A ideia era dar visibilidade ao catador autônomo de recicláveis, promover sua autoestima e sensibilizar a sociedade para esses profissionais. Para isso, o artista e ativista (ou como prefere, artivista) paulistano Mundano começou a pintar as carroças dos catadores em 2007. Com o tempo, Mundano quis chegar a mais catadores e, em 2012 criou o coletivo Pimp My Carroça, e passou a convidar grafiteiros para embelezar suas carroças. Até então, já foram grafitadas mais de 2 mil delas. Em 2017 os ativistas deram um passo além e desenvolveram um aplicativo para fazer a ponte entre quem gera o material reciclado e os catadores. Simples, o Cataki (Android, iOS) é um banco de dados de catadores usado por quem gera o material para entrar em contato com o profissional mais próximo. Para essa solução os catadores não precisam de um smartphone. Basta um telefone de contato, fixo ou móvel. Atualmente, há 2.620 profissionais cadastrados de todo o País, e 3,5 mil agentes de reciclagem – como ecopontos, cooperativas, ferros-velhos, pontos de entregas e voluntários.
O Cataki já foi baixado mais de 210 mil vezes e, de acordo com uma pesquisa realizada pelo coletivo Pimp My Carroça, houve um aumento de 83% na renda dos catadores com carroça e de 64% dos profissionais motorizados. Dos entrevistados, 49% afirmaram que passaram a coletar mais quilos de materiais recicláveis em um dia em relação ao período anterior ao uso do app.
Novas funcionalidades no app
O próximo passo é incrementar o aplicativo com novos recursos. Ainda este mês, o Cataki ganha um novo layout. Para março, a ideia é desenvolver um perfil para o catador. Em seguida, as outras pontas da cadeia – o gerador e o comprador do material – terão seus perfis desenhados.
“Queremos gerar o rastro. Nossa maior dor é conseguir saber o quanto em volume de reciclagem acontece dentro do Cataki”, conta Renato Ruiz, CTO do Pimp My Carroça. Para ajudar a entender a quantidade de material reciclado, vão também implementar um botão de check-in de entregas onde será possível identificar o que está sendo vendido.
Futuramente, no aplicativo, também será possível fazer com que o profissional organize as coletas de modo a elaborar a rota para andar menos ou subir e descer menos ladeiras, por exemplo. Também será possível receber novas solicitações ou restringir um raio de atuação.
Porém, para que todas essas atualizações sejam feitas, o coletivo depende de mão de obra voluntária especializada. Em seu modelo de negócios, a Pimp My Carroça depende de patrocínio, mas também de pessoas que queiram ajudar a causa.
“Estamos criando uma métrica para a geolocalização, mas estamos à procura de parceiros com essa expertise de logística e de rotas. A ideia é que o catador defina o raio em que ele atua e, quando alguém solicitar os serviços de um profissional, o app mostra todos que trabalham nesse perímetro”, explica o CTO.
A plataforma também vai ajudar o gerador a selecionar um catador no mesmo formato dos apps de relacionamento. O match pode acontecer por conta da localização, por exemplo, ou pelo tipo de material com o qual o profissional trabalha.
Quem recebe esse material reciclável poderá fazer a gestão das compras, além de visualizar um histórico de tudo o que já foi adquirido.
“Queremos informar o real impacto do seu trabalho. A ideia é termos uma calculadora de impacto, mostrando quanto de emissão de carbono ele conseguiu reduzir, quanto de energia foi poupada, número de árvores e água economizadas”, explica Ruiz.
Futuro: a bancarização
Para que o aplicativo avance e receba novas ferramentas, o Pimp My Carroça conta com a colaboração de voluntários em diferentes áreas, inclusive de TI. Mas, apesar das atualizações chegarem aos poucos, Ruiz sonha com a possibilidade de transformar o app em um meio para bancarizar os catadores. “Estamos em negociação com algumas fintechs para conseguir um gateway de pagamento. Assim, o catador recebe diretamente na conta dele. Atualmente, eles recebem em espécie e muitos reclamam que acabam gastando”, explica.