Há uma divergência no mercado em relação à maturidade do ecossistema de 5G com a realização do leilão da Anatel em 2020. Para a gerente regulatória da Claro Brasil, Monique Barros, esse ainda é um ponto a ser resolvido. “Ainda tem evolução necessária para identificar o tamanho do ecossistema e os custos associados a isso, porque assim vamos determinar o quanto conseguimos atender”, explicou ela durante sessão temática no Painel Telebrasil 2019 nesta quarta-feira, 22. Ela argumenta que a questão também implica no desafio da monetização, uma vez que ainda é necessário avaliar como a tecnologia vai virar um negócio sustentável. “Talvez a gente tenha uma licitação ainda sem conhecimento total de qual será o cenário. No passado, tivemos experiência e tempo para entender e tornar o setor maduro antes da participação.”

Barros ressalta que a padronização do Release 16, considerada importante para congregar todo o sistema 5G, foi adiada para dezembro deste ano e causa preocupação, uma vez que o leilão da Anatel deverá acontecer já em março de 2020. “Talvez seja necessário um tempo para crescimento e maturidade desse setor dentro do Brasil para tornar possível esse efetivo investimento”, declara. A executiva também se mostra reticente em relação ao ecossistema de handsets. “Já estão surgindo aparelhos comercialmente, mas ainda não têm grande volume, não tem fornecedores para nos dizer qual a demanda efetiva esperada e como poderíamos rentabilizar”, afirma.

O diretor de estratégia, arquitetura e tecnologia de rede da Oi, Mauro Fukuda, também chama atenção para esse atraso no 3GPP. “A padronização, especialmente para o novo core de rede, ainda está sendo fechada em standalone. Isso gera soluções que não são maduras no mercado”, avalia. Para o executivo, a readequação de toda a parte sistêmica é necessária para a preparação da infraestrutura. Para endereçar isso, a operadora tem como estratégia investir na fibra para se preparar para o 5G. “Dentro da Oi, estamos trabalhando na implantação da rede de transporte, especialmente com trabalho de reeducação para a latência, além de preparar o hardware para a tecnologia e toda a parte de virtualização.”

Contudo, o diretor de Relacionamento Regulatório da Telefônica Brasil, José Gonçalves Neto, acredita que já há um cenário favorável para o 5G. “Em que pese o que Monique Barros disse, o ecossistema já está maduro, temos vários fornecedores com equipamentos e smartphones – 33 segundo a GSA –, e não só equipamentos para uso, mas também dongles, adaptadores e hubs”, declara.

Neto entende que o problema maior é a necessidade de um cuidado com o balanceamento entre compromissos e custo atrelados à faixa. “Obrigações de grande escopo que são restritivas e não relacionadas ao espectro licenciado podem impactar. Se forem muito onerosas também, mesmo combinada com valores mais baixos de espectro, e isso não evita a escalada do preço”, afirma, citando como mau exemplo os altos preços do recente leilão de 5G na Itália. O executivo também critica a possibilidade de o edital da Anatel trazer “assimetrias muito grandes” nos tamanhos de blocos, que poderiam inflacionar os preços e inviabilizar cumprimento de compromissos. “O excesso de regionalização e nas assimetrias oneram o resultado final e favorecem novos participantes de maneira desproporcional”, afirma.

O VP da linha de produtos 5G da Huawei, Du Yeqing, também defende a maturidade do ecossistema. “O 5G vai ser maduro em 2019, até o final do ano teremos [na empresa] dez tipos de terminais, entre smartphones, CPEs e dongles. E achamos que até o final do ano que vem, teremos smartphones de US$ 300 compatíveis”, prevê. Ele lembra que 83 países e 200 operadoras já começaram testes com a tecnologia, inclusive no Brasil – a fornecedora chinesa é parceira das granes operadoras e participa dos testes da Anatel com a faixa de 3,5 GHz. Mas Yeqing destaca que há “linguagens diferentes” em determinadas indústrias, como na questão da latência na indústria com aplicações de Internet das Coisas. “Leva tempo para preparar o espectro para a indústria e terminais, por isso a IoT [em 5G] chegará um pouco mais tarde do que os serviços B2C.”

 

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