-americano estaria pressionando países aliados, principalmente Itália, Alemanha e Japão, a não comprarem equipamentos de telecomunicações da chinesa Huawei, informa matéria publicada pelo jornal Wall Street Journal, citando fontes anônimas familiarizadas com o assunto. A administração de Donald Trump suspeita de espionagem por parte de fornecedores chineses de telecomunicações.

A Huawei se disse surpresa com a notícia reportada pela imprensa e divulgou um comunicado internacional.

Análise

Para entender o impacto da notícia, é preciso considerar uma série de aspectos listados abaixo:

  1. Existe uma guerra comercial em andamento opondo EUA e China envolvendo os mais variados setores da economia. Telecomunicações pode ser apenas mais uma batalha dentro dessa guerra.
  2. Em agosto deste ano, o presidente norte-americano Donald Trump proibiu que órgãos governamentais comprassem equipamentos da Huawei e da ZTE, os dois principais fornecedores chineses de infraestrutura de telecomunicações.
  3. Recentemente, estourou um escândalo de uma suposta espionagem chinesa feita a partir de microchips em servidores de grandes companhias de Internet dos EUA. A investigação ainda está em curso.
  4. Paralelamente, há uma corrida tecnológica pela liderança em 5G no mundo. EUA e China disputam para ver quem será o primeiro a adotar a nova geração de telefonia celular em massa, o que trará junto o desenvolvimento de um novo ecossistema de soluções de comunicações corporativas para as mais variadas verticais da economia, nas cidades, no campo e na indústria. 
  5. A Huawei é uma das fornecedoras mais bem posicionadas para a implementação do 5G no mundo. Nesta semana realizou um seminário sobre banda larga móvel na Inglaterra e recebeu elogios de um alto executivo da British Telecom (BT). 
  6. O presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, já demonstrou que sua política externa será profundamente alinhada com Washington, o que se pode inferir pelas declarações e artigos publicados pelo futuro chanceler brasileiro, Ernesto Araújo.
  7. A China é o maior parceiro comercial do Brasil e o maior importador de commodities produzidas no País. Um boicote brasileiro a equipamentos de telecomunicações chineses pode provocar retaliações da parte da China e ser prejudicial para a balança comercial brasileira.
  8. Neste ano, a Huawei completou duas décadas de presença no Brasil. Tem milhares de funcionários e inúmeros contratos no País.
  9. A Huawei é a maior fornecedora de redes 4G no Brasil. Praticamente todas as operadoras móveis que atuam no País têm equipamentos da companhia chinesa em várias partes diferentes de suas redes e com diferentes graus de dependência. Em geral, são acordos de longo prazo, que preveem manutenção e também a possibilidade de atualização dos equipamentos.
  10. As operadoras brasileiras ainda não tiveram retorno sobre o investimento nas redes 4G do Brasil. É improvável que rompam contratos unilateralmente por pressão política, pois isso geraria enorme prejuízo financeiro e operacional.
  11. O que pode acontecer, eventualmente, é a pressão externa influenciar nas decisões em torno dos contratos para as redes 5G. Deve ser pesado, contudo, que o 5G é uma evolução do 4G e qualquer mudança radical de fornecedor pode significar um custo adicional.
  12. Os leilões de espectro no Brasil para o 5G devem acontecer durante o governo de Bolsonaro, mas ainda sem data definida.
  13. Os maiores concorrentes da Huawei que poderiam ser beneficiados por um boicote seriam Ericsson e Nokia.

 

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