A cada década, em média, surge uma nova geração de telefonia celular. A transição tecnológica traz consigo mudanças em todo o ecossistema móvel, como os fabricantes de smartphones e os desenvolvedores de aplicações. Os mercados que lideram a implementação das novas redes acabam servindo de berço para novas aplicações. Foi assim com o 4G, liderado pelos EUA, o que fez surgir naquele país alguns dos apps mais populares do mundo, como Uber, Tinder, AirBNB, dentre outros. A China, embora não tenha sido uma das primeiras a implementar 4G, adotou outra estratégia: fechou o seu mercado, e assim conseguiu que surgissem players locais. O resto do mundo, contudo, virou consumidor das aplicações nascidas nos EUA.

Vive-se agora uma corrida em direção ao 5G. Ela é maior que todas as anteriores, envolvendo dezenas de operadoras e fabricantes de smartphone e de infraestrutura, como nunca houve antes. O entusiasmo é explicado pelas oportunidades que essa nova geração abrirá, com velocidades de múltiplos gigabytes e latência abaixo de 1 ms. Isso vai viabilizar aplicações nas mais diversas verticais, causando rupturas em diversos setores. Um exemplo são os carros autônomos, que dependerão da conectividade 5G, e vão transformar completamente a indústria automobilística e de transporte urbano (táxis e afins), assim como o nosso dia a dia.

Por conta disso, EUA, China, Japão, Coreia do Sul e Europa correm para lançar as primeiras redes 5G, na esperança de que isso fomente o nascimento de empresas que criarão as aplicações do futuro. Em nenhuma geração anterior de telefonia celular houve tantos países nessa disputa pelo pioneirismo. Por conta disso, é esperado que a adoção do 5G acontecerá de forma muito mais rápida e global do que o 4G ou o 3G. Para Cristiano Amon, presidente da Qualcomm, a transição para o 5G será a maior já feita na história da telefonia celular.

“Toda nova geração de celular provoca mudanças e gera vantagem para quem a adota. Os primeiros a abraçá-la criam as plataformas que vão ser usadas pelos demais. Surgem oportunidades para mudanças em sistemas operacionais e em aplicações”, avalia Amon. No caso do 5G, ao contrário das gerações anteriores, agora diversos setores da economia têm consciência que serão transformados por essa tecnologia, graças ao surgimento de novas aplicações que dependerão dessa rede. Antes, apenas a própria indústria móvel, composta por operadoras e fabricantes de equipamentos de rede, parecia interessada pela transição para uma nova geração. “5G será infraestrutura básica. A conectividade será tão importante quanto a eletricidade”, prevê Amon.

Análise

O 5G será também uma oportunidade para as operadoras repensarem o seu modelo de negócios. Em vez de simplesmente venderem tráfego de dados pelas redes de quinta geração, elas terão a chance de se aliarem a desenvolvedores de aplicações e comercializarem serviços de maior valor agregado – e, consequentemente, de maior margem. Mesmo em serviços de comunicação propriamente ditos, como chamadas de voz e de vídeo, as teles terão a oportunidade de retomar o espaço que perderam para aplicativos OTT, pois conseguirão oferecê-los em alta definição e baixa latência, se usarem canais dedicados.

Novos mercados vão se abrir para as teles. Um deles será o de construção de redes de 5G privadas, especialmente dentro de fábricas. As indústrias vão poder se livrar dos cabos e ganhar mais mobilidade para seu maquinário se este se conectar via 5G. As teles poderão fazer disso um negócio, oferecendo a instalação dessas redes usando principalmente ondas milimétricas em faixas que ainda serão licenciadas.

 

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