Ao ligar os equipamentos no departamento de Maldonado, no Uruguai, a operadora estatal Antel se tornou a primeira a operar uma rede 5G comercial da América Latina. Para o Brasil, pode ser um passo importante para a troca de experiências, ainda que o lançamento da tecnologia no país vizinho esteja em fase inicial. Segundo contou ao Teletime o líder de soluções da Nokia na América Latina, Wilson Cardoso, a operação se tornará um caso de estudo. “A gente vê a possibilidade de treinar mais gente ao ter a tecnologia na região com um uso real, saindo ao campo. É um empurrão e possibilita a troca de experiências, já que a Antel não compete fora do Uruguai”, declarou.

Um aspecto importante é o modelo utilizado pela estatal. A operadora optou pela disponibilização da rede 5G para acesso fixo-móvel (FWA, na sigla em inglês), para atender as áreas aonde não consegue chegar com infraestrutura tradicional. “Eles tinham problema de cobertura. A Antel, uma dominante no mercado, buscou solução comercial para isso”, afirma Cardoso. “Claro que o Uruguai tem o mesmo problema que o Brasil, que são muitos prédios e condomínios onde não há como passar fibra, então [o 5G] virou solução de mercado.” O governo uruguaio prometeu expandir a cobertura, inclusive para a capital Montevidéu, nas próximas semanas.

A Nokia foi contratada pela operadora uruguaia para instalar equipamentos 5G para acesso, transporte e core de rede (embora o hardware de acesso seja multifabricante). A estatal opera na faixa de 28 GHz, utilizando a banda 76 – ou seja, a faixa de 1,7 GHz a 2,1 GHz, chamada de AWS – em âncora com LTE. Isso porque, conforme explica Cardoso, a implantação da Antel é um soft-launch, mas já é comercial, necessitando então de conformidade com o release 3GPP ainda non-standalone. Assim, a faixa AWS serve para fazer o sincronismo. “Todo o downlink é feito em 5G, mas o uplink é no 4G”, diz.

O uso da faixa de 28 GHz, a mesma de ondas milimétricas que está sendo usada nas implantações de 5G nos Estados Unidos e Coreia do Sul, não traz problemas de padronização, segundo o executivo da Nokia. Ele esclarece que o uso para o IMT-2020 não foi ainda definido pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), o que poderá acontecer na Conferência Mundial de Radiocomunicações em novembro. Mas a faixa é, sim, padronizada pelo 3GPP no Release 15. “Tem alguns países, como o Brasil, onde a faixa de 28 GHz tem limitações, por isso vamos para a de 26 GHz, como sugeriu a Anatel. No caso do Uruguai, não tem problemas”, afirma. No Brasil, o problema do espectro de 28 GHz é o conflito com o uso de satélite em banda Ka.

O equipamento usado no Uruguai, inclusive, é compatível com ambas as frequências mmWave e poderia ser implantado em uma futura rede 5G comercial no Brasil. “É o mesmo hardware, só precisa definir a banda por software”, diz Cardoso.

Segundo a associação setorial 5G Americas, a Antel utiliza uma capacidade de 800 MHz para o serviço, usando bases 5G New Radio NSA (non-standalone). Em comunicado, o vice-presidente para América Latina da entidade, Jose Otero, disse que, “para facilitar a chegada desta nova tecnologia e garantir que esses benefícios se materializem o mais rápido possível em sintonia com o resto do mundo, é necessário que o setor público colabore em aspectos fundamentais para o presente e para o futuro das telecomunicações, particularmente na identificação, limpeza e alocação das novas frequências de espectro radioelétrico utilizados para a 5G, a eliminação das questões e demoras na obtenção de permissão para a construção de infraestrutura e a facilidade do acesso aos dispositivos 5G em condições de acessibilidade para os cidadãos latino-americanos”.

 

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