A Huawei acredita que todas as acusações feitas contra seus equipamentos para a tecnologia 5G envolvem aspectos de guerra econômica, especialmente as patentes necessárias para o uso da tecnologia. A justificativa é que, hoje, a empresa chinesa detém 20% de todas as patentes essenciais usadas nos sistemas para o 5G. As informações foram prestadas em um workshop sobre 5G que aconteceu no escritório da fornecedora, em Brasília, nesta segunda-feira, 9.
Segundo Marcelo Motta, diretor de governança de cibersegurança global da Huawei, a empresa pagou entre 2015 e 2018 US$ 6 bilhões de direitos de patentes para terceiros, sendo que 80% deste valor foi para empresas americanas, tendo recebido no mesmo período US$ 1,4 bilhão sobre o uso das suas patentes. Motta diz que com a entrada do 5G este cenário inverte. “Como nós temos uma grande quantidade de patentes essenciais para a tecnologia, temos a inversão disso, sendo a Huawei a empresa que mais receberá por uso de patentes suas por terceiros”, afirma.
Motta também alegou que a empresa hoje pode estar pelo menos dois anos à frente das concorrentes em termos de desenvolvimento de tecnologia para uso eficiente do 5G. “A Huawei começou a investir em 5G em 2009. De lá até aqui, foram US$ 4 bilhões para o desenvolvimento da tecnologia”, destaca.
O diretor de cibersegurança ressalta que nenhuma das acusações contra a empresa até agora foram provadas pelo governo dos Estados Unidos, e as classifica de especulações. Motta destaca que os seus clientes, grandes operadoras mundiais, até agora não manifestaram nenhum problema com o uso dos seus equipamentos. “Nós temos um produto mais avançado que os dos competidores. Investimos forte em pesquisa e desenvolvimento e isso resultou em excelente produto. O cenário é: temos um número significativo de patentes essenciais para o 5G, temos um bom produto e tecnologia em escala para a implementação da tecnologia”, informou.
“Nós desenvolvemos uma tecnologia que hoje permite a qualquer operadora conseguir levar a conexão 5G para onde já existe o 4G. Isso cria uma eficiência econômica na migração”, pontua Motta.
Acusações
As principais acusações contra a empresa chinesa vêm do governo dos Estados Unidos. No último sábado, 7, a pressão com ameaças pelo bloqueio à Huawei no 5G voltou a acontecer durante encontro entre os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump. A alegação, mais uma vez, é que a presença da chinesa poderia ser um impedimento para o desenvolvimento de uma relação forte de cooperação na área de defesa e inteligência entre Brasil e EUA. A manifestação teria vindo de um assessor de alto escalão da Casa Branca em um briefing sobre o encontro e noticiado pela agência Reuters.
Na mesma data, a coluna do jornalista Lauro Jardim no Jornal O Globo relatou o que seria uma manifestação do Itamatary contra a entrada da empresa no leilão de 5G (sic) em um encontro ocorrido na terça-feira, 3, em que estavam também representantes da Abin e GSI. O órgão se posicionou formalmente num grupo que discute a participação da Huawei no leilão de 5G no final do ano. É importante destacar que a empresa chinesa jamais poderia participar do leilão das faixas do 5G porque não é uma operadora. Seus clientes, operadoras de serviços de telecomunicações, é que participariam.
Sobre os questionamentos feitos pelo governo brasileiro, Atilio Rulli, diretor de relações governamentais da companhia no Brasil, disse que todas as solicitações do governo à empresa sempre são respondidas de maneira clara e objetiva, sendo que até agora nenhum problema foi oficialmente comunicado à empresa.
Outros países
A ofensiva capitaneada pelos Estados Unidos contra a Huawei conseguiu forçar o Reino Unido a limitar a atuação da empresa no projeto de 5G em seus países. O secretário de relações exteriores do Reino Unido, Dominic Raab, apresentou no parlamento britânico em janeiro deste ano uma série de medidas que serão tomadas pelo governo para a segurança na infraestrutura de telecomunicações. Na prática, o governo limitou empresas como Huawei e ZTE à rede de acesso, impedindo a atuação em áreas mais críticas como core de rede.
Em fevereiro, representantes para cibersegurança e comunicações do Departamento de Estado dos EUA voltaram a pressionar países da União Europeia e o Reino Unido a respeito da participação da Huawei em redes 5G do continente. Mais uma vez, os norte-americanos sinalizaram que a anuência para atuação da chinesa deve impactar o compartilhamento de inteligência vinda dos EUA.
Novos negócios
No workshop que aconteceu na manhã desta segunda-feira, 9, Guillermo Solomon, diretor de business network consulting da Huawei para América Latina, apresentou potencialidades que o 5G pode trazer para o mercado de telecomunicações. Como exemplo, mencionou a venda de planos móveis que ofertam não somente capacidade, mas também velocidade e latência. “Na China, estão sendo apresentados planos para os consumidores que combinam pacotes de capacidade de dados, com velocidade e latência. Hoje, o mais comum, inclusive no Brasil, é ver planos de capacidade de dados para a telefonia móvel, de velocidade para as conexões fixas”, destacou Solomon.