Com o fim do ciclo de vida dos aparelhos celulares ou mesmo pela evolução tecnológica, é comum os usuários procurarem se desfazer de seus dispositivos e acessórios antigos em busca de um novo. Embora seja prática comum repassar os aparelhos antigos para familiares, mesmo esses acabarão tendo que ser descartados. As operadoras e fabricantes, então, oferecem tanto o descarte dos smartphones em urnas (sempre aberto ao público em geral, e não só aos clientes da empresa) quanto a possibilidade de usar o produto como desconto na aquisição de um novo modelo. Essas iniciativas são partes importantes das estratégias de sustentabilidade que têm virado pauta, com peso cada vez maior, na agenda das teles.

As empresas precisam cumprir a resolução nº 401/08 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), que estabelece que fabricantes, importadores e lojas que comercializam aparelhos devem receber dos usuários pilhas e baterias usadas. Além disso, precisam cumprir a Lei nº 12.305/10, que estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos e institui a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos. O art. 15º da lei estabelece a criação do Plano Nacional de Resíduos Sólidos pela União, com coordenação do Ministério do Meio Ambiente, pelo prazo de 20 anos e com atualização a cada quatro anos. O texto determina a realização de diagnóstico, proposta de cenários e de metas, além de programas e medidas para incentivar e viabilizar a gestão.

Uma das mais atuantes em estratégia de sustentabilidade, a Vivo tem iniciativas como selo Ecorating para os smartphones, além de projetos específicos de logística reversa – o Recicle com a Vivo e o Vivo renova. Segundo a tele, foram 2,7 milhões de itens eletrônicos reciclados nesses dois programas, além de operação fixa, em 2018. Considerando também o volume de resíduos eletrônicos, a companhia reciclou em dez anos mais de 23 mil toneladas. “O programa Recicle com a Vivo não traz lucro, mas traz benefícios ao ambiente”, pondera a executiva de sustentabilidade da empresa, Joanes Ribas. Ela afirma que há receita gerada, mas que é direcionada à Fundação Vivo para projetos sociais.

No serviço fixo, a logística reversa da empresa recolheu 966 toneladas em 2018. São equipamentos como decoders e modems, seja por conta de desconexão (desligamento do cliente) ou por substituição por dispositivos mais modernos. Desse total, 438 toneladas foram para reciclagem, e 528 foram recondicionadas para reuso.

Especificamente no projeto Recicle, foram quase 4 milhões de itens (incluindo carregadores e baterias) recolhidos, dos quais um milhão eram aparelhos celulares. Isso garantiu a destinação adequada de 105 toneladas. No ano passado, as urnas do programa receberam cinco toneladas de equipamentos, equivalente a 76,6 mil itens. Esse material é recolhido por uma empresa parceira, que fica responsável pela reciclagem e destinação dos componentes. A Vivo afirma ter investido R$ 1 milhão na renovação de 100% das urnas de coleta nas lojas próprias e revendas. A intenção da empresa é lançar uma campanha de incentivo junto a clientes e equipes de atendimento. Além disso, a expectativa é ampliar em 10% essa coleta nas lojas próprias. “Muita gente não sabe, mas a receita do programa é destinado a projeto social”, destaca Ribas.

Já no Vivo Renova, os clientes podem trocar o aparelho usado em bom estado por descontos na compra de um novo – a taxa varia de acordo com o modelo e conservação do telefone. Em 2018 foram recolhidos 12,9 toneladas de dispositivos, ou cerca de 84,2 mil itens. Desde 2013, quando o projeto foi iniciado, foram 300 mil celulares substituídos, totalizando 43,86 toneladas. Os aparelhos aceitos no programa são recondicionados e comercializados por empresa parceira no mercado de usados.

Em se tratando de smartphones novos, 73% dos aparelhos vendidos nas lojas das operadoras possuem o selo Ecorating, que avalia (com notas de 0 a 5) mais de 100 critérios socioambientais na produção e destinação.

Cumprimento da lei

Somente em 2018, o programa de reciclagem da Claro Brasil registrou a coleta de 1,3 tonelada de material. A iniciativa tem como objetivo a adequação às normas, mas a ideia é também reconhecer o papel social. “Como organização, a gente cumpre a lei, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, e cada vez mais a gente vem se aprofundando na legislação para entender o papel, porque não tem um capítulo que trate do tipo de eletrônico que a gente tem ou gera”, explica a diretora de Responsabilidade Social e Comunicação da Claro e vice-presidente de Projetos do Instituto NET Claro Embratel, Daniely Gomiero. Segundo a executiva, não há nenhum ganho financeiro com o programa de coleta. “A gente faz por que acreditamos, está no nosso valor.”

A companhia tem também um processo de coleta que inclui os aparelhos no serviço fixo, tanto na casa do cliente quanto na infraestrutura de rua, onde são recolhidas baterias e fibras. O processo é sistematizado, voltando para a área técnica. “A gente tem empresa com compliance que retira de acordo com cada item, colocando cada um com um destino diferente”, diz Gomiero.

