O grupo do setor elétrico Neoenergia recebeu autorização experimental da Anatel para operar uma rede LTE privada em 3,5 GHz no interior de São Paulo. Utilizando equipamentos fornecidos pela Nokia, a iniciativa classificada como pioneira pela empresa vai permitir um modelo de rede inteligente (smart grid) na operação da distribuidora de energia Elektro, controlada da Neoenergia.
A tecnologia 4G deve permitir a comunicação de diversos dispositivos (como subestações, alimentadores, medidores inteligentes e sensores de rede) nas cidades de Atibaia, Bom Jesus dos Perdões e Nazaré Paulista. A região abrange 75 mil clientes da Elektro, entre consumidores residenciais, comerciais e industriais.
Em entrevista a este noticiário, o superintendente da smart grids da Neoenergia, Heron Fontana, afirmou que a rede já está 70% operacional, devendo atingir sua capacidade total dentro de algumas semanas. Futuramente, a expectativa é ampliar o projeto (batizado Energia do Futuro) para atendimento dos 13,9 milhões de clientes da companhia no País.
Na região de Atibaia, a preparação da rede elétrica para a iniciativa está em curso desde o começo de 2018. A licença da Anatel para uso experimental do 3,5 GHz, contudo, só foi expedida em novembro deste ano. “Como é o início do projeto, não vemos problema algum [em usar o 3,5 GHz], mas o ideal talvez uma frequência abaixo de 1 GHz. Nosso sonho de consumo é o 450 MHz“, pontuou Fontana.
Nessa primeira etapa, tanto o núcleo (core) da rede quanto os equipamentos de acesso (com seis estações radiobase EnodeB) foram fornecidos pela Nokia. “Para desenvolvermos processos internos e dominarmos todas as potencialidades, entendemos que o melhor é ter um core próprio. Já no futuro visualizamos algum modelo de compartilhamento na parte das redes de acesso, desde que a regulamentação avance nesse sentido”, afirmou Fontana.
“Um modelo eficiente pode ser o modelo híbrido, considerando a presença das operadoras de telecom e o mercado que elas têm. Com o core próprio, nosso acesso pode ser próprio ou compartilhado. Em algumas áreas, deve ser atrativo o envolvimento das operadoras”, prosseguiu o superintendente. Vale lembrar que a Vivo celebrou recentemente um contrato para operar uma rede LTE privada da Vale, em mercado que deve se fortalecer nos próximos anos.
Benefícios
A implementação da smart grid deve gerar uma série de vantagens na operação de distribuição da Elektro, afirma a Neoenergia. “Para o cliente, talvez o benefício mais interessante seja a informação em tempo quase real do consumo, que vai ser disponibilizada em um app”, afirmou Fontana. A empresa ainda projeta uma diminuição de 50% nas taxas de interrupção do serviço, passando de 9 horas/ano atuais na região de Atibaia para 4,5 horas/ano.
Outra mudança é que não serão mais necessárias equipes para corte (em caso de inadimplência) e religação da energia, em processo que poderá ser feito de forma remota a partir das redes de comunicação. Também cai a necessidade de um funcionário “ler” o medidor de energia mensalmente; até agora, 51 mil medidores inteligentes já foram instalados nas cidades do interior paulista.
A Neoenergia também projeta redução de 80% nas perdas geradas por fraudes, ligações clandestinas ou erros de medição. Por último, a tecnologia LTE também vai permitir integração dos recursos energéticos distribuídos, como painéis fotovoltaicos para geração de energia solar. “Do ponto de vista das distribuidoras, é impossível fazer a gestão da geração distribuída sem ter uma rede inteligente”, notou Fontana.
Na Espanha, onde tem sede a controladora da Neoenergia (o grupo Iberdrola), 11 milhões de clientes já são atualmente atendidos a partir de smart grids.