A disputa pelo mercado de chipsets para dispositivos conectados começa a ficar mais acirrada no mercado mundial e latino-americano graças aos três novos vetores da tecnologia: 5G, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Nessas áreas, a MediaTek busca trazer novas soluções para brigar de igual para igual com rivais como Qualcomm, Intel, Samsung e Apple, inclusive com soluções como modem próprio e chipset dedicado ao 5G, o M70.
“A Apple é uma empresa de nicho e a recente aquisição (divisão de modems móveis da Intel) é para uso próprio. A Samsung é uma companhia magnífica, mas torna-se um desafio ser uma fabricante de hardware e de handsets. Uma coisa é construir system-on-chip (SoC) para você, outra coisa é fazer para os competidores”, afirmou Russ Mestechkin, diretor da MediaTek para EUA e América Latina. “Em relação ao nosso principal competidor (Qualcomm), nós estamos indo bem. Se for uma disputa focada em parâmetros técnicos e iguais, e sem práticas anticompetitivas – vide os diálogos divulgadas pelo FTC com ameaças contra Motorola e Apple –, nós podemos disputar com eles”.
Apenas no mercado de SoC para smartphones, a companhia taiwanesa tem 20,27% de fatia do mercado global e 19,75% do mercado latino-americano, segundo dados da IDC do primeiro semestre de 2019. De acordo com Mestechkin, a empresa mira em mais crescimento de chipsets no mercado local e mundial, mas também almeja crescer em novos segmentos.
“Mobile continua um dos nossos principais negócios. Mas sobre a gestão do nosso CEO, Rick Tsai, nós vimos grandes mudanças para crescer em outras áreas, como Inteligência artificial e IoT. Além disso, somos líderes nos mercados de leitores de BluRay e Smart TVs”, disse o diretor. “Hoje, se você entrar numa casa em qualquer lugar do mundo, existe 70% de chance de você encontrar algum produto com o nosso chip”.
Dispositivos móveis
Em conversa recente com Mobile Time, Mestechkin ressaltou que, embora o mercado de smartphones pareça bem consolidado, há espaço para a MediaTek crescer. Ele exemplificou ao lembrar que handsets lançados um ou dois anos atrás ainda fazem sucesso no mercado. É o caso do Moto C, na Argentina, que registrou 7% das vendas no primeiro trimestre deste ano; e do Samsung J2 Prime que possui 10% do mercado latino-americano, ambos com chipset da MediaTek.
“Trabalhamos com vários segmentos em smartphones, hoje nosso mercado é dividido em 40% para handsets abaixo de US$ 150 e 60% acima de US$ 400. Na América Latina, miramos nos 60% a 70% do mercado, onde estão os dispositivos intermediários. É diferente da estratégia da Ásia, que é basicamente smartphone premium”.
3G, 4G e 5G
Outro tópico discutido com o executivo foi sobre o avanço da MediaTek no 5G. De acordo com o diretor, a estratégia para chipsets de smartphones de quinta geração da Internet móvel será mais “premium” e ganhará sua marca própria, cujo nome ainda não foi definido. Frisou que os dispositivos de entrada não serão o primeiro foco de vendas da fornecedora de chips em 5G, mas há espaço para seu uso em handsets intermediários.
“O foco do 5G será em smartphones intermediários e premium”, ressaltou. “Temos um produto (modem 5G M70) premium, com tecnologia de ponta em ARM e processamento gráfico (GPU). Usá-lo em entrada não é nossa meta. Mas ele tem potencial para ser usado em diversos handsets premium e intermediários”.
Sobre o papel de 3G e 4G neste novo cenário, Mestechkin acredita que 3G será um legado que passará por refarming nos próximos anos. Por sua vez, o 4G durará algum tempo, uma vez que muitas operadoras ainda estão investindo na expansão de suas redes LTE mundo afora.
Em relação ao tipo de cobertura de frequência nos handsets com 5G, o executivo explica que os primeiros modelos terão foco na faixa abaixo de 6 GHz (sub 6GHz) e com a demanda – posteriormente – os celulares terão cobertura para ondas milimétricas.
Inteligência artificial
Sobre o uso da IA, outro executivo da MediaTek, Samir Vani, gerente geral para o Brasil, afirmou que o foco da empresa é desenvolver mais chipsets com unidade de processamento de inteligência artificial (APU). Durante conversa com a imprensa especializada nesta terça-feira, 13, Vani explicou que a linha de chipset Helio P90 vem com dual core APU e gerenciador de tarefas. Para a próxima versão do Helio, a ideia é colocar um agendador para administrar as tarefas com mais dinâmica.
“A nossa visão é entregar ótima performance, computação heterogênea e inteligência artificial”, afirmou o gerente para o Brasil. “A proposta é sempre trazer essa tendência para o mercado intermediário. Por exemplo, o Reno Z da Oppo (vendido na China) tem o Helio P90 e traz todas as vantagens de um flagship que está na barreira do US$ 1 mil por metade do preço (US$ 500)”.
Outro avanço que a inteligência artificial da MediaTek trouxe ao mercado foi a redução de abertura de tela com reconhecimento facial, de 0,3 segundos e 0,05 segundo em dois anos; e em reconhecimento de voz em assistentes de voz, de 1,5 segundo para 0,2 segundo entre 2017 e 2019.
Vani ainda ressaltou quais serão os próximos avanços da IA no mercado mobile, do premium para o intermediário: “Em 2018, foi a foto HDR. Em 2019, foi night shot (foto noturna), e, para 2020, vocês vão ouvir falar mais em night shot e HDR, o que resultará em imagens em super resolução. Vamos ouvir mais também sobre o aprimoramento das imagens: um anos antes era cena, neste foi em objetos e para 2019 e 2020 teremos a melhoria da imagem pixel a pixel. Veremos soluções (handsets) que não usam grandes conjuntos de lentes, mas cuja resposta está no uso da IA e da visão computacional. Um exemplo são os handsets do Google Pixel, que trazem esses resultados com apenas uma lente, enquanto seus rivais precisam de três ou mais”.
Internet das Coisas
Mestechkin falou com entusiasmo sobre Internet das Coisas. Para ele, a IoT é o próximo setor que a MediaTek buscará domínio, por meio de soluções com NB-IoT e CAT-M. Embora esteja em estágios iniciais, ele ressaltou que possui clientes na região, como uma companhia colombiana que oferta impressora de bilhetes portáteis e outras que usam câmeras inteligentes. E, sobre dispositivos conectados, lembra de avanços com parceiros como Amazon, Baidu e Google, ao ofertar chips em soluções de smart speakers. Um mercado que o executivo vê como grande provedor de receita no futuro.
“Em sistemas de voz, somos o principal fornecedor para a Amazon. Ajudamos o Baidu a criar sua inteligência artificial, damos o suporte ao Google Assistente e à Alexa por meio de nossos chips, além de diversas companhias que querem criar sua própria AI”, disse o diretor. “Esperamos que o negócio de sistemas de voz será responsável por grande parte de nossa receita”.