A greve dos caminhoneiros, ocorrida em meados do ano passado, provocou uma crise de abastecimento no País, prejudicando negócios nas mais diversas verticais, inclusive no mundo digital. Uma das vítimas foi a fintech Beblue, especializada em cashback para consumidores em compras realizadas em uma rede de estabelecimentos pré-cadastrados. Da noite para o dia, a startup teve um sério problema de caixa decorrente da paralisação dos caminhoneiros. A solução foi vender o controle da empresa para a VIT (Vector Inovação Tecnologia), braço de investimentos do grupo Omni. Agora capitalizada e voltando a crescer, a empresa planeja ampliar sua atuação e se prepara para virar um banco digital no segundo semestre.

“Quando da greve dos caminhoneiros, quase 60% do nosso volume transacional estava apoiado no segmento de combustível. A empresa vinha crescendo muito, cerca de dois dígitos por mês. Quando veio a crise, a gente não esperava um ‘soluço’ daquela magnitude. Perdemos 80% do volume de venda de um dia para o outro. Como a gente movimentava centenas de milhões de Reais por mês, foi uma grande quebra de caixa”, relembra Daniel Abbud, um dos fundadores da Beblue e CEO da empresa à época. “Então nos vimos obrigados a correr atrás de uma enorme quantidade de dinheiro. Não tinha outro jeito que não fosse vender participação. Nessa busca de um parceiro capitalista, encontramos a VIT, que fez um aporte de capital e ficou com o controle acionário”, relata Abbud. Depois da venda, o executivo passou a atuar como diretor de marketing da Beblue.

Com as finanças ajustadas, a fintech conseguiu estabilizar a crise e voltar a crescer. Pouco antes da greve dos caminhoneiros, tinha mais de 15 mil estabelecimentos comerciais credenciados, agora são 10 mil, mas o número voltou a aumentar. A expectativa é ter 20 mil ao fim do ano. Em número de usuários, são 5,2 milhões no momento, quantidade que deve dobrar até dezembro, chegando a 10 milhões. O quadro de funcionários também está em expansão. Hoje são 450 empregados e há 220 vagas em aberto, sendo 150 em tecnologia.

O crescimento será puxado pela estratégia de virar um banco digital, com um amplo leque de serviços financeiros, especialmente a oferta de crédito acessível, mas sem deixar de lado a atuação em cashback. A ideia é ser um banco de varejo 100% digital que atenda tanto estabelecimentos comerciais quanto pessoas físicas, com um portfólio completo de serviços bancários. A variedade dos serviços e a facilidade de acesso a crédito serão os diferenciais da empresa frente à concorrência com outros bancos digitais, aposta Abbud.

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Daniel Abbud, fundador e diretor de marketing da Beblue, conseguiu superar a crise provocada pela greve dos caminhoneiros

“A Beblue é uma companhia que tem como objetivo aumentar o poder de consumo do usuário por meio de recompensas. Começamos com cashback, e agora vamos fazê-lo também através do crédito. A missão continua sendo a mesma: aumentar o poder de consumo das pessoas”, resume. “O Omni é conhecido por dar crédito para quem ninguém consegue dar. É uma instituição que tem uma visão diferente de bancos de varejo de grande porte. Em vez de procurar motivo para não conceder o crédito, o Omni tenta encontrar uma maneira de dar o crédito. Quem mais precisa é quem tem menos acesso hoje em dia”, comenta.

Junto com o lançamento do banco digital, no segundo semestre, a Beblue vai reformular completamente o seu app, para que inclua os novos serviços financeiros. “Será um app completamente novo”, afirma Abbud.

Futuro

Abbud aposta que o Brasil viverá um processo de abertura do mercado bancário ao longo dos próximos dez anos. Boa parte do que hoje está concentrado em cinco grandes bancos de varejo deverá ser dividido entre muitos outros players, isso sem falar no fato de que metade da população brasileira ainda está mal servida de serviços financeiros ou simplesmente desbancarizada.

“Dentro de 10 a 20 anos, vai mudar totalmente o cenário (do setor bancário) no Brasil. É um mercado muito grande, com espaço para muita gente”, resume.

 

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