Depois de o Banco Central do Brasil confirmar a criação do Fórum de Pagamentos Instantâneos (Fórum PI), os representantes da indústria de meios de pagamentos eletrônicos discutem a importância da iniciativa no País. Os executivos de bancos, bandeiras de cartões e da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) defenderam que o segmento e os pagamentos rápidos podem ajudar a mudar a relação dos consumidores com as empresas, em especial na redução de custos, mas compreendem que é necessário investimentos e relevar o custo das transações.
O diretor de arquitetura de tecnologia do Itaú, Thiago Charmet, alertou que, assim como acontece com o movimento de bancos abertos (Open Banking, na tradução em inglês), as instituições financeiras precisam se preocupar com os custos das transações. Em sua visão, o fato de a cadeia de pagamentos ter uma estrutura mais leve de transações e mais fluidez de dinheiro com as novas tecnologias pode afetar os custos das transferências.
Em contrapartida, Percival Jatobá, vice-presidente de produtos, soluções e inovações da Visa, lembrou outro ponto: o fato de que a cadeia de pagamentos (bancos, fintechs, empresas, credenciadores, adquirentes, usuários e comerciantes) será impactada. Ele frisou ainda que, quando regulada a entrada dos pagamentos instantâneos, estes demandarão mais investimentos em tecnologia nas empresas. Ainda assim, em sua visão, o ecossistema de pagamentos precisa abraçar essa iniciativa para não ficar em atraso com o consumidor.
“Hoje, há mais de 35 países com programas (de pagamentos instantâneos) ativos e mais de 30 em desenvolvimento”, disse o vice-presidente da Visa Brasil. “PI é uma tendência global e temos que abraçar isso junto com o BC. Ele pode ter transações entre países e permite oferecer novos serviços aos clientes, sem fricções. Mas a questão principal é que não podemos perder a discussão e correr o risco de sermos canibalizados por outros entrantes”.
P2P, P2M e e-commerce
Durante o congresso de meios de pagamentos eletrônicos CMEP, Jatobá lembrou que os pagamentos instantâneos são uma realidade antiga no Brasil, uma vez que a Transferência Eletrônica Disponível (TED) é considerada um pagamento rápido. Lembrou ainda que o mercado precisa olhar para esta categoria de transações além das transferências de pessoa para pessoa (P2P), mas também para transações de pessoas para mobile (P2M), pagamentos de contas e pagamentos no e-commerce.
Entre os casos existentes lembrados pelo executivo da bandeira de cartões estão o crescimento de 50% transações P2M e P2P com a Bankgirot e Swish na Suécia, e o volume de 500 mil transações do Google Tez, meses após o lançamento na Índia, e 800 mil transações da UPI, meses depois do lançamento da Amazon, também no comércio indiano. Ainda dá como exemplo um estudo da Ovum que estima que os PIs na Europa podem responder a dois terços de todas as compras feitas no e-commerce em alguns anos.
Pedro Coutinho, presidente da Abecs e da Getnet, ressaltou que uma das principais vantagens dessa e de outras soluções tecnológicas é o fato de reduzir o volume de dinheiro no mercado que traz altos custos para o ecossistema financeiro todo ano. Como exemplo, ele citou dados do BC que revelam um gasto de R$ 790 milhões para imprimir dinheiro em espécie no País em 2018. Além disso, ele lembrou do perigo no transporte de dinheiro, uma vez que foram registrados 116 assaltos aos carros-forte no último ano.
“Os pagamentos instantâneos, sem sombra de dúvida, vão ajudar o consumidor. Hoje se ele (consumidor) quer pagar uma conta no sábado, ele não consegue, por exemplo”, disse Coutinho. “Tem uma série de tecnologias e medidas que podem ajudar na redução do uso do dinheiro, boletos e cheques. Estamos trabalhando com as bandeiras, regulador, emissores, enfim, toda a cadeia para ajudar a reduzir custos”.
Já o representante do regulador nacional no CMEP, João André Calvino Pereira, chefe de departamento de regulação do sistema financeiro no BC, ressaltou que os pagamentos instantâneos são uma das ações importantes do Agenda BC+, movimento que tenta a inovação no setor, cujo intuito é possibilitar que mais agentes financeiros prestem serviços à sociedade. Em sua visão, ele acredita que as características dos pagamentos instantâneos têm sinergia com o Open Banking e serão peças fundamentais para o desenvolvimento dos bancos abertos.
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