Em 2008, a companhia criou o programa Claro Recicla, que trata os aparelhos descartados nas lojas pelos clientes. A empresa tem mais de mil pontos, e agora expande para agentes autorizados. “A gente faz todo o trabalho de orientação para que o cliente tenha consciência de saber como descartar, e a gente disponibiliza para que ele faça isso na loja, com pilhas, os próprios aparelhos celulares, baterias e acessórios”, afirma. O programa se estende também aos funcionários, com urnas de coletas nos prédios matriciais – a expectativa é expandir o plano para outros edifícios da tele.

No ano passado, a operadora recolheu 116,6 mil telefones nas lojas. Além disso, foram 109,7 mil baterias e 124 mil acessórios. Desta forma, foram mais de 120 toneladas de materiais depositados. Uma terceirizada regulamentada é responsável pela retirada dos aparelhos, fazendo a triagem e o descarte correto. “No caso dos celulares e chips coletados, [os materiais] podem ser reaproveitados para o mercado de luxo, em itens como metal puro”, afirma a executiva. Para incentivar o cliente, a empresa combina o descarte com o programa de fidelidade Claro Clube – a cada depósito na urna, o cliente pontua.”

Telefones públicos

A assessora de comunicação, marca e sustentabilidade da Algar Telecom, Cristiana Heluy, explica que em todas as unidades da operadora mineira, “já tem recolhimento de eletrônicos há bastante tempo” para garantir o descarte adequado. Segundo ela, em 2018 foram mais de mil toneladas, entre equipamentos, pilhas e baterias recolhidos. Como é o caso das demais operadoras, não é necessário ser cliente para descartar os smartphones ou acessórios nas urnas das lojas.

Outro ponto que entra na conta da reciclagem da Algar são os telefones públicos, que além de sofrerem depreciação com as intempéries, ainda passam por depredação. “Vamos pensar no alto volume de descarte dos orelhões, que é outro resíduo e requer tratamento. A gente garante a destinação após ter buscado empresas adequadas para fazer a tratativa”, explica Heluy. Além dos TUPs, há ainda materiais como lâmpadas e até mesmo uniformes dos técnicos de campo – por questões de segurança, essas roupas precisam ser descaracterizadas antes do descarte.

Metas

Por sua vez, a TIM possui um plano de gerenciamento de resíduos com objetivo de reduzir “riscos ao meio ambiente”. O foco da gestão de resíduos é na minimização da geração e incentivo de coleta diferenciada, de recuperação e de reciclagem.

A tele tem o programa Recarregue o Planeta para incentivar clientes a descartarem nas lojas da empresa os aparelhos de celular, baterias, cabos e acessórios em desuso. Em 2018, a operadora queria coletar uma tonelada de aparelhos e acessórios, mas não conseguiu atingir a meta. “Para 2019, esse programa está sendo reformulado, e a meta é atingir 500 kg de aparelhos e acessórios a serem encaminhados para reciclagem”, disse a empresa em comunicado por e-mail. A companhia também tem um programa que permite trocar aparelhos por descontos na compra de um novo smartphone. Os dispositivos usados são recolhidos para reciclagem.

A coleta de baterias, celulares e acessórios também é uma prática da política de gestão de resíduos da Oi. A empresa cumpre a legislação e a resolução do Conama, que estabelece a coleta e o descarte “ambientalmente correto” de resíduos sólidos com campanha de coleta em suas lojas. A tele disponibiliza urnas coletoras em “diversos pontos” no País, utilizando recicladoras credenciadas por órgãos ambientais para o desmonte de aparelhos e destinação final adequada das baterias. A lista completa de lojas com urnas está disponível neste documento.

Além disso, a operadora também realiza ações com os equipamentos dos serviços fixos. O gerenciamento do material descartado nas operações é realizado por meio da “recompra de baterias estacionárias por fornecedor específico, certificado pelos órgãos nacionais competentes, em uma ação de logística reversa”. Além disso, os materiais de montagem e manutenção – como sucatas de cobre, alumínio, cabos de fibra ótica e cabos telefônicos – são encaminhados para reciclagem.

Fabricante

Assim como operadoras, as fabricantes de aparelhos também têm iniciativas similares. A Samsung Brasil tem um programa de reciclagem para o descarte correto de smartphones e acessórios. Os interessados podem depositar nas urnas de coletas nas “Brand Shops” (lojas próprias da marca) ou nas assistências técnicas autorizadas. “É a certeza de que os produtos terão um destino correto e sustentável sem causar algum impacto negativo ao meio ambiente”, declara a empresa em comunicado atribuído ao diretor de customer service, Luiz Xavier. Da mesma forma como nas teles, o cliente da Samsung pode utilizar o aparelho antigo como desconto na hora de comprar um novo. A lista de locais de coletas pode ser acessada neste PDF.

Segundo a fabricante sul-coreana, as iniciativas não têm propósito de gerar receita. A companhia não informa números dos programas por considerar informação estratégica, mas destaca que “o engajamento das pessoas tem aumentado ao longo dos últimos anos com forte atuação nos últimos meses. Percebemos que há uma mentalidade sustentável por parte de nossos consumidores, cada vez mais preocupados com o descarte adequado dos produtos que não são mais usados”.

 

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