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O Brasil desperdiça, em média, 50% de sua água. Por ano, são extraídos dos mananciais hídricos do País, de acordo com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) de 2018, mais de 16 bilhões de metros cúbicos. Ou seja, 8 bilhões de metros cúbicos vão para o ralo a cada ano. Vazamentos, fraudes, equipamentos e tecnologias obsoletas, consumos não autorizados são algumas das causas da perda desse bem. As análises desses dados fizeram com que Enéas Ripoli desenvolvesse um software de gestão da água e combate ao desperdício. Ele é direcionado às empresas de saneamento básico, mas recebeu uma versão em aplicativo (Android, iOS), gratuito, para o uso de profissionais em campo, mas também para consumidores que queiram ter uma ideia do desperdício em sua cidade e cobrar das autoridades ações para reduzir os danos.

O SmartAcqua permite ao cidadão comum, de qualquer região do Brasil, verificar o volume de água retirado dos mananciais hídricos de sua cidade, quanto desse total é bem utilizado e quais os benefícios que poderiam ser alcançados se fossem tomadas ações corretivas pelos gestores públicos e privados da área de saneamento.

“As empresas substituem hidrômetros meio por acaso. Elas escolhem um bairro ou uma região e trocam canos e hidrômetros. Não existe uma política para diminuir o desperdício efetivamente. O nosso sistema identifica os potenciais problemas de perda de água e dá sugestões e recomendações de soluções para estancar ou minimizar onde estão as perdas físicas”.

Como funciona

Ripoli, que atua como CTO da SmartAcqua, uniu-se a Hélio Samora, atual CEO da empresa, para lançar a solução. Para diagnosticar a qualidade da gestão da água de um município, o software incorpora uma série de dados disponíveis sobre a região e da empresa de saneamento básico.

Toda informação é útil para a inteligência artificial da solução. Históricos, base de clientes, endereços dos medidores, modelo e idade do hidrômetro, comprimento das tubulações, informações socioeconômicas da região e das casas (se tem piscina, jardim, por exemplo), dados de senso (quantas pessoas moram na residência), são alguns dos dados que colaboram para que o SmartAcqua seja capaz de entregar uma análise da situação, mas, principalmente, apontar possíveis soluções e o quanto vai se economizar ao implementá-las.

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“As informações são importadas e integradas ao sistema. Além disso, há a medição, mensal, do consumo de água feita pelas empresas e que é integrada à nossa ferramenta. Todos esses dados nos ajudam a apontar soluções. Mas nem sempre conseguimos muitos dados. Às vezes, a empresa de saneamento básico da cidade tem pouquíssimas informações. Mas, mesmo assim, nosso grau de assertividade é de 30%. Ou seja, para cada 10 sugestões que damos, três são válidas. A questão é que, com o tempo, acumulamos mais informações e a nossa assertividade aumenta e, em seis meses, ela pode chegar a 90%”, explica Samora. “A empresa, executando o que o sistema te recomenda, reduz em 50% o desperdício de água num período de 12 a 18 meses”, garante. “Estamos ainda no tempo das cavernas onde 20% das ações geram 80% de resultado”, complementa Ripoli. Ou seja, as perdas são tão altas que qualquer ação positiva, por menor que seja, já ajuda. Para se ter uma ideia, o desperdício nos Estados Unidos está por volta de 12% e em Israel, 3%, segundo o CTO.

Testes e exemplos

A ferramenta foi lançada em 11 de dezembro e, atualmente, o SmartAcqua está em fase piloto em três empresas de saneamento básico. Os sócios não podem divulgar os nomes, mas ficam em cidades distintas do estado de São Paulo. Uma tem 100 mil habitantes, a segunda tem 205 mil e a terceira, maior, possui 430 mil moradores.

Em uma das cidades onde está sendo testada, a ferramenta identificou um prédio com consumo de água diferente dos outros da região, cujo potencial de consumo estava abaixo do esperado. O alerta foi dado a partir de dados socioeconômicos – bairro de classe média onde esperava-se que houvesse, por apartamento, quatro moradores – além de identificar as médias históricas nacionais. O software, então, recomendou uma inspeção. Nesse momento, descobriu-se que o prédio era uma república, com dois moradores apenas por apartamento, ou seja, com uma densidade menor do que o esperado. “Aquele endereço foge da média, mas conseguimos uma explicação. O sistema não vai mais mandar o inspetor novamente lá”, explica o CEO.

Em outro caso, uma casa grande, de luxo, com piscina, cachorro e jardim, tinha um baixo consumo de água. Em uma visita, constatou-se que a residência tinha um poço artesiano. “Com isso, entendemos o motivo para ele pagar pouco pela água, afinal não se cobra pela água do próprio poço, mas vimos que ele precisava pagar pelo esgoto. Assim, a companhia passou a cobrar a medição do esgoto”, explicou Samora.

Modelo de negócios

Por enquanto, a SmartAcqua cobra da empresa de saneamento básico uma taxa para instalação e configuração do sistema. Isso cobre a contratação na nuvem (AWS), por exemplo. O plano de implementação leva de seis a oito semanas. Em seguida, a cobrança é feita por número de ligações por mês. Para se ter uma ideia, é cobrada uma taxa entre R$ 1,50 a R$ 2 por hidrômetro para um município de 500 mil a 1 milhão de habitantes. “Mas é adaptável. Para cidades maiores temos a possibilidade de negociar os valores, em função do volume de dados”, explica Samora.

 

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