A Cisco entende que a guerra tecnológica entre Estados Unidos e China, com a fornecedora chinesa Huawei no centro, não traz impacto em seus negócios ou em sua estratégia. Mas o CEO e chairman da companhia norte-americana, Chuck Robbins, foi além ao conjecturar as consequências de um eventual banimento da fornecedora chinesa em outros mercados além dos EUA.
Em coletiva de imprensa durante o evento Cisco Live, nesta segunda-feira, 10, em San Diego (EUA), ele minimizou o impacto do banimento da chinesa ao alegar haver falta de informação sobre o atual estado do mercado de 5G no mundo. “Não é como se tivesse só um fornecedor que pode construir a rede inteira, isso é falácia”, afirmou. “Ericsson, Nokia e Samsung têm grandes tecnologias. Acho que há um grande desentendimento de que uma guerra chinesa teria esse efeito [de atraso com o 5G ou apagões]. Só se você tiver só um fornecedor, aí poderia desacelerar”, disse. Vale lembrar que o presidente da Claro Brasil, José Félix, mostrou entendimento contrário durante o Painel Telebrasil 2019, em maio.
O governo dos Estados Unidos acusa a Huawei de práticas de espionagem e fraudes fiscais. Embora ainda não tenha apresentado provas concretas sobre o caso, determinou um bloqueio às operações da chinesa com companhias norte-americanas, e tem feito investidas em outros países (inclusive o Brasil) para aplicar as sanções em escala global. A Huawei nega as acusações e processa o governo norte-americano, alegando que há inconstitucionalidade nas ações federais.
“Eu diria que temos visto uma mudança [de foco] do mercado, mas somos focados em inovação e confiança”, declarou Robbins. Mas ele assegura que a guerra comercial com a China não está mudando a forma como a fornecedora aborda os clientes. “Eu disse para meus times que [o caso da Huawei] não é uma estratégia de venda, eu não quero que meu time pegue a geopolítica e tire vantagem”, destacou.
Em relação a uma possível reação do governo chinês, promovendo o banimento de marcas norte-americanas na China, Robbins disse não saber sobre supostos encontros de autoridades chinesas com as empresas dos EUA para tratar do assunto (seguindo rumores publicados na imprensa internacional). Mas reconheceu que haveria consequências negativas. “Nossos negócios na China poderiam ser impactados se o governo fizesse isso, mas vamos ver como isso acontece. Nosso objetivo é focar no que podemos controlar”, analisou o executivo.
Mais cedo, durante apresentação na abertura do evento, ao mencionar as mudanças nos 30 anos desde a primeira edição, ele destacou: “Temos geopolítica, guerra comercial, debate sobre 5G, e a maioria dessas discussões têm a tecnologia no centro. O governo está olhando cada vez mais como está a implantação da tecnologia nas indústrias, então o compliance é uma grande coisa, por isso temos trabalhos em automação e aplicação de políticas”. Robbins ainda ressaltou que a privacidade é um direito humano básico, mas que governos estariam desrespeitando isso e causando efeitos no mercado que trariam impacto “no nosso trabalho”.
Por sua parte, a Cisco tem trabalhado em tecnologia de infraestrutura de rede em parceria com empresas como a japonesa Rakuten para entregar 5G com serviços virtuais, sobretudo na implantação de plataforma de core de rede e de gerenciamento de rede para mover a computação às bordas (edge computing). Mas o executivo foi taxativo ao ser perguntado se haveria algum plano de entrar no mercado de acesso de rádio, ou se o governo dos Estados Unidos havia pedido por isso: “Não e não”.
América Latina
Chuck Robbins não mencionou o impacto da guerra EUA x China na América Latina, mas se mostrou satisfeito com a região. “Tem sido sempre um dos nossos lugares favoritos, pois sempre tem um desejo de aplicar os últimos avanços tecnológicos, pulando uma geração [tecnológica] em relação ao que os Estados Unidos fazem”, analisou. O executivo ainda sugeriu que a criação de um mercado único digital latino-americano “é super importante, dando um foco grande na cibersegurança como fundamento”. Mas lembrou que há “sempre” países onde a política monetária e alta taxa de juros acabam dificultando esse processo de unidade.