O processo de faturamento das operadoras de telecomunicações está sujeito a falhas, seja por problemas na integração entre sistemas ou no fluxo de processos. Por isso, as teles investem em sistemas de garantia de receita, cujo objetivo consiste exatamente em identificar esses “vazamentos” no billing. A portuguesa WeDo é um dos maiores provedores desse tipo de sistemas no mundo, com uma plataforma que também protege contra fraudes – a empresa conta com mais de 230 clientes em 113 países, sendo 120 deles em garantia de receita. Seu CEO, Rui Paiva, conversou com Mobile Time na semana passada, durante evento organizado pela WeDo em Cascais, Portugal. Ele estima que as operadoras deixem de faturar entre 0,5% e 8% por causa de falhas nas cobranças. O caso mais grave encontrado pela empresa até hoje foi no Brasil.

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Mobile Time – A fase de ensinar o mercado sobre a necessidade de se adotar sistemas de garantia de receita já passou? Ou ainda há operadoras sem essa plataforma?

Rui Paiva – Quase todas operadoras têm um sistema desses. Algumas desenvolveram em casa e outras escolheram um fornecedor. O problema das que fizeram em casa é que sua evolução é lenta ou fica estagnada. Nós lançamos funcionalidades novas todos os anos. Há espaço para vender às operadoras com sistemas desenvolvidos em casa, pois estes eventualmente precisam coexistir com aqueles dos fornecedores. Antigamente essa coexistência era difícil, porque precisava instalar um sistema inteiro novo e pesado, mas agora trabalhamos com módulos. Então a operadora pode manter o que fez em casa e acrescentar módulos em cima. E depois avalia com calma se migra tudo ou se mantém os dois coexistindo.

O advento do 5G vai trazer novos serviços, mais dispositivos conectados e novos modelos de negócios, o que tornará mais complexa a operação e aumentar a necessidade por sistemas de garantia de receita. Porém, isso pressupõe que as teles se tornem provedores de serviços digitais no 5G, em vez de meros provedores de conectividade. Por que isso aconteceria no 5G se não aconteceu no 4G?

Não sei se isso vai acontecer. As empresas normalmente são boas no seu foco de atuação. As operadoras chegaram a pensar em produzir conteúdo no passado. Acho que é um engano pensar que podemos fazer bem o que outras indústrias já fazem. Acho que tem que ser low cost, eficiente e focar naquilo que sabe fazer de melhor: conectividade, mas com o máximo de parceiros possíveis. Quem fez isso muito bem foi Salesforce.com, que criou um portal com extensões com vários parceiros. Ela tem solução para tudo sem ter feito nada. É o que eu faria se fosse CEO de uma operadora.

Mas mesmo assim o 5G aumentará a demanda por soluções de garantia de receita?

Sim. Haverá mais pontos de conectividade, as operadoras vão adotar network slicing e vão ter que gerir mais MVNOs e devices IoT. Haverá uma complexidade grande.

Sistemas de garantia de receita só existem porque as plataformas de billing têm falhas?

Sistemas de billing têm falhas, mas os de CRM também têm, assim como os processos de ativação de serviços. Há tantas possibilidades de erro em uma operadora com milhões de clientes finais… Estimamos que operadoras percam entre 0,5% e 8% de receita por causa dessas falhas. E é dinheiro já faturado, ou seja, nem precisaria vender mais para aumentar a receita. Basta controlar melhor.

Qual foi o pior caso que vocês já encontraram?

Foi no Brasil. Uma empresa perdia 8% de receita em uma determinada parte do seu negócio.

Os sistemas de garantia de receita apontam quando as operadoras estão deixando de faturar. E quando estão cobrando a mais do consumidor?

Também identificamos isso. Não se pode realizar cobranças indevidas, porque isso gera clientes insatisfeitos. Os sistemas apontam quaisquer inconformidades. Mas, em geral, as teles faturam menos do que deveriam faturar.

E quanto a fraudes? Quais os tipos mais comuns hoje?

Os casos variam a cada momento. São ondas. Um exemplo: às vezes aparece um número estranho no seu celular e quando você liga de volta é uma chamada de valor adicionado que custa R$ 50. Mas tem vários outros tipos. Tem fraude de identidade… Agora tem muita pirataria de conteúdo…

A WeDo vem crescendo e se expandindo internacionalmente. Pensam em fazer uma IPO?

Não estamos pensando no momento. Conseguimos ser auto-suficientes no crescimento até uma dimensão que acharmos necessário para passar à fase seguinte, que pode ser a venda da empresa, ou uma fusão, ou mesmo a abertura de capital. Vai depender do que os acionistas acharem que faz sentido para o investimento que fizeram.

 

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